São Paulo, quarta, 21 de outubro de 1998

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ADMINISTRAÇÃO
Pleito seria motivo para prefeitura não fiscalizar
Camelôs voltam ao centro de São Paulo por causa das eleições

da Reportagem Local

Os camelôs de São Paulo prometem ocupar aos poucos e diariamente ruas do centro da cidade, onde estão proibidos de trabalhar. Eles acreditam que não haverá repressão por causa das eleições. Para hoje, eles anunciam a ocupação do calçadão da ladeira General Carneiro.
Segundo o secretário de organização do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Informal (Sintein), Marcos Antonio Maldonado, o momento pré-eleitoral é favorável à ocupação das ruas.
"Não acreditamos em atos violentos de retirada por parte da prefeitura porque eles não querem se desgastar agora", disse Maldonado, que se tornou uma liderança entre os camelôs depois da retirada dos ambulantes da avenida Paulista, em julho do ano passado. "A idéia é gradativamente retomar as ruas do centro", disse.
Os camelôs se aproximam de pontos de onde vem sendo retirados desde o ano passado.
Ontem, a reportagem encontrou ambulantes nas imediações das praças da República e da Sé e da avenida Paulista. A quantidade de produtos e o tamanho das barracas é menor e os camelôs mudam-se constantemente de acordo com os movimentos dos fiscais.
O plano dos camelôs começou a ser implantado na noite de anteontem. Um grupo de 30 ambulantes, a maioria deficientes físicos, foi para o viaduto do Chá e deixou barracas no local.
Na manhã de ontem, os camelôs já eram 50, as barracas estavam prontas e era grande o aparato de fiscalização, com grande número de guardas municipais.
À tarde, por volta das 17h, a situação era inversa. Os camelôs ocupavam um lado inteiro do viaduto, vendendo vários tipos de produtos e os deficientes já não eram a maioria. A Guarda Municipal já havia se retirado.
Os camelôs reclamam que não conseguem vender nos bolsões instalados em diferentes pontos do centro o mesmo que conseguiam em seus pontos originais.
O ex-segurança Valmor Gonçalves de Oliveira, 42, que ficou paraplégico ao ser baleado em um assalto, é camelô desde 85. Ano passado, ele foi proibido de trabalhar em seu antigo ponto, na rua Dom José de Barros, perto da avenida São João, e se transferiu para o bolsão da ladeira Porto Geral.
"Lá tem uns 600 ambulantes e eu não vendo nada", disse Oliveira, que afirma que apura cerca de R$ 2 a R$ 2,50 por dia nos bolsões. "Só sai bala e docinhos. O pessoal que passa lá (na ladeira) é muito pobre".
O camelô afirma que vendia cerca de R$ 70 por dia em camisetas e doces no ponto antigo. Segundo Maldonado, casos como o de Oliveira mostram que a experiência dos bolsões não vem dando certo.
"Queremos uma reunião com o Savelli e o Pitta para reavaliarmos a questão", diz. Segundo Maldonado, os "Pop Centers", shoppings de lojas pequenas que podem ser ocupadas por camelôs são uma boa alternativa.
"Mas precisamos de mais locais", diz. Atualmente só existe um Pop Center, no Brás. (MO)


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