São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2004

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TRANSPORTE

Orientação dos presidentes das cooperativas vale a partir de hoje e se deve a divergências na remuneração

Perueiros prometem recusar bilhete único

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os perueiros da cidade de São Paulo estão orientados a recusar a partir de hoje os pagamentos de tarifa feitos com bilhete único, cartão magnético que se tornou bandeira eleitoral da administração Marta Suplicy (PT) por permitir deslocamentos livres em ônibus e microônibus no período de até duas horas pelo preço de uma única passagem de R$ 1,70.
O boicote foi anunciado ontem à noite pelos presidentes das cooperativas que representam aproximadamente 5.000 operadores e que respondem por quase 30% das 5 milhões de viagens diárias do sistema de transporte municipal -os 70% restantes estão a cargo das viações de ônibus.
Os operadores autônomos de microônibus foram orientados a colocar cartazes informando a decisão, e os passageiros serão pressionados a pagar a viagem em dinheiro ou passe. Quem tiver apenas bilhete único no bolso poderá ser aconselhado a descer do veículo para pegar um ônibus.
O motivo da recusa é a divergência na remuneração que está sendo paga aos perueiros pela prestação dos serviços desde que a bandeira de campanha de Marta foi implantada, há dois meses.
O advogado Clóvis Alves de Souza, da Cooper Pam, afirma que a categoria é favorável ao bilhete único, mas que "a conta [do benefício aos passageiros] está sendo paga" pelas cooperativas, que alegam ter sofrido uma redução no que recebiam -em alguns casos, ela passaria de 40%.
Os presidentes das entidades que representam os perueiros, incluindo Guilherme Corrêa Filho (da Transcooper, com 2.980 integrantes), Luís Carlos Pandora (Cooper Pam, com 1.408) e Francisco de Mola Neto (Cooperpeople, com 504), dizem que os subsídios reservados pela gestão petista não estão sendo repassados aos autônomos, mas somente às viações -a verba orçamentária para 2004 atinge R$ 280 milhões.
Essas subvenções voltaram a ser pagas em 2003 para bancar as gratuidades dos idosos. A prefeitura alegava que muitos perueiros recusavam a viagem gratuita dessas pessoas porque não eram remunerados por esse transporte.
As cooperativas afirmam que, com a implantação do bilhete único, os perueiros passaram a receber da prefeitura uma quantia fixa de R$ 100 por dia. Eles também dizem ficar com as tarifas pagas em dinheiro e passe, mas todas as passagens pagas com bilhete único estariam sendo destinadas às empresas de ônibus.
Até a implantação do cartão, eles armazenavam toda a quantia arrecadada, mas tinham de pagar algumas taxas à prefeitura -a principal delas era um valor fixo diário de R$ 47,60 por veículo.
O problema dos perueiros cresceu por conta da adesão maciça dos paulistanos ao bilhete único -a prefeitura afirma que ele obteve a adesão de 57% dos passageiros em seu primeiro mês.
Os perueiros tentaram obter uma compensação da prefeitura em uma reunião realizada na terça-feira da semana passada, articulada, segundo eles, pelo vereador Milton Leite, do PMDB.
Eles dizem que, na ocasião, a Secretaria Municipal dos Transportes se comprometeu a pagar R$ 3.500 para cada operador, em parcelas, nas três semanas seguintes -sendo discutida posteriormente alguma solução definitiva.
A primeira parcela, de R$ 1.500, foi paga na quarta-feira passada. A segunda, de R$ 1.000, deveria ser paga hoje. Mas, depois de se reunirem ontem à tarde com Gerson Bittencourt, titular da pasta, e José Evaldo Gonçalo, presidente da SPTrans (órgão municipal que cuida do transporte), os líderes dos perueiros foram informados de que a gestão petista não faria novos depósitos -e negava ter se comprometido a fazê-los.
A recusa em manter a compensação levou as cooperativas à radicalização. A decisão de rejeitar os pagamentos com bilhete único foi repassada às garagens imediatamente após a reunião.


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