São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Tio" acolhe criança apreendida 6 vezes

Aos 12 anos recém-completados, menino foi flagrado vendendo drogas na cracolândia, segundo a polícia

De acordo com o Denarc, garoto chegava a vender 2.000 pedras de crack num só dia na região central de São Paulo

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO

Aos recém-completados 12 anos, idade em que já poderia estar no sétimo ano do ensino fundamental, o menino não sabe ler nem escrever.
Nesta semana, foi apreendido pela sexta vez pela polícia por vender drogas, apontado como o mais jovem traficante da cracolândia, reduto de usuários de crack na região central de São Paulo.
Segundo a polícia, a criança era peça essencial na cadeia de produção e distribuição de crack no centro.
Por 40 dias, policiais civis do Denarc (departamento de narcóticos) seguiram seus passos. Dia e noite o menino circulava entre centenas de dependentes, entorpecidos pela droga. E chegava a vender 2.000 pedras num só dia.
A mãe, o menino e um irmão de 17 anos foram presos em flagrante nesta semana. Outros três irmãos já estavam presos por envolvimento com o tráfico.
Levado ao fórum de uma cidade onde mora na Grande São Paulo, a juíza Vanessa Vaitekunas Zapater determinou que o menino deveria ser entregue aos pais.
Como a mãe também estava detida e o pai fora assassinado no início deste ano num hotel do centro de São Paulo, o garoto foi entregue ao Conselho Tutelar, que o encaminhou a um "tio" -por consideração, não sangue.
O homem de 49 anos que o acolheu é o sogro de um dos seus irmãos mais velhos.
"É enxugar gelo. Esse menino deve estar traficando novamente", diz o delegado Marco Antônio de Paula Santos, chefe do Denarc.

COMPLEXO
"É algo extremamente complexo que não se resolve com decisões rigorosas. Não existe solução simplista para isso", afirma Antônio Carlos Malheiros, desembargador da Infância e da Juventude.
"O receio é colocar numa casa de internação e sair de lá pior. A medida de internação por si só não resolver nada", diz Ricardo Cabezon, presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB.
A juíza Vanessa Vaitekunas Zapater, que determinou a liberação do menino, diz que nem ele nem o irmão tinham passagem pela Vara da Infância e Juventude e mandou que os dois fossem entregues ao Conselho Tutelar.
Ele não tinha passagem porque, nas cinco apreensões anteriores, tinha menos de 12 anos -nessa idade, de acordo com a lei, não poderiam ser registradas.
Na investigação, a polícia diz ter descoberto dois depósitos na cracolândia. A droga, diz o Denarc, era processada na casa da família, na Grande São Paulo.
"A juíza tem razão. Não adianta internar esse menino. Ele precisaria de atendimento psicológico e médico. É importante que o garoto seja escutado", afirma o psicanalista Jorge Broide, especialista em adolescentes em conflito com a lei.


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.