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TRÂNSITO
Código completa hoje cinco anos de implantação, mas só 0,25% dos condutores tiveram carteira suspensa em São Paulo
Punição a motorista infrator ainda é restrita
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais promessas
do Código de Trânsito Brasileiro,
que completa hoje cinco anos de
vigência, ainda é uma medida restrita na maior capital do país: a
suspensão temporária da carteira
de habilitação decorrente do acúmulo de infrações no prontuário.
De 1998 para cá, somente 14.966
condutores tiveram a carteira suspensa na cidade de São Paulo
-0,25% da quantidade de condutores. As estatísticas indicam
que esse número não se deve à
baixa quantidade de multas de
trânsito -mais de 3 milhões
anuais-, mas à falta de estrutura
dos órgãos responsáveis e de
atendimento da população às determinações dos mesmos.
Nesse período, mais de 200 mil
motoristas foram notificados pelo
Detran (Departamento Estadual
de Trânsito) de São Paulo, sendo
100 mil na capital paulista, por terem atingido os 20 pontos ou cometido infrações que, sozinhas, já
levam à suspensão da habilitação
(dirigir em rodovias, vias de trânsito rápido e artérias com velocidade mais de 20% superior à permitida, por exemplo).
Antonio Carlos Bueno Torres,
responsável pela Divisão de Habilitação do Detran, diz que essa
discrepância entre os que foram
notificados e os que tiveram a carteira suspensa de um a 12 meses se
deve ao não-comparecimento
dos infratores ao Detran.
"Se não apresentam a defesa no
prazo de 30 dias, lançamos uma
restrição administrativa no sistema e eles não conseguirão renovar a carteira", diz. Ele reconhece
a falta de estrutura do órgão para
fazer a fiscalização e atender os infratores notificados. "A estrutura
não suporta", afirma Torres.
Segundo ele, não há garantias
de que todos os motoristas com
20 pontos ou mais tenham sido
notificados, já que a atualização
dos dados no Detran, por falta de
informatização, é lenta.
Especialistas ouvidos pela Folha
destacam principalmente dois
avanços da implantação do CTB:
a fiscalização pela falta do cinto de
segurança, que passou a ser obrigatório nos centros urbanos, e por
excesso de velocidade, que passou
a ser liberada por equipamentos
eletrônicos. Essas medidas levaram à redução das mortes -só
em São Paulo, a quantidade de vítimas fatais, que era de 2.042 em
1997, foi de 1.412 em 2002.
"O governo se dá por satisfeito
em receber a verba da multa e
nem liga para a suspensão da carteira. A maioria dos infratores são
reincidentes. E, se as carteiras deles forem cassadas, as prefeituras
perdem na arrecadação", diz David Duarte Lima, professor da
Universidade de Brasília.
Pior do que a falta de controle
na suspensão das carteiras foram
idéias do CTB que não saíram do
papel. Por exemplo, a inspeção
veicular, que deveria ter sido implantada depois de dois anos. "Os
interesses políticos travaram a
inspeção. Ela envolve muito dinheiro e todos querem administrá-la", diz José Almeida Sobrinho, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Geraldo Lemos Pinheiro, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça, também cita a
falta de regulamentação dos órgãos de julgamento de recursos
de multa. Há Estados que até hoje
não têm Cetran (Conselho Estadual de Trânsito, que julga as
multas em segunda instância).
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