São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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No Sul, rodovia assusta até piloto de rali

Everson Suarez Lopes diz que buracos na estrada podem estourar até pneu de jipe e não recomenda trajeto à noite

Trecho já foi conhecido como "Rodovia do Inferno", por ter áreas de areia que agora estão asfaltadas, o que fez aumentar fluxo

DOS ENVIADOS À BR-101

As marcas no que resta de asfalto denunciam as freadas de carros e caminhões, mas não superam a quantidade de crateras dos mais variados tamanhos que tomam conta de um trecho de 84,5 km da BR-101, entre Bacopari e Mostardas, região de praias e lagoas no litoral do Rio Grande do Sul.
A Folha conseguiu contar simbólicos 101 buracos num trajeto de só dois quilômetros -um a cada 20 metros. A condição assustou até um piloto gaúcho de rali e de trilhas que acompanhou a reportagem para avaliar a situação da pista.
"Esses buracos aqui estouram até pneu de jipe. É muito mais fácil furar os pneus numa estrada assim do que numa rota de rali", diz Everson Suarez Lopes, 28, que faz parte do Jeepbom (empresa gaúcha de percursos off-road) e é acostumado há oito anos a desbravar trajetos em condições críticas.
Em meio a alguns solavancos inevitáveis, Suarez Lopes vê veículos em zigue-zague a 40 km/h. Mesmo porque não dá para contar com sinalização e, se os pneus estourarem, menos ainda com acostamento.
"Olha aquele ônibus escolar", comenta ele ao observar um veículo que transporta crianças trafegando na contramão para desviar de uma cratera que, só de largura, tinha aproximadamente três metros, ocupando quase por inteiro uma das duas pistas de tráfego.
O piloto, enquanto dá mais uma freada (para escapar de um cachorro que invade a estrada), faz uma recomendação: "À noite, por aqui, de jeito nenhum. Escapar com só um pneu furado seria pouco".
E conclui: "Para passear, nunca peguei uma rodovia assim. Nas trilhas, é diferente. Tem valas, mas você não é tão surpreendido. Na estrada, tem carro na frente, carro atrás".

"Vamos rezar"
Esse trecho visitado pela Folha faz parte de um trajeto que já foi batizado de "Estrada do Inferno". O apelido fazia referência à dificuldade para atravessar trechos sem asfalto, para viajar de Porto Alegre a São José do Norte, ponta da BR-101.
"A população vivia isolada do mundo. Tinha dias em que demorava um dia para atravessar 70 km", diz Vicente Ferrari (PSDB), prefeito do município.
Neste ano, os últimos pedaços de areia foram asfaltados. A pavimentação levou ao aumento do fluxo de veículos e transformou essa parte da BR-101 numa rota alternativa ao extremo sul sem ter que pagar os pedágios da BR-116. Resultado: sem manutenção, parte do que já existia antes foi deteriorada.
Os pontos que apresentam péssimas condições integram um trecho da rota 101 que é coincidente com a RST-101, hoje sob controle do Estado.
O diretor de obras do Daer-RS (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), Jeferson Berni Couto, reconhece haver 40 km "em precaríssimo estado". Diz que a situação foi agravada pelas chuvas do ano.
"Vamos tentar uma recuperação emergencial até janeiro. E vamos rezar para que não seja um período tão chuvoso", afirma Couto, que promete uma licitação para uma restauração definitiva -mas que não começa antes de fevereiro.
O diretor diz que já foram investidos R$ 30 milhões para a melhoria da RST-101, mas que foram insuficientes para toda a extensão. Alega que a pista foi construída sobre material arenoso e que os buracos são abertos com facilidade. Diz também que as pedreiras ficam distantes da região, "encarecendo em demasia" as obras por lá.
O prefeito de São José do Norte conta que, enquanto isso, a região que atrai até 20 mil pessoas em finais de semana vira ponto de passagem até de turistas de Uruguai e Argentina com destino a Santa Catarina.
E a chefe de gabinete da Prefeitura de Mostardas, Thaiane Lopes, já segue há mais de um ano a recomendação do piloto de rali. "Ela está péssima. Eu não pego a estrada à noite por medo de furar pneu", afirma ela, que teve pneus estourados na rodovia em 2008. (ALENCAR IZIDORO E FERNANDO DONASCI)


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