São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

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Piloto da TAM admite ter feito procedimento não-recomendado

DA REPORTAGEM LOCAL

O piloto Marco Aurélio Incerti de Lima admitiu ontem, em depoimento no 27º DP (Campo Belo), ter executado um procedimento não-recomendado para pousar o Airbus-A320 da TAM no aeroporto de Congonhas no dia 17 de julho, horas antes de a mesma aeronave se chocar contra um prédio e matar 199 pessoas.
Incerti de Lima comandou a aeronave no trecho entre Congonhas e Confins-MG (vôo 3214), e na volta a São Paulo (vôo 3219). Ele foi o último a pilotar o Airbus antes de Kleyber Lima e Henrique Stephanini di Sacco assumirem a aeronave. Os dois morreram no acidente.
Segundo o depoimento de Incerti de Lima, em razão de a pista de Congonhas ser restrita e estar molhada e escorregadia, ele considerou mais seguro deixar o manete da turbina direita -aquela que tinha o reversor inoperante- no ponto morto ("idle") após pousar. A norma da Airbus, em vigor há cerca de um ano, é para acionar os dois reversores após tocar o solo, inclusive o que está inoperante.
"Nas condições em que a pista se encontrava [o procedimento] apresentava mais segurança para o pouso", disse ele. O piloto ressaltou que não teve problemas com a manobra. Incerti de Lima é piloto da empresa aérea TAM desde 1995.
No pouso que resultou na tragédia, a caixa-preta de dados do Airbus-A320 registra que o manete da turbina direita não se movimentou nem sequer um grau para o ponto morto, permanecendo em alta aceleração.
Isso levou o computador a desativar o acionamento automático dos freios aerodinâmicos das asas, impediu a frenagem, manteve a aceleração e fez o avião ultrapassar a pista.
De acordo com o promotor Mário Luiz Sarrubbo, que acompanha o caso, nos depoimentos há a informação de que, com o procedimento não-recomendado adotado por Incerti de Lima, a expectativa era que o avião "ganharia" cerca de 50 metros de pista.
Depois que soube da falha, a TAM chamou o piloto e solicitou que ele seguisse o manual.
Para o promotor, fica a dúvida se a tripulação seguinte também considerou que seria mais seguro pousar desobedecendo o manual. "Parece que eles [pilotos] não sabem bem o que fazer nesses casos", afirmou.

Mais problemas
Ao passar o comando da aeronave para Kleyber Lima e Henrique Stephanini di Sacco, o piloto Incerti de Lima e o co-piloto Daniel Alves da Silva informaram que havia alguns problemas no avião.
Além do reverso pinado (travado), segundo o promotor, houve um superaquecimento de uma das turbinas. Os problemas, exceto o reverso pinado, teriam sido consertados.
Stephanini teria feito uma brincadeira depois que o co-piloto informou das falhas. Ele perguntou a Silva se o avião ainda tinha "asas e motor".
A reportagem não conseguiu ouvir a TAM sobre o depoimento. (AFRA BALAZINA)


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