São Paulo, Quarta-feira, 21 de Julho de 1999
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EDUCAÇÃO
Projeto de ensino rural ajusta carga horária ao regime de chuvas para não prejudicar os estudantes
Escola se adapta ao clima na Amazônia

LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém

As cheias do rio Solimões obrigaram os estudantes das ilhas do Baixio, Paciência e Iranduba, no Amazonas, ligados ao projeto do Ipram (Instituto Politécnico Rural da Amazônia), a pararem suas aulas por cerca de 20 dias. Somente daqui dez dias, eles voltam às aulas.
"Agora é que o piso das salas começa a aparecer e a comunidade começa a limpar e arrumar as coisas", conta a diretora do Ipram, Leny Delamuta Melo.
Mas a pausa nos estudos não é problema, afirma Leny. O programa SAT (Sistema de Aprendizagem Tutorial), coordenado pelo Ipram, leva em conta as condições regionais da Amazônia.
Os cursos são divididos em três ciclos, que vão da 5ª série até o fim do 2º grau, cumprindo a carga horária de 800 horas anuais exigida pelo MEC (Ministério da Educação), mas adaptando-a à realidade regional.

Ajustes
O programa tenta respeitar as condições do local, como as cheias e a economia da comunidade. Nos tempos de colheita, por exemplo, os horários das aulas mudam.
"Nosso programa começou em 1990, quando oferecíamos as aulas na sede do Ipram, mas percebemos que o ideal era irmos até o aluno e não tirá-lo da comunidade", afirma Leny.
Há dois anos, 196 alunos entre 13 e 18 anos cursam os ciclos. Boa parte dos professores é da própria comunidade. Eles são orientados por profissionais especializados.
Além de ribeirinhos, o SAT é aplicado na comunidade indígena mundurucu, em Borba (15 horas de barco de Manaus). "Antes, os jovens índios se afastavam ainda mais da comunidade, indo completar o estudo em Manaus", lembra Leny.
Para tentar resgatar a cultura indígena perdida, o SAT incentiva as aulas com os índios mais velhos que ainda falam mundurucu. Os coordenadores do Ipram têm ainda a intenção de fazer um intercâmbio com comunidades mundurucu do Pará.
Segundo Leny, o custo do SAT é metade do preço de um curso tradicional, chegando a R$ 40 por mês por aluno. Além das disciplinas obrigatórias do MEC, o SAT inclui três outras matérias: tecnologia para a comunidade, agropecuária e serviços educacionais e de saúde.
O objetivo dessas disciplinas é tornar os estudantes aptos a prestar serviços úteis à comunidade.
Idealizado pela Fundação para Aplicação e Ensino das Ciências da Universidade Rural de Cali (Colômbia), o SAT é utilizado em vários países da América Latina como Peru, Argentina, Guatemala, Bolívia e Haiti.


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