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Marginal deveria ter corredor de ônibus, afirma professor
Para especialista em transportes da USP, ampliação da via terá validade curta
Tendência é que carros voltem a ocupar o espaço, causando lentidão, segundo pesquisador; problema está na falta de planejamento
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os impactos das obras na
marginal Tietê são inevitáveis,
segundo especialistas ouvidos
pela Folha. As intervenções
realizadas ao mesmo tempo fazem com que o transtorno, em
tese, dure menos.
O problema, afirma Orlando
Strambi, professor da USP, é
quando essa obra é colocada
dentro de um contexto de planejamento estratégico.
"Mesmo que concorde com a
urgência da obra, ela deveria
doer muito na consciência de
quem decidiu por ela. Mas isso
não está ocorrendo", diz o engenheiro especialista em transportes da Escola Politécnica.
Strambi questiona, por
exemplo, a falta de espaços para os ônibus no projeto.
FOLHA- Essa obra é estratégica para a cidade de São Paulo?
ORLANDO STRAMBI - É uma obra
para automóveis. Não ouvi ninguém falar que parte desse novo espaço vai ser usado para a
passagem exclusiva de ônibus,
por exemplo. Algumas linhas
de longa distância até o aeroporto [de Guarulhos] poderiam
passar pela marginal. Muitos
preferem o trem, porque
acham que ele é um meio de
deslocamento rápido. Mas o
ônibus, em uma faixa exclusiva
pela marginal, também é.
FOLHA- A nova pista da marginal
terá uma vida útil longa?
STRAMBI - No dia seguinte à entrega da obra, o espaço vai começar a ser ocupado. Ele não ficará vazio. A curto ou médio
prazo, a tendência é que ocorra
um novo equilíbrio. Mais automóveis ocupando mais espaços. Fatalmente, isso vai fazer
com a que a obra seja datada.
FOLHA- É uma obra que politicamente está totalmente direcionada
para o automóvel?
STRAMBI - O problema central
dos transportes nas grandes cidades hoje, praticamente no
mundo inteiro, é que o carro está ganhando a disputa por espaço. Mas é preciso que ocorra
um ponto de inflexão. Isso é
visto já em alguns lugares.
FOLHA- Como o investimento em
mais metrô?
STRAMBI - O metrô é caro. Mas a
sociedade, ao escolher ocupar
os espaços na superfície com
muitos carros e defender que a
única saída é o metrô, está aceitando pagar essa conta alta. O
remédio a longo prazo consiste
em sacrificar bastante o automóvel e reorganizar o espaço
na superfície, criando bons corredores de ônibus.
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