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EDUCAÇÃO
Projeto de ensino rural ajusta carga horária ao regime de chuvas para não prejudicar os estudantes
Escola se adapta ao clima na Amazônia
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
As cheias do rio Solimões obrigaram os estudantes das ilhas do
Baixio, Paciência e Iranduba, no
Amazonas, ligados ao projeto do
Ipram (Instituto Politécnico Rural da Amazônia), a pararem suas
aulas por cerca de 20 dias. Somente daqui dez dias, eles voltam às
aulas.
"Agora é que o piso das salas começa a aparecer e a comunidade
começa a limpar e arrumar as coisas", conta a diretora do Ipram,
Leny Delamuta Melo.
Mas a pausa nos estudos não é
problema, afirma Leny. O programa SAT (Sistema de Aprendizagem Tutorial), coordenado pelo
Ipram, leva em conta as condições regionais da Amazônia.
Os cursos são divididos em três
ciclos, que vão da 5ª série até o fim
do 2º grau, cumprindo a carga horária de 800 horas anuais exigida
pelo MEC (Ministério da Educação), mas adaptando-a à realidade regional.
Ajustes
O programa tenta respeitar as
condições do local, como as
cheias e a economia da comunidade. Nos tempos de colheita, por
exemplo, os horários das aulas
mudam.
"Nosso programa começou em
1990, quando oferecíamos as aulas na sede do Ipram, mas percebemos que o ideal era irmos até o
aluno e não tirá-lo da comunidade", afirma Leny.
Há dois anos, 196 alunos entre
13 e 18 anos cursam os ciclos. Boa
parte dos professores é da própria
comunidade. Eles são orientados
por profissionais especializados.
Além de ribeirinhos, o SAT é
aplicado na comunidade indígena mundurucu, em Borba (15 horas de barco de Manaus). "Antes,
os jovens índios se afastavam ainda mais da comunidade, indo
completar o estudo em Manaus",
lembra Leny.
Para tentar resgatar a cultura indígena perdida, o SAT incentiva
as aulas com os índios mais velhos que ainda falam mundurucu.
Os coordenadores do Ipram têm
ainda a intenção de fazer um intercâmbio com comunidades
mundurucu do Pará.
Segundo Leny, o custo do SAT é
metade do preço de um curso tradicional, chegando a R$ 40 por
mês por aluno. Além das disciplinas obrigatórias do MEC, o SAT
inclui três outras matérias: tecnologia para a comunidade, agropecuária e serviços educacionais e
de saúde.
O objetivo dessas disciplinas é
tornar os estudantes aptos a prestar serviços úteis à comunidade.
Idealizado pela Fundação para
Aplicação e Ensino das Ciências
da Universidade Rural de Cali
(Colômbia), o SAT é utilizado em
vários países da América Latina
como Peru, Argentina, Guatemala, Bolívia e Haiti.
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