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No Rio, tráfico cobra "imposto" do bujão de gás
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Traficantes de drogas do Rio
cobram nas favelas onde atuam
um "imposto", que pode variar de
R$ 2 a R$ 10, para que as famílias
recebam botijões de gás em casa.
O Disque-Denúncia recebeu nos
cinco primeiros meses deste ano
109 denúncias sobre a cobrança e
entregará nesta semana um relatório à Secretaria de Segurança
Pública do Estado.
Reportagem a respeito da cobrança do "imposto" foi publicada ontem no jornal carioca "Extra". Segundo a reportagem, baseada nas informações recebidas
pelo Disque-Denúncia, os traficantes coagem moradores e comerciantes a comprar gás em depósitos estabelecidos por eles
dentro das favelas, nos quais o
preço já inclui o "imposto". Outros revendedores seriam proibidos de entrar nessas áreas.
O coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, disse ontem
que as queixas sobre a extorsão
partiram de moradores de favelas
de diferentes bairros. Embora reclamações do tipo já tenham sido
feitas no passado, elas aumentaram a partir de 2003, com 130 denúncias em 12 meses -média de
10,8 denúncias mensais em 2003,
contra 21,8 por mês neste ano.
"Já havíamos recebido denúncias desse tipo de crime, mas neste
ano recebemos com muito mais
intensidade", afirmou Borges.
"Há duas formas: ou os traficantes têm parentes e cúmplices
para fazer a distribuição e obrigam os moradores a pagar o que
pedem, ou eles permitem que
apenas uma empresa distribua o
gás na comunidade", disse.
O coordenador falou que não há
"tarifa" média. A cobrança pode
ser de R$ 2 até R$ 10 a mais do que
o custo do botijão, hoje em torno
de R$ 30. Para Borges, a cobrança
tem aumentado por causa da
"pressão da polícia" sobre o tráfico. "Com a perda de dinheiro na
venda de drogas, eles buscam outras alternativas de lucro."
O coordenador do Disque-Denúncia disse não ter recebido nenhuma indicação de que exista
acordo entre as distribuidoras e
os traficantes. "Há depósitos que
têm ligações com o tráfico, mas as
distribuidoras não", disse.
A Folha tentou entrar em contato com o diretor de Relações
Institucionais do Sindigás, o sindicato das distribuidoras, mas
não havia conseguido localizá-lo.
A DRE (Delegacia de Repressão
a Entorpecentes) informou que
conduz investigações sobre a revenda de botijões de gás acima do
preço para moradores de favelas
do Rio. Segundo a DRE, na semana passada, um depósito clandestino de gás foi fechado na favela
de Acari (zona norte).
Para o prefeito do Rio, Cesar
Maia (PFL), a cobrança do "imposto" pelos traficantes enterra de
vez o mito do "traficante Robin
Hood", que ajudaria a população.
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