São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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Funcionários reclamam de trabalho extra

Com as longas sessões do julgamento do caso Richthofen, fiscais e auxiliares da lanchonete tiveram a jornada estendida

Aficcionado por chocolates, o juiz Alberto Anderson Filho distribuiu doces para os 7 jurados e até mesmo para uma das testemunhas


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

Suzane von Richthofen é culpada. De matar os pais e de fazer o pessoal da lanchonete trabalhar até mais tarde (20h30, quando o normal é 18h30). "Por causa dela, a gente tá se matando", diz a chapeira do fórum.
Em compensação, os irmãos Cravinhos fazem o maior sucesso com a turma dos sanduíches. "Eles são lindos. Não vai faltar mulher dentro da cadeia para namorá-los", afirma a mesma funcionária, sem se identificar. ""Vê só como eles choram. Tenho certeza de que estão arrependidos."
A lanchonete fica no andar de cima do plenário 10, onde estão 300 pessoas, entre advogados, estudantes de direito, jornalistas e curiosos acompanhando o julgamento -"Gente que curte "Sexta-Feira 13"", caracteriza Eduardo de Moraes, 34, funcionário do fórum, um dos 16 encarregados da fiscalização.
"Ontem, a gente chegou às 9h e só saiu depois da meia-noite", relatou Iacy José de Salles, 31, também fiscal. A função dessa turma é difícil. Eles passam o detector de metais em todo mundo que entra no plenário -e é muito entra-e-sai.
Os jornalistas não podem entrar com câmeras fotográficas ou celulares no plenário. Se Cristian chora, Nacif tem uma crise de bronquite, Suzane assoa o nariz, os jornalistas correm para fora do plenário para transmitir as notícias. Na volta, são, de novo, revistados, passam-lhes detectores de metais.
O juiz Alberto Anderson Filho adora chocolates. Na rotina monástica cumprida pelos jurados (eles ficam sentados horas a fio, prestando atenção, não podem cochilar nem conversar, dormem no próprio fórum e não podem usar telefone, internet ou assistir à TV), o juiz adoça as vidas dos sete que decidirão o destino de Suzane e dos irmãos Cravinhos, oferecendo-lhes chocolate.
Não porque a bóia servida aos jurados seja ruim. Ontem, por exemplo, eles almoçaram panqueca de carne com arroz à grega; à noite, jantariam pizza. Sempre com refrigerantes e sobremesas.
Às vezes, o chocolate do juiz estende-se a testemunhas. A simpática Fernanda Soel Kitahara, 22, chamada a depor pela defesa de Suzane, e que foi saudada pelo promotor Roberto Tardelli com a interjeição "Nossa, Fernanda, como você cresceu", recebeu um convite insólito do juiz, terminada sua inquirição: ""Depois, passa na minha sala". A platéia estranhou e Anderson Filho apressou-se a explicar: ""É que ela disse que gosta de chocolate e eu ofereci um a ela".
O plenário tem uma espécie de palco, onde se sentam os jurados, o juiz e os estenógrafos, e onde se movimentam os promotores e advogados. E como se movimentam.
O advogado dos irmãos Cravinhos, Adib Geraldo Jabur, caminha o tempo todo em torno das testemunhas, atividade só interrompida por gritos de protesto contra o defensor de Suzane, Mauro Otávio Nacif.
Nacif por seu lado, prefere postar-se ao lado dos jurados, exatamente o oposto ao de onde deveria ficar.
Em várias oportunidades, o advogado de Suzane confundiu-se em relação ao nome da testemunha. Sendo mulher, tinha grande chance de levar um "dona Marísia...", no início da conversa -esse é o nome da mãe morta de Suzane.


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