São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

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Líder de rebelião e traficante são resgatados em SP

ALESSANDRO SILVA
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro homens armados ""roubaram" dois presos das mãos da polícia, ontem de manhã, em São Paulo. Um deles é líder de rebelião e escapou duas vezes da prisão. O outro é traficante.
Os dois já estiveram na Casa de Detenção de Taubaté com os líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção que deflagrou a maior rebelião da história do país e que domina esquemas de fuga e corrupção.
O resgate aconteceu por volta das 9h na rodovia Edgard Máximo Zamboto, a 30 km de São Paulo, que liga a capital a Campo Limpo Paulista (região metropolitana de São Paulo).
Marcelo da Silva Soares, o Buguelo, 28, e Leomar de Oliveira Barbosa, 38, eram levados de volta aos respectivos presídios por dois policiais civis, quando o grupo de resgate agiu.
Apesar de perigosos, segundo a própria polícia, eles estavam sendo transportados sem escolta adequada. A Folha apurou que, no mínimo dois carros, com quatro homens armados, fazem esse tipo de escolta normalmente.
""A informação do transporte vazou", segundo o delegado Marcelo Marinho, do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), que solicitou a vinda dos presos para depoimento em inquérito sobre tráfico. "Deveria ter havido sigilo, e não houve."

PCC
A polícia nega que os detentos resgatados sejam integrantes do PCC, facção também conhecida como ""Partido do Crime".
Soares liderou uma rebelião na Penitenciária de Franco da Rocha, em abril de 99. Depois disso, também foi levado para Taubaté, onde, na época, Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o mais importante membro do PCC, e Jonas Mateus, cumpriam pena.
Ele também é conhecido por suas fugas: escapou ontem pela terceira vez em sete anos. Buguelo conseguiu sair da carceragem do Depatri, zona norte de São Paulo, e da Penitenciária do Estado, segundo sua ficha prisional.
Ele cumpre pena de 30 anos por diversos assaltos a banco. Segundo a polícia, ele também é investigado por tentativa de resgate, em 99, no 74º DP (Parada de Taipas), em São Paulo. O alvo da operação era Eurípedes Silva Soares, seu irmão e também ladrão de bancos.
Barbosa, o segundo resgatado, é ""bem" conhecido no presídio de Assis, segundo funcionários do lugar, onde cumpria pena de 14 anos por tráfico. Ele também estava na Casa de Detenção de Taubaté quando o PCC liderou revolta, em dezembro, que terminou com a morte de nove presos.
Sombra e Mateus estão na lista dos líderes do PCC transferidos na última sexta-feira e que serviram como estopim para a megarrebelião do final de semana.

Saída
O Denarc informou ontem que pediu a saída dos dois presos para que eles fossem ouvidos em inquérito que investiga uma rota de tráfico de drogas, que passa por São Paulo e Paraná.
""Fizemos um pedido legal e tínhamos um autorização judicial para ouvi-los", afirmou o delegado José Antonio Carlos de Campos Gomes, da Diap (Divisão de Inteligência e Apoio Policial), órgão do Denarc.
Anteontem, os detentos saíram dos presídios, sob a custódia de policiais civis. Eles foram ouvidos no Denarc e, pela manhã, levados de volta às unidades de origem -Soares para Franco da Rocha (Grande São Paulo) e Barbosa para Assis, no interior do Estado.
No trajeto de volta, uma Parati fechou o veículo da polícia e bateu em sua lateral, forçando os agentes do Denarc a parar no acostamento da rodovia.
Antes disso, o carro dos policiais havia sido baleado. Um segundo veículo (uma outra Parati branca) dava cobertura à ação.
Quatro homens, portando fuzis e metralhadoras, cercaram os dois investigadores, retiraram os criminosos e fugiram na Parati branca. Os policiais ficaram algemados dentro do carro do Denarc, no acostamento da estrada.
Cerca de 4 km adiante, embaixo de um viaduto por onde passa a rodovia Bandeirantes, os criminosos deixaram o carro no qual fugiam. A polícia acredita que eles tenham andado para a Bandeirantes e seguido num terceiro carro, não identificado.
Os investigadores César Eduardo Barbaresco e Nei Donizete do Nascimento foram feridos durante a batida, mas não corriam risco de vida, segundo a polícia.
A Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Estadual fizeram buscas na Bandeirantes, na Anhanguera e no acostamento dessas rodovias, mas, até a noite, não haviam encontrado nada.
Os policiais do Denarc prestaram depoimento ontem no Girp (Grupo de Intervenção em Cenários de Resgate de Presos). A Secretaria de Estado da Segurança Pública determinou que o inquérito siga em sigilo.


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