São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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No Rio, tráfico cobra "imposto" do bujão de gás

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Traficantes de drogas do Rio cobram nas favelas onde atuam um "imposto", que pode variar de R$ 2 a R$ 10, para que as famílias recebam botijões de gás em casa. O Disque-Denúncia recebeu nos cinco primeiros meses deste ano 109 denúncias sobre a cobrança e entregará nesta semana um relatório à Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Reportagem a respeito da cobrança do "imposto" foi publicada ontem no jornal carioca "Extra". Segundo a reportagem, baseada nas informações recebidas pelo Disque-Denúncia, os traficantes coagem moradores e comerciantes a comprar gás em depósitos estabelecidos por eles dentro das favelas, nos quais o preço já inclui o "imposto". Outros revendedores seriam proibidos de entrar nessas áreas.
O coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, disse ontem que as queixas sobre a extorsão partiram de moradores de favelas de diferentes bairros. Embora reclamações do tipo já tenham sido feitas no passado, elas aumentaram a partir de 2003, com 130 denúncias em 12 meses -média de 10,8 denúncias mensais em 2003, contra 21,8 por mês neste ano.
"Já havíamos recebido denúncias desse tipo de crime, mas neste ano recebemos com muito mais intensidade", afirmou Borges.
"Há duas formas: ou os traficantes têm parentes e cúmplices para fazer a distribuição e obrigam os moradores a pagar o que pedem, ou eles permitem que apenas uma empresa distribua o gás na comunidade", disse.
O coordenador falou que não há "tarifa" média. A cobrança pode ser de R$ 2 até R$ 10 a mais do que o custo do botijão, hoje em torno de R$ 30. Para Borges, a cobrança tem aumentado por causa da "pressão da polícia" sobre o tráfico. "Com a perda de dinheiro na venda de drogas, eles buscam outras alternativas de lucro."
O coordenador do Disque-Denúncia disse não ter recebido nenhuma indicação de que exista acordo entre as distribuidoras e os traficantes. "Há depósitos que têm ligações com o tráfico, mas as distribuidoras não", disse.
A Folha tentou entrar em contato com o diretor de Relações Institucionais do Sindigás, o sindicato das distribuidoras, mas não havia conseguido localizá-lo.
A DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) informou que conduz investigações sobre a revenda de botijões de gás acima do preço para moradores de favelas do Rio. Segundo a DRE, na semana passada, um depósito clandestino de gás foi fechado na favela de Acari (zona norte).
Para o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), a cobrança do "imposto" pelos traficantes enterra de vez o mito do "traficante Robin Hood", que ajudaria a população.


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