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Anselmo Berra e a "guerra agradável"
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Houve entre os camponeses que deixaram o vilarejo
de Monteprato, no norte da
Itália, para lutar na Segunda
Guerra, um rapaz que passou
todos os anos do conflito sem
disparar um único tiro.
Logo preso pelos ingleses,
Anselmo Berra teve de trabalhar num hospital de freiras
na Líbia -onde cuidava dos
olhos dos beduínos do deserto, que vinham em caravanas
para se curar dos glaucomas
causados pela areia.
Findo o que via como uma
"guerra quase agradável", assustou-se com a miséria na
Itália, juntou meio vilarejo e
partiu para o Paraná, no Brasil. Malograda a cooperativa,
veio ser assistente de cozinheiro em São Paulo. Em
1962, já tinha seu próprio
restaurante.
As paredes do La Fornarina guardaram por anos as fotos do boxeador Primo Carnera -campeão mundial de
pesos pesados e nascido em
Udine, cidade natal de Berra.
Que foi ao hotel do lutador
deixar um bilhete convidando-o para o restaurante, onde, todos os dias, a mesa com
flores e vinho o recebeu.
Tempos que ele narrava
aos amigos do Itaim, caminhando de bengala pela rua
Iaiá. Tinha duas filhas, três
netos e 90 anos. Morreu no
sábado de causas naturais,
no hospital, em São Paulo.
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