São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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BARBARA GANCIA

E eu com a Amazônia?

Um esporte que crianças e especialistas são capazes de discutir de igual para igual não merece ser levado a sério

VOLTO DE uma semana abençoada em Belém do Pará direto para o Barbaridades & Extravagâncias, o bate-papo que conduzo às segundas no UOL. Minha cabeça ainda está ocupada com o trabalho do ambientalista João Meirelles Filho, meu anfitrião em Belém, que ajuda a desenvolver comunidades sustentáveis na Amazônia.
O internauta é impiedoso. Ele não quer falar sobre os caminhões carregados de madeira retirada de forma ilegal da floresta que circulam livremente por Belém a caminho do porto. Também está pouco se lixando para o fato de que o desmatamento da Amazônia já equivale a uma área do tamanho da superfície de toda a região sul do país. Para melhor compreender o que isso significa, peço ao meu interlocutor eletrônico que trace uma linha imaginária de 200 km de largura, indo de Porto Alegre a Vitória. Esse é o vulto do estrago causado pelo homúnculo tapuia nos últimos 50 anos.
Mas, não. O cliente do Barbaridades & Extravagâncias está mais interessado em saber o que achei da cabeçada de Zidane em Materazzi. Respondo que um esporte que crianças e especialistas são capazes de discutir de igual para igual não merece ser levado a sério. A maioria dos internautas que participa do bate-papo acha que Zidane e Materazzi erraram na mesma medida. Tento colocar algum senso comum na cabeça da turma: Materazzi não quebrou as regras, Zidane, sim. Começo a falar da desgraça que a pecuária representa para a Amazônia, faço menção ao documentário "A Carne é Fraca" e ao depoimento dado por João Meirelles Filho no filme. Revelo aos internautas que as idéias ali apresentadas pelo ambientalista surtiram o efeito de reformular meus hábitos alimentares e me levaram a Belém para conhecê-lo.
Não é pouca coisa uma gordinha que se deixa seduzir por um pão francês qualquer com lingüiça enfiar na cabeça que o ato político mais importante que ela é capaz de empreender é a sua compra mensal de supermercado. Os internautas não se comovem. Em vez de a conversa caminhar para o custo da destruição da floresta amazônica, que não é repassado à carne que é exportada, chovem perguntas sobre o episódio Fernando Vanucci.
Bem, na minha modestíssima opinião, esse caso representa uma virada de página. Antes da internet e dos telefones celulares que registram imagens, a entrada no ar de um apresentador que pode ter bebido e/ou tomado remédios iria gerar comentários isolados. Quem viu, viu. Hoje, com sites como o You Tube, em que qualquer um pode deixar suas imagens registradas, a menor das transgressões será assistida por milhões, obrigando as celebridades que antes eram desprezadas pelos paparazzi a andar de antenas ligadas 24 horas. Vanucci paga o preço por ter sido a primeira vítima brasuca em grande escala do You Tube. Mas, certamente, outras virão.

Dá-lhe, Silvio Santos!
O "Programa do Ratinho", que agora passa por controle de qualidade, teve uma entrevista com Paulo Maluf vetada. Como se vê, nem tudo é desalento neste mundão de meu Deus...


barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia


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