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Piloto da TAM admite ter feito procedimento não-recomendado
DA REPORTAGEM LOCAL
O piloto Marco Aurélio Incerti de Lima admitiu ontem,
em depoimento no 27º DP
(Campo Belo), ter executado
um procedimento não-recomendado para pousar o Airbus-A320 da TAM no aeroporto de
Congonhas no dia 17 de julho,
horas antes de a mesma aeronave se chocar contra um prédio e matar 199 pessoas.
Incerti de Lima comandou a
aeronave no trecho entre Congonhas e Confins-MG (vôo
3214), e na volta a São Paulo
(vôo 3219). Ele foi o último a pilotar o Airbus antes de Kleyber
Lima e Henrique Stephanini di
Sacco assumirem a aeronave.
Os dois morreram no acidente.
Segundo o depoimento de
Incerti de Lima, em razão de a
pista de Congonhas ser restrita
e estar molhada e escorregadia,
ele considerou mais seguro deixar o manete da turbina direita
-aquela que tinha o reversor
inoperante- no ponto morto
("idle") após pousar. A norma
da Airbus, em vigor há cerca de
um ano, é para acionar os dois
reversores após tocar o solo, inclusive o que está inoperante.
"Nas condições em que a pista se encontrava [o procedimento] apresentava mais segurança para o pouso", disse ele.
O piloto ressaltou que não teve
problemas com a manobra. Incerti de Lima é piloto da empresa aérea TAM desde 1995.
No pouso que resultou na
tragédia, a caixa-preta de dados
do Airbus-A320 registra que o
manete da turbina direita não
se movimentou nem sequer um
grau para o ponto morto, permanecendo em alta aceleração.
Isso levou o computador a
desativar o acionamento automático dos freios aerodinâmicos das asas, impediu a frenagem, manteve a aceleração e fez
o avião ultrapassar a pista.
De acordo com o promotor
Mário Luiz Sarrubbo, que
acompanha o caso, nos depoimentos há a informação de que,
com o procedimento não-recomendado adotado por Incerti
de Lima, a expectativa era que o
avião "ganharia" cerca de 50
metros de pista.
Depois que soube da falha, a
TAM chamou o piloto e solicitou que ele seguisse o manual.
Para o promotor, fica a dúvida se a tripulação seguinte também considerou que seria mais
seguro pousar desobedecendo
o manual. "Parece que eles [pilotos] não sabem bem o que fazer nesses casos", afirmou.
Mais problemas
Ao passar o comando da aeronave para Kleyber Lima e
Henrique Stephanini di Sacco,
o piloto Incerti de Lima e o co-piloto Daniel Alves da Silva informaram que havia alguns
problemas no avião.
Além do reverso pinado (travado), segundo o promotor,
houve um superaquecimento
de uma das turbinas. Os problemas, exceto o reverso pinado,
teriam sido consertados.
Stephanini teria feito uma
brincadeira depois que o co-piloto informou das falhas. Ele
perguntou a Silva se o avião
ainda tinha "asas e motor".
A reportagem não conseguiu
ouvir a TAM sobre o depoimento.
(AFRA BALAZINA)
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