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Virada Esportiva não inibe uso de drogas
Durante todo o evento, participantes conviveram com usuários de drogas em locais como a cracolândia e o vale do Anhangabaú
Prefeitura estima em 3 milhões os participantes da 3ª edição, que terminou ontem, mas não detalhou como calculou este número
DA REPORTAGEM LOCAL
A 3ª Virada Esportiva levou a
periferia ao centro paulistano,
mas não afastou da região um
de seus maiores problemas: o
consumo de drogas.
"Ah, hoje não", dizia um policial militar a um menino com
cachimbo de crack, no vale do
Anhangabaú, por volta das 22h.
Mas bem antes, à luz do diz,
maconha já era consumida no
local que tinha atividades como
rampa de skate e tirolesa.
Mesmo que não tenham sido
a regra, cenas assim pesaram
como desestímulo para Rafael
Andrade, 21, desempregado,
morador da Penha (zona leste).
"Tem sempre uma meia dúzia
que estraga um pouco a festa,
mas o Anhangabaú está muito
legal. Eu tinha receio de vir ao
centro, mas vim na Virada Cultural, gostei e voltei, apesar dos
problemas", disse.
A Virada Cultural, cuja quinta edição aconteceu em maio,
foi vitrine do centro também
para Rita de Cássia Goes, que
levou as filhas Thamires, 13,
Thaís, 11. "Em geral, tenho medo de andar aqui, mas nas Viradas o centro fica mais seguro e
as atrações são de graça", diz a
moradora do Jardim Noronha
(zona sul), na fila para pegar a
pulseira que dava direito às
brincadeiras no Anhangabaú.
Para ganhar a pulseira era
preciso assinar autorização de
uso da imagem para que a prefeitura possa usar fotos e vídeos
dos participantes como quiser.
Os sem-teto do centro também participavam. "Moro na
rua, tia", dizia a menina Michelle, 8, por volta das 22h30, após
descer uma pequena ladeira
dentro de uma bola inflável.
No largo Coração de Jesus,
na região da cracolândia, crianças aprendiam basquete após a
meia-noite. Nas ruas próximas,
tudo igual a todos os dias: adultos e outras crianças amontados consumiam crack, mesmo
diante das rondas da polícia.
Em outros locais, as drogas
ficavam mais visíveis ao longo
da madrugada. Por volta das 2h,
o Anhangabaú já estava repleto
de pessoas alcoolizadas, desmaiadas no gramado ou vomitando. A prefeitura calculou em
3 milhões o número de participantes ou espectadores do
evento, mas não forneceu detalhes de como o cálculo foi feito.
Para a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda,
da USP, o melhor das Viradas é
que as atividades levam ao centro paulistano "pessoas que não
têm acesso a bens culturais, em
uma cidade que oferece tudo,
desde que se possa pagar".
"A relação dos paulistanos
com o centro era muito íntima
até os anos 1950. Novos eixos
cresceram e a região, que tem
ótima estrutura, inclusive de
lazer, ficou esquecida pelos
moradores. Esses eventos não
são suficientes para mudar isso, mas já são alguma coisa."
(ALESSANDRA BALLES, DANIEL BERGAMASCO E EVANDRO SPINELLI)
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