São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marginal deveria ter corredor de ônibus, afirma professor

Para especialista em transportes da USP, ampliação da via terá validade curta

Tendência é que carros voltem a ocupar o espaço, causando lentidão, segundo pesquisador; problema está na falta de planejamento

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os impactos das obras na marginal Tietê são inevitáveis, segundo especialistas ouvidos pela Folha. As intervenções realizadas ao mesmo tempo fazem com que o transtorno, em tese, dure menos.
O problema, afirma Orlando Strambi, professor da USP, é quando essa obra é colocada dentro de um contexto de planejamento estratégico.
"Mesmo que concorde com a urgência da obra, ela deveria doer muito na consciência de quem decidiu por ela. Mas isso não está ocorrendo", diz o engenheiro especialista em transportes da Escola Politécnica.
Strambi questiona, por exemplo, a falta de espaços para os ônibus no projeto.

 

FOLHA- Essa obra é estratégica para a cidade de São Paulo?
ORLANDO STRAMBI -
É uma obra para automóveis. Não ouvi ninguém falar que parte desse novo espaço vai ser usado para a passagem exclusiva de ônibus, por exemplo. Algumas linhas de longa distância até o aeroporto [de Guarulhos] poderiam passar pela marginal. Muitos preferem o trem, porque acham que ele é um meio de deslocamento rápido. Mas o ônibus, em uma faixa exclusiva pela marginal, também é.

FOLHA- A nova pista da marginal terá uma vida útil longa?
STRAMBI -
No dia seguinte à entrega da obra, o espaço vai começar a ser ocupado. Ele não ficará vazio. A curto ou médio prazo, a tendência é que ocorra um novo equilíbrio. Mais automóveis ocupando mais espaços. Fatalmente, isso vai fazer com a que a obra seja datada.

FOLHA- É uma obra que politicamente está totalmente direcionada para o automóvel?
STRAMBI -
O problema central dos transportes nas grandes cidades hoje, praticamente no mundo inteiro, é que o carro está ganhando a disputa por espaço. Mas é preciso que ocorra um ponto de inflexão. Isso é visto já em alguns lugares.

FOLHA- Como o investimento em mais metrô?
STRAMBI -
O metrô é caro. Mas a sociedade, ao escolher ocupar os espaços na superfície com muitos carros e defender que a única saída é o metrô, está aceitando pagar essa conta alta. O remédio a longo prazo consiste em sacrificar bastante o automóvel e reorganizar o espaço na superfície, criando bons corredores de ônibus.


Texto Anterior: Motorista leva mais tempo em rota alternativa
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.