São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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ABORDAGEM SUSPEITA

Autor de disparos se assustou ao ver a arma da vítima; família diz que houve omissão de socorro

Delegado leva 4 tiros de PM em Carapicuíba

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Um policial militar disparou pelo menos quatro tiros contra o delegado Sérgio Luditza, 43, na noite de anteontem, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, por suspeitar que ele fosse um criminoso. Internado no hospital da cidade, ele não corre risco de morte.
O delegado estava em seu carro, parado em uma rua, quando um grupo de PMs o abordou. Ao descer do veículo, com sua arma na cintura, um dos policiais, que não teve o nome revelado, se assustou e atirou contra Luditza.
A Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB), por meio de sua assessoria, disse que as polícias Civil e Militar iniciaram investigações sobre o caso. A assessoria não afirmou se os policiais militares foram identificados nem se foi tomada alguma providência administrativa contra eles.

Primeira versão
Existem duas versões para o caso. Segundo familiares de Luditza -que conversaram com ele no hospital-, por volta das 21h, o delegado voltava para sua casa, na Granja Viana, em Cotia, após passar em uma oficina mecânica em Carapicuíba, e parou em frente a um bar na estrada da Fazendinha para comprar cigarros.
Ao voltar para o carro, ainda de acordo com os seus familiares, o seu isqueiro caiu e ele o estava procurando quando os PMs chegaram no local.
Os policiais, com armas em punho, mandaram o delegado sair do veículo, um Gol. Luditza obedeceu, mas acabou baleado. Um dos PMs começou a atirar ao ver a arma do delegado em sua cintura.
Ele foi atingido no rosto, no abdômen, na perna esquerda e no braço direito. Outros três disparos teriam sido dados contra Luditza, mas não o atingiram.
Policiais militares de um outro veículo, segundo os familiares, o socorreram. O delegado recebeu atendimento primeiro em um pronto-socorro da região. Em seguida, foi transferido para o Hospital Sanatorinhos, no centro de Carapicuíba.
"O meu irmão chegou a gritar para que o PM parasse de disparar porque ele era delegado. Os policiais saíram do local sem prestar socorro. É um absurdo. Quem o atendeu foram outros PMs que passaram por lá, e um deles o reconheceu. Ele não morreu porque Deus é muito bom", disse a irmã do delegado, a oficial de Justiça Sueli Luditza.

Segunda versão
Na outra versão, Luditza parou no local para descansar, pois vinha de uma investigação em que ficou dois dias sem dormir, de acordo com o delegado Marco Antonio de Paula, que responde interinamente pela direção do Demacro (departamento responsável pelas delegacias da Grande São Paulo).
"Quando ele parou o carro para cochilar, um dos moradores da região desconfiou e chamou a PM. Um dos policiais militares pediu que ele saísse do veículo, mas se assustou quando viu a arma em sua cintura e atirou", explicou De Paula. Ele classificou a ação "como um erro que pode ocorrer e que os policiais agiram dentro da legalidade".
Uma investigação da Polícia Civil apurará se houve excesso do policial. Ao mesmo tempo, uma sindicância administrativa da PM investigará o caso.
O policial responsável pelos disparos foi quem apresentou o caso no 1º DP de Carapicuíba, segundo De Paula. As armas do PM e do delegado Luditza foram apreendidas e irão passar por uma perícia técnica. Não há indícios de que o delegado baleado tenha feito disparos.


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