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BARBARA GANCIA
E eu com a Amazônia?
Um esporte que crianças e especialistas são capazes de discutir de igual para igual não merece ser levado a sério
VOLTO DE uma semana abençoada em Belém do Pará direto para o Barbaridades & Extravagâncias, o bate-papo que conduzo às segundas no UOL. Minha
cabeça ainda está ocupada com o
trabalho do ambientalista João Meirelles Filho, meu anfitrião em Belém, que ajuda a desenvolver comunidades sustentáveis na Amazônia.
O internauta é impiedoso. Ele não
quer falar sobre os caminhões carregados de madeira retirada de forma
ilegal da floresta que circulam livremente por Belém a caminho do porto. Também está pouco se lixando
para o fato de que o desmatamento
da Amazônia já equivale a uma área
do tamanho da superfície de toda a
região sul do país. Para melhor compreender o que isso significa, peço
ao meu interlocutor eletrônico que
trace uma linha imaginária de 200
km de largura, indo de Porto Alegre
a Vitória. Esse é o vulto do estrago
causado pelo homúnculo tapuia nos
últimos 50 anos.
Mas, não. O cliente do Barbaridades & Extravagâncias está mais interessado em saber o que achei da cabeçada de Zidane em Materazzi.
Respondo que um esporte que
crianças e especialistas são capazes
de discutir de igual para igual não
merece ser levado a sério. A maioria
dos internautas que participa do bate-papo acha que Zidane e Materazzi erraram na mesma medida. Tento
colocar algum senso comum na cabeça da turma: Materazzi não quebrou as regras, Zidane, sim. Começo
a falar da desgraça que a pecuária representa para a Amazônia, faço
menção ao documentário "A Carne
é Fraca" e ao depoimento dado por
João Meirelles Filho no filme. Revelo aos internautas que as idéias ali
apresentadas pelo ambientalista
surtiram o efeito de reformular
meus hábitos alimentares e me levaram a Belém para conhecê-lo.
Não é pouca coisa uma gordinha
que se deixa seduzir por um pão
francês qualquer com lingüiça enfiar na cabeça que o ato político mais
importante que ela é capaz de empreender é a sua compra mensal de
supermercado. Os internautas não
se comovem. Em vez de a conversa
caminhar para o custo da destruição
da floresta amazônica, que não é repassado à carne que é exportada,
chovem perguntas sobre o episódio
Fernando Vanucci.
Bem, na minha modestíssima opinião, esse caso representa uma virada de página. Antes da internet e dos
telefones celulares que registram
imagens, a entrada no ar de um
apresentador que pode ter bebido
e/ou tomado remédios iria gerar comentários isolados. Quem viu, viu.
Hoje, com sites como o You Tube,
em que qualquer um pode deixar
suas imagens registradas, a menor
das transgressões será assistida por
milhões, obrigando as celebridades
que antes eram desprezadas pelos
paparazzi a andar de antenas ligadas
24 horas. Vanucci paga o preço por
ter sido a primeira vítima brasuca
em grande escala do You Tube. Mas,
certamente, outras virão.
Dá-lhe, Silvio Santos!
O "Programa do Ratinho", que agora passa por controle de qualidade,
teve uma entrevista com Paulo
Maluf vetada. Como se vê, nem
tudo é desalento neste mundão de
meu Deus...
barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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