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"Tio" acolhe criança apreendida 6 vezes
Aos 12 anos recém-completados, menino foi flagrado vendendo drogas na cracolândia, segundo a polícia
De acordo com o Denarc, garoto chegava a vender 2.000 pedras de crack num só dia na região central de São Paulo
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO
Aos recém-completados 12
anos, idade em que já poderia estar no sétimo ano do ensino fundamental, o menino
não sabe ler nem escrever.
Nesta semana, foi apreendido pela sexta vez pela polícia por vender drogas, apontado como o mais jovem traficante da cracolândia, reduto
de usuários de crack na região central de São Paulo.
Segundo a polícia, a criança era peça essencial na cadeia de produção e distribuição de crack no centro.
Por 40 dias, policiais civis
do Denarc (departamento de
narcóticos) seguiram seus
passos. Dia e noite o menino
circulava entre centenas de
dependentes, entorpecidos
pela droga. E chegava a vender 2.000 pedras num só dia.
A mãe, o menino e um irmão de 17 anos foram presos
em flagrante nesta semana.
Outros três irmãos já estavam presos por envolvimento com o tráfico.
Levado ao fórum de uma
cidade onde mora na Grande
São Paulo, a juíza Vanessa
Vaitekunas Zapater determinou que o menino deveria ser
entregue aos pais.
Como a mãe também estava detida e o pai fora assassinado no início deste ano
num hotel do centro de São
Paulo, o garoto foi entregue
ao Conselho Tutelar, que o
encaminhou a um "tio" -por
consideração, não sangue.
O homem de 49 anos que o
acolheu é o sogro de um dos
seus irmãos mais velhos.
"É enxugar gelo. Esse menino deve estar traficando
novamente", diz o delegado
Marco Antônio de Paula Santos, chefe do Denarc.
COMPLEXO
"É algo extremamente
complexo que não se resolve
com decisões rigorosas. Não
existe solução simplista para
isso", afirma Antônio Carlos
Malheiros, desembargador
da Infância e da Juventude.
"O receio é colocar numa
casa de internação e sair de lá
pior. A medida de internação
por si só não resolver nada",
diz Ricardo Cabezon, presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB.
A juíza Vanessa Vaitekunas Zapater, que determinou
a liberação do menino, diz
que nem ele nem o irmão tinham passagem pela Vara da
Infância e Juventude e mandou que os dois fossem entregues ao Conselho Tutelar.
Ele não tinha passagem
porque, nas cinco apreensões anteriores, tinha menos
de 12 anos -nessa idade, de
acordo com a lei, não poderiam ser registradas.
Na investigação, a polícia
diz ter descoberto dois depósitos na cracolândia. A droga, diz o Denarc, era processada na casa da família, na
Grande São Paulo.
"A juíza tem razão. Não
adianta internar esse menino. Ele precisaria de atendimento psicológico e médico.
É importante que o garoto seja escutado", afirma o psicanalista Jorge Broide, especialista em adolescentes em
conflito com a lei.
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