São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ADOLESCENTES INFRATORES

43 internos fugiram de unidade de alta contenção pela porta da frente; apenas 8 foram recapturados

Febem reforçada tem fuga em massa

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O que deveria ser uma unidade de alta contenção da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo, com maior isolamento de internos problemáticos e muros mais altos, passou pelo primeiro teste, e o resultado foi negativo.
Dos 114 internos da unidade 37 do complexo Raposo Tavares, na capital paulista, 43 (37,7%) escaparam pelo portão da frente anteontem à noite. Apenas oito haviam sido recapturados até a noite de ontem, segundo a Febem.
Um segurança terceirizado, um monitor e três adolescentes tiveram ferimentos leves durante a rebelião, iniciada após a fuga.
A unidade 37 faz parte do grupo de cinco novos estabelecimentos da fundação anunciados pelo governo paulista para abrigar jovens com perfil reincidente grave, na maioria remanescentes das unidades 30 e 31 de Franco da Rocha (Grande SP), já desativadas.
Com o objetivo de dar um tratamento diferenciado para adolescentes considerados mais perigosos, o governo construiu cinco unidades -duas na Raposo Tavares, duas na Vila Maria e uma no Tatuapé, todas em São Paulo.
O maior isolamento, nesse novo perfil, seria uma medida de segurança contra rebeliões e fugas e permitiria um atendimento pedagógico mais direto. Essas unidades têm 75 quartos e poderiam abrigar 150 internos.
Mas, por segurança, a Febem diz que decidiu não preencher essa capacidade para permitir que alguns internos ficassem em dormitórios isolados. A superlotação aumentaria o risco de rebeliões e fugas, principalmente em relação a internos mais problemáticos.
Os muros dessas cinco unidades também são mais altos. Medem sete metros, enquanto nas outras unidades têm, em média, cinco metros de altura.
O prédio também foi projetado para evitar que os internos cheguem ao telhado da unidade. E a estrutura é mais forte para impedir que os jovens destruam o concreto para retirar as barras de ferro usadas na confecção de armas.

Primeira fuga
O novo prédio da unidade 37 -que funcionava improvisadamente em um centro olímpico, também no complexo Raposo Tavares- foi inaugurado em fevereiro deste ano.
Segundo a Febem, essa foi a primeira fuga no local. Não houve ajuda externa. Por volta das 22h30 de anteontem, um grupo de jovens, armados com barras de ferro e facas improvisadas, rendeu vários funcionários, chegou ao pátio e saiu pelo portão da frente.
Dos 17 funcionários do plantão, apenas nove estavam no local por causa da greve da categoria, iniciada no último dia 2.
O grupo de apoio da Febem -conhecido como "choquinho"- e a Polícia Militar foram acionados e os internos que ficaram começaram uma rebelião.
Doze funcionários foram feitos reféns. A rebelião só foi controlada à 1h15 de ontem. Seis internos com mais de 18 anos foram levados para a delegacia para serem indiciados por incitação à greve e formação de quadrilha.
A unidade 37 é investigada pelo Ministério Público desde o começo do ano, quando ainda estava nas instalações do centro olímpico. Segundo depoimento de internos e de mães, os jovens eram obrigados a ficar o dia inteiro sentados, sem falar ou se mexer.
Se não obedecessem, eram agredidos. Também há relatos de espancamentos de internos, segundo o promotor da Infância e Juventude Enilson Komono. As denúncias estão sendo investigadas. "A prometida contenção não foi a esperada. Só estrutura física, sem corpo funcional adequado, não resolve o problema", disse.


Texto Anterior: Há 50 anos: Acaba a guerra na Indochina
Próximo Texto: Para sindicato, blindagem não contém internos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.