São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

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SAÚDE

Estudo da Unifesp ouviu 213 adolescentes; todos começaram a beber entre 9 e 13 anos de idade

Jovem aprende a beber em casa, diz pesquisa

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto o primeiro contato dos adolescentes com as drogas ilícitas acontece entre grupos de amigos, o contato com a bebida alcoólica ocorre dentro de casa. Na maioria das vezes sob os olhos e o consentimento dos pais.
A constatação aparece em pesquisa com 213 adolescentes coordenada pela psiquiatra Denise De Micheli, do departamento de psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
"O estudo revela o quanto a sociedade aceita e tolera o consumo de drogas como álcool e tabaco", disse Denise. Ela citou o exemplo comum de pais que chegam em casa cansados e estressados e tomam uma cerveja para relaxar. "Com isso, o filho passa a enxergar a droga como um facilitador diante de situações difíceis."
A pesquisa dividiu os jovens entre não-dependentes, dependentes leves e dependentes graves. O último grupo teve o primeiro contato com o álcool aos 9 anos, e os outros, entre 12 e 13 anos.
De acordo com a autora, quase todos os adolescentes disseram ter começado a beber por curiosidade. No caso dos dependentes mais graves, o álcool foi a busca de coragem para enfrentar situações difíceis. "Muitos desses adolescentes sofrem violência dentro da família ou convivem com familiares que também usam drogas", afirmou Denise.
Além da influência da família, a idéia de que a bebida tem a ver com o prazer e a de que a festa é construída pela propaganda. Um outdoor da Smirnoff Ice, espalhado pela cidade, vem chamando a atenção pela imagem de um jovem tomando a bebida no gargalo. O Ice é uma mistura de vodka com limonada, com teor alcoólico equivalente ao da cerveja. Pela legislação em vigor, a campanha está dentro da lei. Para os especialistas, ela é prejudicial. "A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera fundamental a proibição da propaganda do álcool para a redução dos danos do alcoolismo", disse o especialista Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.
A OMS também considera importante um aumento no preço das bebidas. "No Brasil, compra-se uma garrafa de cachaça por R$ 1,50", disse Laranjeira. Segundo ele, a fusão das cervejarias trará uma provável redução no preço, "com mais consumo e reflexos diretos na saúde pública".
Outro ponto defendido pela OMS é uma legislação que puna o álcool no volante e controle o número de pontos-de-venda. No Brasil, 50% das internações psiquiátricas masculinas são por alcoolismo. Cerca de 15% dos adultos têm problemas com a bebida.
(AURELIANO BIANCARELLI)

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