|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LETRAS JURÍDICAS
Democracia e soberania em xeque na Colômbia
WALTER CENEVIVA
da Equipe de Articulistas
Ninguém discute a imperiosa necessidade de vigoroso, permanente e qualificado combate
ao tráfico de drogas, destacadas
nessa designação genérica a cocaína e a maconha. Na luta o
Brasil está em pé de igualdade
com todas as demais nações, cujos jovens, especialmente os jovens, estejam ameaçados pelo
vício, com todas as suas consequências trágicas. O combate é
cada vez mais necessário. Urgente.
Os pólos principais do tráfico
de cocaína são a Colômbia, de
que se diz ser a maior produtora
desse alcalóide, e os Estados
Unidos, do qual também se diz
ser o país de seu maior consumo. As estatísticas sugerem que
40% da produção colombiana é
cheirada ou injetada por pessoas residentes na grande superpotência. As polícias norte-americanas, ricas, equipadas,
competentíssimas e incorruptíveis, com o famoso FBI (Escritório Federal de Investigações) à
frente, não conseguiram impedir o tráfico.
O fracasso interno levou o governo Clinton a uma solução
politicamente hábil, ao situar o
mal fora dos Estados Unidos.
Sadam Hussein e Slobodan Milosevic deixaram o papel de inimigo público nº 1. Substituição
radical. Pessoas determinadas
saíram de cena.
Entrou no lugar delas um grupo guerrilheiro colombiano,
que estaria facilitando a distribuição da cocaína. O novo ideal
deixou de ser a proteção de frágeis emirados contra as forças
de Sadam ou dos pobres kosovares contra a cruel perseguição
étnica, estimulada por Slobodam. É um grupo guerrilheiro,
acusado de perturbar a paz interna da Colômbia e de, facilitando o tráfico, arrumar dinheiro para comprar mais armas. Armas, talvez, estadunidenses.
A massa informativa, a partir
de uma boa causa (o combate
às drogas), propõe soluções que
forçam o questionamento da
soberania envolvida, ante notícias de manifestações de autoridades dos Estados Unidos sugerindo que a aviação militar brasileira derrube aviões, alegadamente ligados aos revolucionários colombianos (mesmo não
matriculados no Brasil), usados
no tráfico (ou supostamente).
A Constituição brasileira tem
dois artigos pertinentes ao assunto. O primeiro é a soberania,
como um dos fundamentos de
nossa República. O outro se refere, no plano internacional, ao
respeito das independências nacionais, da autodeterminação
dos povos e da não-intervenção.
Soberania é o poder das nações livres de se organizarem
por si mesmas. A expressiva presença de técnicos militares norte-americanos na Colômbia
não fere a soberania desse país,
pois foi solicitada pelo seu presidente. Só ferirá quando os militares chegarem sem serem convidados, o que parece improvável, em se tratando de tropas
norte-americanas. Como se viu
na Iugoslávia, os ideais são
muito bons para matar e destruir, mas não são suficientemente bons para morrer por
eles.
Considerados os termos da
Constituição brasileira, sobre
soberania e não-intervenção, a
evolução dos fatos há de ser
acompanhada de perto pela sociedade pensante deste país.
Já ouvi pessoas qualificadas
dizendo que parcelas do povo
colombiano são favoráveis ao
ingresso de tropas americanas e
que se encontram nas ruas pessoas com camisetas dizendo
"Yankees come home", em vez
do proverbial "Yankees go home".
Nesse campo, a massa propagandística não serve. Aquele
que aceitar a ofensa da soberania e da autodeterminação colombiana, com base na propaganda, não poderá, depois,
queixar-se de que sua própria
autodeterminação foi ofendida.
É preciso pensar nos efeitos que
o futuro pode trazer.
Texto Anterior: Acidente mata 2 e fere 1 em São Paulo Próximo Texto: Violência: SP tem 2 chacinas em menos de 5 horas Índice
|