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Ladrões invadem o Masp e levam obras de Picasso e de Portinari
Crime demorou três minutos; bando usou pé-de-cabra e macaco hidráulico para invadir o museu mais importante da América Latina
É a primeira vez em seus 60 anos que o Masp tem alguma obra furtada; não há previsão de quando o museu será reaberto
Danilo Verpa/Folha Imagem
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O vão que foi aberto pelos ladrões com a ajuda de um macaco hidráulico e de um pé-de-cabra; o furto demorou cerca de três minutos no total, e os seguranças do Masp não perceberam nada
AFRA BALAZINA
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a ajuda de um macaco
hidráulico e de um pé-de-cabra, ladrões levaram dois quadros, dos pintores Pablo Picasso e Candido Portinari, do
Masp (Museu de Arte de São
Paulo), o museu mais importante da América Latina. O crime demorou cerca de três minutos -os seguranças do museu nada perceberam.
Foram furtadas as telas "O
Lavrador de Café" (da década
de 30, óleo sobre tela, 100 x 81
cm), do pintor brasileiro Portinari (1903-1962), e o "Retrato
de Suzanne Bloch" (1904, óleo
sobre tela, 65 x 54 cm), do artista espanhol Picasso (1881-1973).
O museu, cujo acervo é avaliado em mais de US$ 1 bilhão e
inclui obras de Claude Monet e
Vincent Van Gogh, não possui
alarme nem sensores em suas
obras. A segurança era feita por
quatro vigias desarmados.
Esse foi o maior roubo de arte na história do país em razão
da importância das obras e de
seu valor de mercado.
Não há um consenso sobre o
valor das obras furtadas. Para a
Sotheby's no Brasil, a maior casa de leilões do mundo, a obra
de Picasso está avaliada em
US$ 25 milhões (mais de R$ 45
milhões) e a de Portinari, em
US$ 2 milhões (pouco mais de
R$ 3,6 milhões). Já Jones Bergamin, da Bolsa de Artes do Rio,
afirma que o Portinari está avaliado em US$ 5,5 milhões (R$
10 milhões) e o Picasso, em US$
50 milhões (R$ 90 milhões).
O Masp informou que é a primeira vez, nos 60 anos de fundação, que teve uma obra furtada. Não há previsão de quando
ele será reaberto ao público.
A ação, filmada pelo sistema
de segurança do museu, durou
das 5h09 às 5h12- justamente
durante a troca de turno dos vigias. O problema é que o sistema não tem infravermelho -as
imagens não são nítidas.
Os quatro seguranças estavam no subsolo do vão livre do
Masp - os quadros foram levados do segundo andar e estavam distantes um do outro.
O macaco hidráulico foi usado para arrombar uma porta de
aço na avenida Paulista e o pé-de-cabra, para quebrar uma
porta de vidro que deu acesso
às obras furtadas.
Segundo o delegado Marcos
Gomes de Moura, do 78º DP
(Jardins), "foi um serviço de
profissional, não é coisa de bandido pé-de-chinelo". Ele diz
que investiga se funcionários
do Masp estão envolvidos no
crime. Três dos vigias disseram
não ter visto ou ouvido nada.
O delegado acredita que os
ladrões são os mesmos que tentaram, há 45 dias, roubar o museu. Na época, um grupo invadiu o prédio, rendeu dois seguranças e não conseguiu entrar
no acervo do museu.
"Dessa vez, eles utilizaram
outro método. Há fortes indícios de ter participação desse
mesmo grupo", diz o delegado.
As imagens mostram três homens entrando no prédio. Mas
como foi achado um fone de ouvido do lado de fora do museu, a
polícia acredita que possa haver mais envolvidos. "Provavelmente, tinha gente de fora passando informação para eles."
O crime, diz ele, foi encomendado. "É encomenda para
alguém que é apreciador de arte, que tem dinheiro, mas não
tem como comprar uma coisa
que pertence a um museu."
A direção do Masp não quis
dar entrevistas. Por meio de
nota, afirma que "ao longo dos
seus 60 anos de atividades ininterruptas (...) nunca sofreu uma
ocorrência desta natureza, razão pela qual foi instaurada
uma sindicância interna".
O texto diz ainda que, como
as obras estavam "em salas separadas e distantes", eram alvos específicos da ação. "Ações
semelhantes, infelizmente,
têm ocorrido não só em grandes museus do mundo como
também nos brasileiros, razão
pela qual o Masp está acionando, além de nossa polícia local,
a Interpol, a Polícia Federal e o
Itamaraty para as providências
devidas", diz a nota.
Colaborou MARIO CESAR CARVALHO,
da Reportagem Local
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