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GUERRA URBANA
Aparelho telefônico liga PCC a perueiros
Polícia de São Paulo diz ter encontrado o que seria a primeira prova material de ligação entre a categoria e o grupo criminoso
Telefone foi achado em delegacia atacada pela facção e faz parte de um lote comprado pela Associação Paulistana Garagem 2
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia de São Paulo diz ter
encontrado o primeiro elo material a ligar a facção criminosa
PCC (Primeiro Comando da
Capital) com perueiros.
Um aparelho telefônico da
operadora Nextel pertencente
a uma cooperativa de perueiros
foi encontrado em uma delegacia de polícia de Suzano (cidade
da Grande São Paulo) atacada
por integrantes do grupo criminoso. O ataque ocorreu no dia 7
de abril deste ano.
Um Astra e um Omega pararam diante da delegacia e deles
desceram seis homens armados com metralhadora, fuzil,
espingarda e pistola. Como a
delegacia havia sofrido um ataque antes, no dia 26 de março,
havia 14 policiais do Garra
(Grupo Armado de Repressão a
Roubos e Assaltos) escondidos
num bar à frente da delegacia.
Na refrega, quatro integrantes do grupo de assalto à delegacia morreram e outros dois
conseguiram escapar. Dois policiais ficaram feridos. Duas
granadas foram achadas num
terceiro carro que dava cobertura. O Nextel foi encontrado
nesse cenário de guerra.
Gilmar da Hora Lisboa, uma
espécie de gerente do PCC em
Suzano conhecido como Pebinha, estava preso na delegacia.
O telefone encontrado faz
parte de um lote de 12 comprado pela Associação Paulistana
Garagem 2, segundo o delegado
Murilo Fonseca Roque, da 7ª
Delegacia Seccional. A Garagem 2, como é chamada, é um
grupo de 215 perueiros que não
tem existência legal para a prefeitura -são associados a uma
cooperativa, a Associação Paulistana, que venceu a licitação e
repassou parte de sua área. Esse repasse é considerado ilegal
pela Secretaria Municipal de
Transportes.
O elo entre a Garagem 2 e o
PCC é Cléber Coca, 34, segundo perueiros ouvidos pela polícia. Ele dirige a cooperativa
mesmo sem ter um cargo formal na associação.
Resposta
Coca negou à polícia que fizesse parte da facção, disse que
nunca pagou propina à prefeitura, mas contou ter participado de reuniões com Jilmar Tatto, secretário de Transportes
no governo de Marta Suplicy
(2001-2004). Tatto disse não se
lembrar de Coca porque participou de inúmeras reuniões
com os perueiros, categoria que
tem mais de 6.000 profissionais registrados em São Paulo.
Há outros indícios de que
Coca integra a facção criminosa. A polícia investiga a Garagem 2 sob a acusação de que ele
extorquiria os motoristas, cobrando taxas que chegam a R$
600 ao mês. Quem não paga, é
excluído da cooperativa. A vaga
fica com um dos "irmãos da cadeia", como são chamados os
integrantes do PCC que estão
presos. As vagas podem também ser vendidas, por valores
que variam de R$ 15 mil a R$ 20
mil.
Perueiros ouvidos pelo delegado Roque contam que a ligação de Coca com o PCC não é recente. Em maio de 2003, a
polícia prendeu Antonio Müller Jr. com maconha e cocaína.
Juninho Granada, como Müller Jr. é conhecido, havia sido
condenado a 20 anos de prisão
por furtos e roubos, mas conseguira fugir e presidia a cooperativa de perueiros Transmetro
com um nome falso. Quem sucedeu Juninho Granada na
presidência da Transmetro foi
Coca, segundo depoimentos de
perueiros no inquérito policial.
Fachada
A Garagem 2, ainda segundo
os perueiros ouvidos, é o novo
nome da Transmetro, uma "fachada", termo usado por um
deles. A reunião que criou a Garagem 2, descrita no inquérito,
reuniu cerca de cem perueiros
numa praça da zona leste, sob o
comando de dirigentes do PCC.
Juninho Granada está preso
há três anos, mas continua a comandar parte dos perueiros,
segundo a polícia. Tanto que é
chamado pelos seus pares de "o
secretário dos transportes do
PCC". Foi Juninho Granada, de
acordo com a polícia, quem deu
a ordem para integrantes da
facção resgatarem quatro presos em Santo André em março
deste ano -a tentativa fracassou. A polícia diz ter indícios de
que a operação foi financiada
por perueiros que se reúnem
na Garagem 2 da Cooperpam,
na zona sul da cidade.
No mês passado, a polícia
prendeu o presidente da Cooperpam, Luiz Carlos Efigênio
Pacheco, 37, o Pandora, e Francisco Alves Bizerra, tesoureiro
de uma cooperativa clandestina chamada Coopermix. A
Cooperpam é a maior cooperativa do gênero em São Paulo
-reúne 1.350 perueiros. Após a
prisão da dupla, a prefeitura
suspendeu os pagamentos para
a Garagem 2 da Cooperpam.
A polícia achou na sede dessa
cooperativa um CD com rap de
apologia ao PCC, além de um
revólver e uma espingarda.
Mais impressionante do que
as duas armas talvez seja uma
estatística: dos 20 motoristas
que estavam na garagem naquele momento, 14 -o equivalente a 70%- tinham passagem
na polícia por roubo, furto, receptação e estelionato.
No último mês, o prefeito
Gilberto Kassab baixou um decreto que exige que motoristas,
cobradores, permissionários e
concessionários só podem ingressar no sistema de transportes após apresentar atestado de
antecedentes. O decreto pode
ser lido pelo avesso: só agora a
prefeitura passou a vetar entre
os perueiros os que estão sendo
procurados pela polícia.
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