São Paulo, terça, 21 de julho de 1998

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OPINIÃO
Os novos erros da imprensa

AFANASIO JAZADJI
A imprensa e a mídia eletrônica do Brasil cometem novos erros, no desespero de tentar apagar a imagem criada por falhas num passado recente. Se certa forma de noticiar e comentar os fatos provocou danos irreparáveis a pessoas indevidamente envolvidas em ocorrências de grande repercussão, também acaba havendo exagero na tentativa do setor jornalístico de limpar sua barra.
Nesse cenário, a imprensa acaba fazendo o jogo do inimigo. No passado, os erros ocorreram porque repórteres e redatores não apuraram ou não checaram melhor as informações e porque apresentadores e comunicadores se apressaram em opinar.
No momento do mea-culpa, a imprensa endossa crimes e acaba servindo de inocente útil, por exemplo, para difusores de boataria, como aconteceu no recente episódio da atriz Glória Pires.
O caso é gritante. Em vez de fazer esquecer o boato, a mídia atua como sua aliada, reverberando e espalhando a intriga. É como se um médico, para corrigir o próprio erro, aumentasse as doses de medicamento até matar o paciente.
No caso da Escola Base, há alguns anos, a imprensa se imolou injustamente. Jornalistas apressados e pseudo-autocríticos insistiram em levar em conta uma possível falha da imprensa ao prejulgar, quando, na verdade, foi um delegado incompetente e inescrupuloso quem induziu a mídia ao erro.
Qual jornalista ou radialista não teve pela frente um zeloso chefe de reportagem que exigia "provas" para a veiculação da notícia? No caso da Escola Base, havia um boletim de ocorrência com denúncias de mães de alunos contra os donos da escola. Havia também um inquérito policial em andamento e até as declarações do afoito delegado, esse, sim, criminoso. Fazia questão de aparecer, com denúncias fortíssimas: incriminava pessoas que, mais tarde, surgiram como totalmente inocentes das acusações de abuso sexual.
Cadê a culpa da imprensa? Ela reporta, registra, documenta fatos. Não os inventa nem tem poderes para investigar, o que compete à polícia. O caso da Escola Base, que entrou indevidamente para os anais dos grandes erros da imprensa, não existiria sem a participação de uma fonte, o delegado.
A pixotada de agora, que está sendo capitalizada como publicidade para Glória Pires, acaba sendo bem pior. As pseudovítimas do boato apareceram em TVs, rádios, jornais e revistas para desmentir o noticiado ou comentado.
Os comunicólogos, repito, passam recibo. Com juros e correção, dando força de propagação ao boato. Ensina-se a praticar o crime, estimula-se o criminoso. Outra vez, surge o remédio que mata.


Afanasio Jazadji, 44, é deputado estadual pelo PFL, membro efetivo da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa e presidente da CPI que investiga o crime organizado em SP


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