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Centralização de poder alimenta crise na USP
Discussões sobre implantação de representatividade proporcional no Conselho Universitário deverão ser feitas em 2010
Uma das propostas prevê ampliação do número de pessoas com poder de voto e alterar a distribuição dos votantes entre as unidades
FÁBIO TAKAHASHI
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos em um ponto,
professores titulares (o mais alto grau da carreira docente) e o
sindicato "vermelho" dos funcionários estão de acordo: o poder na USP precisa de oxigênio.
Se a crítica à rigidez dos órgãos de poder da universidade
sempre fez parte das reivindicações das entidades sindicais,
a diferença do momento atual é
que, pela primeira vez desde
1988, gente de dentro da própria direção da USP admite
que, do jeito que as coisas estão,
a universidade não consegue
refletir a diversidade da instituição, promover o diálogo e o
entendimento.
Até o Conselho Universitário, apontado como uma espécie de "órgão senatorial", quartel-general da velha guarda uspiana, já admitiu que é preciso
mudar a forma de eleição para
reitor. Para isso, designou uma
comissão encarregada de propor modificações no estatuto
da universidade. Essa mesma
comissão já propôs e conseguiu
aprovar mudanças na carreira
docente e na organização das
prefeituras dos campi.
O entendimento é que o sistema atual de eleição favorece
em demasia a representação
dos professores titulares em
detrimento das categorias inferiores de docentes, e das representações de funcionários e estudantes. No segundo turno da
eleição de reitor, por exemplo,
que decide a lista tríplice a ser
encaminhada para decisão final do governador, votam cerca
de 300 pessoas. Destas, a categoria com mais votos é a dos titulares, que tem um quinto de
todos os docentes da USP. No
total, a comunidade uspiana
conta com cem mil estudantes,
funcionários e professores.
Uma hipótese levantada é
ampliar o número de pessoas
com poder de voto no colégio
eleitoral. Também se estuda a
alteração na distribuição dos
votantes entre as unidades.
Hoje, as unidades têm praticamente o mesmo peso na votação, apesar de seus tamanhos
serem muito diferentes. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas e Escola Politécnica, por exemplo, possuem cada uma, cerca de 460
docentes, enquanto há unidades como o Instituto de Química de São Carlos, com 70.
A insatisfação com a atual estrutura de poder da USP já se
estendeu até mesmo a apoiadores de primeira hora da reitora
Suely Vilela.
É exemplo disso o diretor da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Sylvio Sawaya. Em
2007, durante a greve com invasão da reitoria, ele pessoalmente organizou e animou um
protesto pelo fim do movimento e pela volta à normalidade.
Agora, Sawaya trabalha com
um grupo de professores para
desenvolver uma plataforma
que, entre outros itens, prevê
um Conselho Universitário
com "representação mais equânime das categorias docentes e
representações proporcionais
ao número de alunos".
"A universidade está em uma
grande crise. Há muita insatisfação, que esse movimento
[grevista] ecoa. Não é revolta
por reajuste salarial, fim do ensino a distância, mudança na
carreira [reivindicações dos
grevistas]. É por mais debate na
universidade. E uma mudança
importante seria alteração na
forma de escolha para reitor. Já
na última eleição foi um ponto
destacado por todos os candidatos, mas não andou", disse o
professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Hélio Nogueira da
Cruz, ex-vice-reitor da USP.
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