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Em gravação, chefe do PCC confessa ataques e suborno
Criminoso diz que servidores facilitaram atentados fornecendo endereço de agentes
Fita foi gravada sem
o conhecimento de
presidiário; conversa
ocorreu horas antes da
primeira onda de atentados
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Gravação feita por um agente
penitenciário flagrou conversa
na qual o preso Júlio César
Guedes de Moraes, o Julinho
Carambola, integrante da cúpula do PCC, confessa que a
facção criminosa está por trás
dos atentados em São Paulo e
que o PCC tem um esquema de
corrupção na Secretaria da Administração Penitenciária para
conseguir contracheques e endereços de funcionários.
Segundo relatório confidencial da própria secretaria, Julinho Carambola afirmou, na
conversa gravada, que esses dados seriam usados para matar
agentes fora das prisões.
O diálogo foi gravado, sem
Julinho Carambola saber, no
dia 12 de maio, na Penitenciária
2 de Presidente Venceslau (620
km de SP), horas antes da primeira onda de atentados.
Desde então, 15 agentes penitenciários foram mortos, segundo o sindicato da categoria.
Pelo menos oito deles foram
atacados quando estavam perto de casa -na época, agentes e
policiais reclamaram que o governo sabia do risco de ataques,
mas nada fez para preveni-los.
Um funcionário do serviço de
inteligência da secretaria, com
um gravador escondido, iniciou
uma conversa com Julinho Carambola. Indignado com a
transferência de cerca de 800
presos ligados ao PCC no dia
anterior, incluindo ele, para
uma penitenciária em Presidente Venceslau, ele anunciou
que uma onda de atentados do
lado de fora das cadeias estava
por vir, ameaçou funcionários e
disse que tinha acesso a dados
para localizar os agentes na rua.
"De hoje em diante, o que você você vai ver na rua, você não
vai acreditar!", disse Carambola na conversa. "É para acabar
com o Estado de São Paulo."
Em outro trecho, ele afirma
que tem "gente na secretaria
que puxa no computador" dados sobre contracheques e endereços de funcionários. "O dinheiro compra tudo", explicou.
É a primeira vez que um integrante da cúpula do PCC é flagrado em uma gravação falando
sobre as ações da facção. Julinho Carambola e o preso Marco Willians Herbas Camacho, o
Marcola, apontado como chefe
máximo, negam na Justiça a liderança da facção e o envolvimento nos atentados.
A conversa gravada foi transcrita em um relatório confidencial da coordenadoria das unidades prisionais da região oeste. O documento foi anexado
pelo Ministério Público ao processo criminal que apura a
morte do bombeiro José Alberto da Costa, ocorrida no dia 13
de maio, na capital paulista.
O juiz Richard Chequini, do
1º Tribunal do Júri, disse que
cópia do relatório, sem a fita, foi
anexada ao processo e que advogados de defesa ainda vão se
manifestar sobre o documento.
Para a Promotoria, o relatório é uma prova de que os atentados foram ordenados pela cúpula do PCC e que ela tem de
ser responsabilizada pelos assassinatos. "A conversa gravada
é uma prova definitiva da participação do Julinho Carambola
no comando da facção criminosa e nos atentados", afirmou o
promotor Marcelo Milani.
Julinho Carambola e Marcola são réus no processo, além de
outras sete pessoas acusadas de
serem os executores do crime.
Segundo Milani, três dos suspeitos afirmaram que não receberam a ordem diretamente da
cúpula, mas disseram que sabiam quem eram os chefes do
PCC e que a ordem para o atentado tinha vindo deles.
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