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Para analistas, falta de equipamentos afetou ação policial
Tecnologia de ponta, como microcâmera que revelaria detalhes do apartamento, poderia ter salvado Eloá, segundo especialistas
"A falta desse equipamento pode ter sido um erro fatal; mas o erro é do policial ou do governo que não comprou a câmera?", pergunta delegado
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma câmera de vídeo menor
do que a cabeça de um palito de
fósforo poderia ter mudado o
desfecho do caso de cárcere privado que resultou na morte de
Eloá Cristina Pimentel, aos 15
anos. Introduzida debaixo da
porta, a câmera revelaria para a
polícia a posição exata de cada
um no apartamento e mostraria que havia uma barricada
atrás da porta, que era desconhecida no instante da invasão.
Três especialistas em resgates
dizem que o uso de tecnologia
de ponta poderia ter alterado o
final dessa história.
"Não dá para entender como
o Estado mais rico da federação
não tem esse tipo de tecnologia", diz o sociólogo Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope
(Batalhão de Operação Especiais da Polícia Militar) e um
dos roteiristas do filme "Tropa
de Elite". Segundo ele, um sistema simples de câmera pode
ter um custo similar ao de um
carro de polícia -US$ 15 mil ou
cerca de R$ 32 mil.
Uma câmera microscópica
digital, acoplada a um fio de fibra óptica, teria revelado para
os policiais do Gate (Grupo de
Ações Táticas Especiais) que a
barricada exigia um outro tipo
de invasão. A câmera seria introduzida no apartamento por
debaixo da porta. Os 15, 20 segundos que a polícia perdeu
com essa barricada podem ter
custado a vida de Eloá, segundo
o delegado Riad Farhat, chefe
do Tigre (Tático Integrado de
Grupos de Repressão Especial).
"A falta desse equipamento
pode ter sido um erro fatal. Mas
o erro é do policial ou do governo que não comprou a câmera?", pergunta Farhat.
O coronel reformado Severo
Augusto da Silva Neto, que comandou o policiamento da região metropolitana de Belo Horizonte, endossa a idéia de que
tecnologia poderia ter mudado
o desfecho do caso.
"Se a polícia tivesse imagens,
invadiria o cativeiro quando o
Lindemberg [Alves] estivesse o
mais afastado possível das reféns", exemplifica o coronel.
Os três especialistas, porém,
são unânimes em elogiar de
maneira enfática a operação do
Gate. Ressaltam que só fazem
dois reparos pontuais: a ausência de tecnologia e a volta de
Nayara Rodrigues da Silva, 15,
para o cativeiro, considerada
um erro primário.
A falta de tecnologia não é
um problema só do Gate. No
Brasil, só o Cot (Comando de
Operações Táticas) da Polícia
Federal dispõe de recursos de
ponta para esse tipo de ação.
Coronel Severo faz outro tipo
de reparo à operação do Gate:
diz que foi um erro ter permitido que Lindemberg tivesse
acesso a TV e a celular. Havia
uma situação de assimetria de
informações -o tomador de reféns tinha muitos dados sobre o
que ocorria fora, e a polícia sabia muito pouco do que se passava no cativeiro. "Eu cortaria a
energia elétrica para ele não ter
mais informações do que a polícia. Tomador de refém não pode ter acesso a TV, rádio ou telefone celular", afirma.
Na avaliação do coronel, ao
ver a repercussão do caso na televisão, Lindemberg "entusiasmou-se" e ficou numa posição
ainda mais fortalecida.
A polícia chegou a cortar a
energia elétrica do apartamento, mas teve de religá-la quando
Lindemberg começou a torturar as reféns.
Outro lado
A Secretaria da Segurança diz
que o Gate já comprou microcâmeras para situações de risco, mas não soube informar
quantas são nem quando elas
começarão a ser usadas.
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