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Muito ricos escondem renda em pesquisa
Só 14 pessoas declararam ganhar mais de R$ 50 mil/mês nas últimas entrevistas por amostra de domicílios do IBGE
Entrevistados costumam declarar somente ganhos do trabalho formal e esquecer
ou até omitir os recursos vindos de outras fontes
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os muito ricos, no Brasil, escondem tão bem sua riqueza
que nem aparecem nas estatísticas oficiais. Na última Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, feita anualmente
pelo IBGE, por exemplo, só 14
entrevistados -numa amostra
de 410.241 pessoas- declararam ter rendimentos mensais
superiores a R$ 50 mil.
Para ter uma idéia do quanto
isso é muito pouco, ou quase
nada, esses 14 entrevistados representariam um universo de
7.215 pessoas, ou 0,005% da
população com mais de dez
anos. Trata-se, porém, de uma
amostra tão insignificante que
é impossível fazer inferência
estatística a partir dela.
Na mesma Pnad, o maior valor declarado entre os entrevistados foi o de um rendimento
médio mensal de R$ 131,9 mil
(somando todas as fontes de
renda). É, sem dúvida, bastante
dinheiro para um país cuja média não passa de R$ 873, mas
não é, certamente, o maior rendimento verificado no Brasil.
Basta lembrar de alguns técnicos e jogadores de futebol ou
artistas de televisão para ter
certeza de que há bastante gente ganhando acima desse teto.
Dificuldade
Pesquisar com precisão a
renda dos muitos ricos é uma
dificuldade vivenciada não apenas pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), mas também por
todos os demais institutos congêneres, mesmo dos países que
são mais desenvolvidos.
Como a maioria das pesquisas de renda são feitas a partir
de entrevistas, é comum os entrevistados declararem somente a renda do trabalho formal,
esquecendo -ou então, até
mesmo omitindo- os recursos
vindos de outras fontes.
Isso vale tanto para os mais
ricos -segmento em que os
rendimentos do aluguel e de
aplicações financeiras são significativos- quanto para os
mais pobres -segmento em
que os índices de informalidade
são maiores e, até por esse motivo, a renda tende a apresentar
variações muito significativas
mensalmente.
Livro
Uma das tentativas recentes
de pesquisar a riqueza dos mais
ricos entre os ricos foi feita pelo
economista Marcio Pochmann,
que hoje ocupa o cargo de presidente do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Ao organizar o livro "Atlas da
Exclusão Social - Os Ricos no
Brasil", Pochmann revelou que
5.000 famílias consideradas
muito ricas -ou 0,01% do total
de famílias do país- reuniriam
um patrimônio que representa
46% do PIB (Produto Interno
Bruto) brasileiro, o equivalente
a R$ 691 bilhões em valores de
setembro de 2003.
No mesmo trabalho, o pesquisador conclui também que,
entre os muito ricos, 40% estão
nessa confortável situação graças a heranças e que, cada vez
menos, a origem de suas fortunas vem de atividades produtivas -que perdem espaço como
a principal fonte de renda para
os recursos vindos de aplicações financeiras, especialmente em títulos públicos.
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