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PERIGO EM CASA
Agressões por familiares são principal causa de lesões em mulheres de 15 a 44 anos no mundo, segundo a ONU
Violência no lar é o que mais fere mulher
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Qual o lugar mais seguro para
mulheres e crianças, suas próprias
casas ou a rua? Para milhões de vítimas da violência doméstica, a
casa, em vez de ser sinônimo de
proteção e segurança, é motivo de
ameaça à integridade física e até à
vida. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a violência doméstica é a principal causa
de lesões em mulheres entre 15 e
44 anos no mundo.
Nos EUA, as agressões em casa
fazem mais vítimas entre as mulheres do que a soma dos ferimentos causados por acidente de carro, estupro e assaltos.
No Brasil, onde só neste ano se
fez pesquisa nacional para detectar a extensão do problema, a situação também é grave. Levantamento do Movimento Nacional
pelos Direitos Humanos constatou que 66,3% dos acusados de
homicídios contra mulheres em
95 e 96 eram seus parceiros.
Pesquisa coordenada pela advogada Sílvia Pimentel (que analisou
150 processos sobre crimes de violência sexual contra mulheres, em
São Paulo) chegou a conclusão semelhante: em 70% dos casos analisados, as vítimas conheciam seus
estupradores.
Além dos resultados óbvios
-desestruturação da família e
desrespeito a direitos básicos, como integridade física-, a violência doméstica contra a mulher tem
mais uma consequência nefasta: o
prejuízo financeiro.
Segundo estudo do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), uma em cada cinco mulheres que faltam ao trabalho o fazem por terem sofrido agressão física. No Canadá, a violência doméstica custa ao país anualmente
US$ 1,6 bilhão. Nos EUA, o prejuízo estimado varia entre US$ 10 bilhões e US$ 67 bilhões por ano.
Para chamar atenção para o drama dos que são reféns da violência
em suas próprias casas, a ONU
lançará na próxima quinta-feira o
Pacto Comunitário Contra a Violência Intrafamiliar, que já tem a
adesão de mais de 80 entidades,
entre as quais a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, a Anistia Internacional e a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil).
Depois das mulheres, as crianças
são as principais vítimas da agressão dentro de casa. Só nos EUA,
cerca de 3,3 milhões de crianças e
adolescentes são expostos à violência doméstica a cada ano.
Pesquisa do Departamento de
Justiça norte-americano feita em
96 constatou que 20% dos autores
de homicídios contra crianças são
membros da família. Embora não
haja estatísticas no Brasil, os estudos regionais mostram claramente que as crianças também são alvo fácil da violência doméstica.
Levantamento realizado em São
José do Rio Preto (SP), por exemplo, constatou que 52,8% das
crianças matriculadas no 1º grau
em 94 haviam sofrido algum tipo
de ferimento imposto pelos pais.
Dados levantados a partir dos
casos que chegam ao SOS Criança
de São Paulo - serviço que abriga
crianças em situação de risco-
comprovam a gravidade do problema: 64% das denúncias de
agressão física têm origem em casa. Parentes foram os autores de
75% das agressões sexuais contra
menores registradas entre 88 e 93.
No ano passado, o SOS Criança
atendeu 15.523 crianças vítimas de
violência (física, psicológica ou sexual) e negligência, mas Rosângela Zanetti, coordenadora do órgão, calcula que o número de
crianças agredidas em casa seja
muito maior.
"A experiência nos ensinou que
a maioria das crianças que vivem
na rua saíram de casa por causa da
violência doméstica. Para medir o
tamanho da violência intrafamiliar no Brasil, basta olhar para a
quantidade de crianças que vivem
nas ruas", diz.
A idéia de trocar a casa pelas
ruas para se proteger da violência
não ocorre apenas no Brasil. Investigação do Senado norte-americano em 91 concluiu que metade
das mulheres e crianças sem-teto
dos EUA vive nas ruas por causa
da violência doméstica.
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