São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Duas crianças estão entre os nove mortos

Uma adolescente de 14 anos também morreu; oito foram vítimas de deslizamentos na capital e na Grande São Paulo

Em Mauá (ABC), um bebê sobreviveu após um soterramento porque a chupeta que usava impediu a terra de entrar na sua boca

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

A chuva causou a morte de nove pessoas na capital e na região metropolitana de São Paulo, sete das quais em razão de deslizamentos de terra. Entre os mortos, estão duas crianças e uma adolescente.
Duas das vítimas eram irmãs -Ana Lídia, 8, e Ana Maria de Oliveira Santos, 14. Elas estavam em uma casa soterrada por um barranco que desmoronou ontem de manhã no bairro Santo Bertoldo, em Ribeirão Pires. O corpo da mãe delas, Analice de Oliveira Moreira dos Santos, 36, foi encontrado no início da noite de ontem.
Um soterramento também matou Rosângela, 9, no Grajaú (zona sul de SP). Os pais, Nivaldo de Oliveira, 37, e Maria das Neves Cardoso, 33, foram achados mortos 12 horas depois.
A casa onde os três estavam veio abaixo, atingida pela vegetação cerrada e por camadas superficiais de pedras de um morro íngreme no entorno.
Quatro pessoas que moravam no segundo andar foram resgatadas sem ferimentos graves, entre os quais o irmão de Rosângela. "Estava tudo escuro, eu pensei que era só uma árvore que tinha caído", conta a doméstica Adriana Sobral da Silva, vizinha do imóvel.

Barulho
Por volta das 3h, Adriana ouviu "um barulho muito alto de madeira quebrando" e acordou sobressaltada. Foi até a porta e gritou pelos vizinhos, sem saber o que havia acontecido.
Logo ouviram-se pedidos de socorro. "A gente pegou umas pás e enxadas e começou a cavar na direção dos gritos", lembra. Os moradores do andar de cima foram resgatados com vida; no andar de baixo, que sofreu o baque da queda da laje, ainda estavam desaparecidos.
Por volta das 16h, um bombeiro com casaco cor-de-abóbora caminhou até um grupo de familiares para dar a notícia que todos esperavam, mas em que não queriam acreditar. O casal fora encontrado morto. Irmãos dos dois se abraçaram numa roda, chorando alto, enquanto centenas de vizinhos prestavam atenção em silêncio.

Aviso
Morador de uma área de risco no Jardim Santo André, em Santo André (ABC), o aposentado Antonio Soares Ribeiro, 46, morreu quando a encosta onde estava a sua casa desmoronou por conta da tempestade. Com medo de que o acidente ocorresse, duas filhas da vítima chegaram a ir à casa do aposentado avisá-lo do perigo, segundo Manoel Ribeiro dos Santos, 46 anos, primo da vítima. Ribeiro, no entanto, não quis sair, afirmou. Ele vivia só.
Em Mauá, também no ABC, a recicladora Edinólia Alves da Silva, 33, morreu soterrada. O filho dela, Júlio César Durval, um ano e oito meses, sobreviveu graças à sua chupeta. Ele dormia na cama com os pais, quando a terra cobriu o seu corpo da cintura para cima.

Chupeta
"Quando o levamos para o hospital, o médico disse que foi a chupeta que salvou meu neto da morte, porque impediu que ele engolisse a terra", disse Sônia Alves da Cruz, 52, a avó.
O pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas Evandro Roberto Baldacci explica que a chupeta serviu como uma barreira mecânica, impedindo que Júlio aspirasse lama e viesse a morrer.
Na Lapa (zona oeste da capital), o aposentado Roberto de Fazzio, 70, foi encontrado morto após a casa dele desabar. O imóvel ficava no sopé de um terreno em declive (leia texto nesta página).


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