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No Sul, rodovia assusta até piloto de rali
Everson Suarez Lopes diz que buracos na estrada podem estourar até pneu de jipe e não recomenda trajeto à noite
Trecho já foi conhecido
como "Rodovia do Inferno",
por ter áreas de areia que
agora estão asfaltadas, o
que fez aumentar fluxo
DOS ENVIADOS À BR-101
As marcas no que resta de asfalto denunciam as freadas de
carros e caminhões, mas não
superam a quantidade de crateras dos mais variados tamanhos que tomam conta de um
trecho de 84,5 km da BR-101,
entre Bacopari e Mostardas, região de praias e lagoas no litoral
do Rio Grande do Sul.
A Folha conseguiu contar
simbólicos 101 buracos num
trajeto de só dois quilômetros
-um a cada 20 metros. A condição assustou até um piloto
gaúcho de rali e de trilhas que
acompanhou a reportagem para avaliar a situação da pista.
"Esses buracos aqui estouram até pneu de jipe. É muito
mais fácil furar os pneus numa
estrada assim do que numa rota de rali", diz Everson Suarez
Lopes, 28, que faz parte do
Jeepbom (empresa gaúcha de
percursos off-road) e é acostumado há oito anos a desbravar
trajetos em condições críticas.
Em meio a alguns solavancos
inevitáveis, Suarez Lopes vê
veículos em zigue-zague a 40
km/h. Mesmo porque não dá
para contar com sinalização e,
se os pneus estourarem, menos
ainda com acostamento.
"Olha aquele ônibus escolar", comenta ele ao observar
um veículo que transporta
crianças trafegando na contramão para desviar de uma cratera que, só de largura, tinha
aproximadamente três metros,
ocupando quase por inteiro
uma das duas pistas de tráfego.
O piloto, enquanto dá mais
uma freada (para escapar de
um cachorro que invade a estrada), faz uma recomendação:
"À noite, por aqui, de jeito nenhum. Escapar com só um
pneu furado seria pouco".
E conclui: "Para passear,
nunca peguei uma rodovia assim. Nas trilhas, é diferente.
Tem valas, mas você não é tão
surpreendido. Na estrada, tem
carro na frente, carro atrás".
"Vamos rezar"
Esse trecho visitado pela Folha faz parte de um trajeto que
já foi batizado de "Estrada do
Inferno". O apelido fazia referência à dificuldade para atravessar trechos sem asfalto, para
viajar de Porto Alegre a São José do Norte, ponta da BR-101.
"A população vivia isolada do
mundo. Tinha dias em que demorava um dia para atravessar
70 km", diz Vicente Ferrari
(PSDB), prefeito do município.
Neste ano, os últimos pedaços de areia foram asfaltados. A
pavimentação levou ao aumento do fluxo de veículos e transformou essa parte da BR-101
numa rota alternativa ao extremo sul sem ter que pagar os pedágios da BR-116. Resultado:
sem manutenção, parte do que
já existia antes foi deteriorada.
Os pontos que apresentam
péssimas condições integram
um trecho da rota 101 que é
coincidente com a RST-101, hoje sob controle do Estado.
O diretor de obras do Daer-RS (Departamento Autônomo
de Estradas de Rodagem), Jeferson Berni Couto, reconhece
haver 40 km "em precaríssimo
estado". Diz que a situação foi
agravada pelas chuvas do ano.
"Vamos tentar uma recuperação emergencial até janeiro.
E vamos rezar para que não seja um período tão chuvoso",
afirma Couto, que promete
uma licitação para uma restauração definitiva -mas que não
começa antes de fevereiro.
O diretor diz que já foram investidos R$ 30 milhões para a
melhoria da RST-101, mas que
foram insuficientes para toda a
extensão. Alega que a pista foi
construída sobre material arenoso e que os buracos são abertos com facilidade. Diz também
que as pedreiras ficam distantes da região, "encarecendo em
demasia" as obras por lá.
O prefeito de São José do
Norte conta que, enquanto isso, a região que atrai até 20 mil
pessoas em finais de semana vira ponto de passagem até de turistas de Uruguai e Argentina
com destino a Santa Catarina.
E a chefe de gabinete da Prefeitura de Mostardas, Thaiane
Lopes, já segue há mais de um
ano a recomendação do piloto
de rali. "Ela está péssima. Eu
não pego a estrada à noite por
medo de furar pneu", afirma
ela, que teve pneus estourados
na rodovia em 2008.
(ALENCAR IZIDORO E FERNANDO DONASCI)
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