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Foragido, ex-promotor tocou violão em bares
Nos 8 anos em que foi fugitivo, Igor viajou por Argentina, Santa Catarina e interior de SP e fez bicos como pintor de paredes
Ele recebia dinheiro da família, entregue por pessoas de confiança, e evitava falar ao telefone, por medo de grampos
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao longo dos oito anos em
que esteve foragido, o ex-promotor Igor Ferreira da Silva,
42, declarou à polícia ter viajado por Argentina, Santa Catarina e diversas cidades do interior de São Paulo.
Segundo a família, ele não ficou apenas morando em locais
mais desertos, "andava para todo o lado", e até chegou a fazer
apresentações em barzinhos
tocando violão.
De acordo com esses parentes, Igor chegou a visitar algumas vezes a mãe, Salete, por
quem tem uma "grande paixão", em São Paulo.
Durante anos a polícia monitorou a casa da mãe, na Água
Fria (zona norte), mas nunca
conseguiu prendê-lo.
Igor fazia também alguns bicos como pintor de paredes em
Taubaté e, ainda, confeccionava objetos de couro, como bolsas e peças de decoração.
Dedicava-se ultimamente a
traduzir do inglês para o português um livro sobre a filosófica
peregrinação de um homem
pelos confins da Ásia, no início
do século passado.
As atividades artísticas, dom
de infância, ajudavam Igor a
complementar o dinheiro enviado pelos familiares. A ajuda
financeira era entregue ao ex-promotor por meio de pessoas
de confiança, as mesmas encarregadas de promover a entrega
das correspondências.
Outras vezes, porém, era o
próprio ex-promotor quem
aparecia para buscar a verba e
as informações dos parentes
próximos.
A família diz que ele nunca
usou disfarce ou documentos
falsos. Ele sabia que portar documento falso é crime, mas andar sem identificação, não.
Medo de grampos
Para conseguir passar despercebido, usava chapéu ou boné, além de óculos escuros.
Nunca usava o telefone, por
medo de que os números da família estivessem grampeados.
Para ele, sem grampos ou um
informante, dificilmente a polícia conseguiria capturá-lo.
Igor disse à polícia que, durante os oito anos que passou
foragido, sua rota de fuga começou pela Argentina, para onde partiu logo após ter sido condenado, em abril de 2001.
Depois ele foi para Santa Catarina, onde viveu numa casa
de praia durante alguns meses;
depois, viveu quatro anos em
Taubaté, onde esteve em uma
fazenda. Há quatro meses, Igor
voltou para São Paulo e foi viver
em uma casa no Jardim Tremembé (zona norte), perto da
casa de seus pais.
Fim do "carma"
Na última sexta-feira, depois
de avisar aos parentes que se
entregaria à polícia, esteve em
uma lan house, onde consultou
reportagens sobre o caso protagonizado por ele, e decidiu que
ia procurar a delegada Adanzil
Limonta, amiga da sua família,
para se entregar e pôr fim ao
que classificou como "carma".
A entrega à polícia não era
unanimidade na família. Um
dos irmãos não queria que ele
se entregasse. O restante pedia
sua apresentação, mas divergia
sobre para qual autoridade: polícia ou Justiça.
Ontem, os parentes falavam
do erro do irmão de ter feito a
primeira opção. Se se entregasse à Justiça, poderia pleitear
benefícios legais, que agora ficaram mais difíceis.
(ROGÉRIO PAGNAN e ANDRÉ CARAMANTE)
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