São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Foragido, ex-promotor tocou violão em bares

Nos 8 anos em que foi fugitivo, Igor viajou por Argentina, Santa Catarina e interior de SP e fez bicos como pintor de paredes

Ele recebia dinheiro da família, entregue por pessoas de confiança, e evitava falar ao telefone, por medo de grampos

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao longo dos oito anos em que esteve foragido, o ex-promotor Igor Ferreira da Silva, 42, declarou à polícia ter viajado por Argentina, Santa Catarina e diversas cidades do interior de São Paulo.
Segundo a família, ele não ficou apenas morando em locais mais desertos, "andava para todo o lado", e até chegou a fazer apresentações em barzinhos tocando violão.
De acordo com esses parentes, Igor chegou a visitar algumas vezes a mãe, Salete, por quem tem uma "grande paixão", em São Paulo.
Durante anos a polícia monitorou a casa da mãe, na Água Fria (zona norte), mas nunca conseguiu prendê-lo.
Igor fazia também alguns bicos como pintor de paredes em Taubaté e, ainda, confeccionava objetos de couro, como bolsas e peças de decoração.
Dedicava-se ultimamente a traduzir do inglês para o português um livro sobre a filosófica peregrinação de um homem pelos confins da Ásia, no início do século passado.
As atividades artísticas, dom de infância, ajudavam Igor a complementar o dinheiro enviado pelos familiares. A ajuda financeira era entregue ao ex-promotor por meio de pessoas de confiança, as mesmas encarregadas de promover a entrega das correspondências.
Outras vezes, porém, era o próprio ex-promotor quem aparecia para buscar a verba e as informações dos parentes próximos.
A família diz que ele nunca usou disfarce ou documentos falsos. Ele sabia que portar documento falso é crime, mas andar sem identificação, não.

Medo de grampos
Para conseguir passar despercebido, usava chapéu ou boné, além de óculos escuros. Nunca usava o telefone, por medo de que os números da família estivessem grampeados.
Para ele, sem grampos ou um informante, dificilmente a polícia conseguiria capturá-lo.
Igor disse à polícia que, durante os oito anos que passou foragido, sua rota de fuga começou pela Argentina, para onde partiu logo após ter sido condenado, em abril de 2001.
Depois ele foi para Santa Catarina, onde viveu numa casa de praia durante alguns meses; depois, viveu quatro anos em Taubaté, onde esteve em uma fazenda. Há quatro meses, Igor voltou para São Paulo e foi viver em uma casa no Jardim Tremembé (zona norte), perto da casa de seus pais.

Fim do "carma"
Na última sexta-feira, depois de avisar aos parentes que se entregaria à polícia, esteve em uma lan house, onde consultou reportagens sobre o caso protagonizado por ele, e decidiu que ia procurar a delegada Adanzil Limonta, amiga da sua família, para se entregar e pôr fim ao que classificou como "carma".
A entrega à polícia não era unanimidade na família. Um dos irmãos não queria que ele se entregasse. O restante pedia sua apresentação, mas divergia sobre para qual autoridade: polícia ou Justiça.
Ontem, os parentes falavam do erro do irmão de ter feito a primeira opção. Se se entregasse à Justiça, poderia pleitear benefícios legais, que agora ficaram mais difíceis. (ROGÉRIO PAGNAN e ANDRÉ CARAMANTE)


Texto Anterior: Ex-promotor pode ir em 2012 para semiaberto
Próximo Texto: Entrevista: Irmão de Patrícia diz ainda crer em inocência de Igor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.