São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Mano Brown e o líder dos Panteras Negras protestam contra terrorismo estatal

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A reunião, organizada pelo Núcleo de Desenvolvimento Islâmico Brasileiro, foi quase secreta, na véspera do dia da Consciência Negra, e teve como objetivo criar um elo entre os negros do Brasil e os dos EUA. "Somente os loucos estão aqui hoje", disse Pedro Paulo Soares Pereira, 37, ícone da cultura negra.
Pereira é o Mano Brown, voz guia do grupo de rap Racionais MC's e, na sede da ONG Ação Educativa, centro de São Paulo, a "ponte" para ações sociais de conscientização entre negros brasileiros e norte-americanos começou a ser erguida a partir do contato do rapper com Fred Hampton Jr., líder do movimento pela igualdade racial Black Panthers (Panteras Negras), criado nos anos 60 nos Estados Unidos. Ele é filho de Fred Hampton, morto em 1969 pelo FBI.
Por quase três horas, Brown e Hampton Jr, chamado de "ministro" pelos panteras negras, debateram o que chamam de "terrorismo estatal praticado pelos governos dos EUA e do Brasil contra os negros".
Em um dos momentos do encontro, Hampton Jr disse a Brown que o governo dos EUA ajudou, "jogando bombas em uma represa", a piorar a situação dos negros de Nova Orleans vítimas do furacão Katrina, em agosto de 2005. A ação, disse, teria atendido aos interesses de empresários amigos do presidente George W. Bush.
Hampton Jr disse ter vergonha de pessoas como a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e do senador Barak Obama, candidato à presidência dos EUA. "Eles não representam os negros."
"Chegamos num momento em que não basta fazer filmes sobre preto, só. Que não basta gravar disco de rap falando da nossa realidade, a gente está colocando nosso orgulho em jogo. Eu acredito que os negros não precisam de super-herói", disse Brown, para quem "o hip hop brasileiro está enfraquecido financeiramente, mas não ideologicamente".
Para Hampton Jr, o hip hop ainda é, apesar das distorções causadas pelos rappers norte-americanos com a ostentação por dólares, carrões e a discriminação contra as mulheres, uma das mais fortes ferramentas para unir e conscientizar os negros de todo o mundo.
O black panther também disse saber da "revolução" que Brown e seus parceiros de Racionais fazem com o rap Brasil afora. Ao final do encontro, Brown e Hampton Jr cerraram os punhos (saudação padrão dos black panthers) e foram aclamados pelas cerca de 60 pessoas que participaram do evento..


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