São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Muito ricos escondem renda em pesquisa

Só 14 pessoas declararam ganhar mais de R$ 50 mil/mês nas últimas entrevistas por amostra de domicílios do IBGE

Entrevistados costumam declarar somente ganhos do trabalho formal e esquecer ou até omitir os recursos vindos de outras fontes

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Os muito ricos, no Brasil, escondem tão bem sua riqueza que nem aparecem nas estatísticas oficiais. Na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita anualmente pelo IBGE, por exemplo, só 14 entrevistados -numa amostra de 410.241 pessoas- declararam ter rendimentos mensais superiores a R$ 50 mil.
Para ter uma idéia do quanto isso é muito pouco, ou quase nada, esses 14 entrevistados representariam um universo de 7.215 pessoas, ou 0,005% da população com mais de dez anos. Trata-se, porém, de uma amostra tão insignificante que é impossível fazer inferência estatística a partir dela.
Na mesma Pnad, o maior valor declarado entre os entrevistados foi o de um rendimento médio mensal de R$ 131,9 mil (somando todas as fontes de renda). É, sem dúvida, bastante dinheiro para um país cuja média não passa de R$ 873, mas não é, certamente, o maior rendimento verificado no Brasil.
Basta lembrar de alguns técnicos e jogadores de futebol ou artistas de televisão para ter certeza de que há bastante gente ganhando acima desse teto.

Dificuldade
Pesquisar com precisão a renda dos muitos ricos é uma dificuldade vivenciada não apenas pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas também por todos os demais institutos congêneres, mesmo dos países que são mais desenvolvidos.
Como a maioria das pesquisas de renda são feitas a partir de entrevistas, é comum os entrevistados declararem somente a renda do trabalho formal, esquecendo -ou então, até mesmo omitindo- os recursos vindos de outras fontes.
Isso vale tanto para os mais ricos -segmento em que os rendimentos do aluguel e de aplicações financeiras são significativos- quanto para os mais pobres -segmento em que os índices de informalidade são maiores e, até por esse motivo, a renda tende a apresentar variações muito significativas mensalmente.

Livro
Uma das tentativas recentes de pesquisar a riqueza dos mais ricos entre os ricos foi feita pelo economista Marcio Pochmann, que hoje ocupa o cargo de presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Ao organizar o livro "Atlas da Exclusão Social - Os Ricos no Brasil", Pochmann revelou que 5.000 famílias consideradas muito ricas -ou 0,01% do total de famílias do país- reuniriam um patrimônio que representa 46% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, o equivalente a R$ 691 bilhões em valores de setembro de 2003.
No mesmo trabalho, o pesquisador conclui também que, entre os muito ricos, 40% estão nessa confortável situação graças a heranças e que, cada vez menos, a origem de suas fortunas vem de atividades produtivas -que perdem espaço como a principal fonte de renda para os recursos vindos de aplicações financeiras, especialmente em títulos públicos.


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