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BELEZA ENCARCERADA
No Rio, concurso disputado por 17 presas teve até torcida organizada
Portuguesa é eleita miss Bangu
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A portuguesa Elizabeth Sardinha, 30, venceu o primeiro concurso de beleza do maior complexo penitenciário do Rio, o de
Bangu. Ela derrotou 16 concorrentes (duas delas estrangeiras)
e foi eleita ontem "Garota TB
2004". A sigla refere-se ao presídio feminino Talavera Bruce,
que viveu dias agitados enquanto aguardava a escolha da mais
bela dentre as 310 detentas.
Como uma miss convencional, a portuguesa emocionou-se
com os aplausos da platéia
-composta, em sua quase totalidade, por presidiárias e agentes penitenciárias-, e disse que
havia outras mais belas. "Talvez
eu seja a mais simpática."
A socialite Vera Loyola, única
celebridade presente, participou do júri e coroou a eleita. Loyola disse que foi a primeira vez
que entrou em um presídio e
que foi "dar colo" às presas. Sem
conhecer as detentas, anunciou
que escolheria a que fosse mais
bela "por dentro e por fora".
As três primeiras colocadas
cumprem pena por tráfico de
drogas. Elizabeth Sardinha foi
condenada a quatro anos de prisão, e, segundo ela, faltam dez
meses para obter liberdade condicional. Ela foi presa no aeroporto com 600 gramas de cocaína quando seu vôo, que ia de de
Lima (Peru) para Madri (Espanha), fez uma escala no Rio. Ela
disse que espera voltar a trabalhar como esteticista em Lisboa.
A segunda e a terceira colocadas são as cariocas Kátia Salete,
22, e Bárbara Freitas, 21. A primeira é mãe de cinco filhos
(com idades entre sete e um
ano) e a única negra entre as primeiras colocadas.
Bárbara era uma das preferidas das presas. Loura e de olhos
verdes, teve torcida e até cartaz.
"Inha, inha, inha, a Bárbara é
uma rainha", gritavam elas a cada entrada da candidata.
O concurso foi organizado pelo jornal "Só Isso", editado pelas
presas. Das 17 candidatas, três
eram estrangeiras: uma boliviana, uma angolana e a portuguesa. Desfilaram de shorts, de canga e camiseta e de vestido social.
A advogada Jorgina de Freitas,
condenada a 14 anos de prisão
por fraude contra a Previdência,
parecia mãe de miss: orientava a
entrada e a saída das candidatas
e emprestou vestidos de noite
para duas moças.
No Talavera Bruce, a maioria
das mulheres tem entre 25 e 35
anos, é solteira e não concluiu o
primeiro grau. Das 310 presas,
24 são estrangeiras condenadas
por narcotráfico. A alemã Sabrina Hagel, 25, uma das organizadoras do jornal e do concurso,
está presa com a mãe, Angela.
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