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SAÚDE
Estudo da Unifesp ouviu 213 adolescentes; todos começaram a beber entre 9 e 13 anos de idade
Jovem aprende a beber em casa, diz pesquisa
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o primeiro contato
dos adolescentes com as drogas
ilícitas acontece entre grupos de
amigos, o contato com a bebida
alcoólica ocorre dentro de casa.
Na maioria das vezes sob os olhos
e o consentimento dos pais.
A constatação aparece em pesquisa com 213 adolescentes coordenada pela psiquiatra Denise De
Micheli, do departamento de psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
"O estudo revela o quanto a sociedade aceita e tolera o consumo
de drogas como álcool e tabaco",
disse Denise. Ela citou o exemplo
comum de pais que chegam em
casa cansados e estressados e tomam uma cerveja para relaxar.
"Com isso, o filho passa a enxergar a droga como um facilitador
diante de situações difíceis."
A pesquisa dividiu os jovens entre não-dependentes, dependentes leves e dependentes graves. O
último grupo teve o primeiro contato com o álcool aos 9 anos, e os
outros, entre 12 e 13 anos.
De acordo com a autora, quase
todos os adolescentes disseram
ter começado a beber por curiosidade. No caso dos dependentes
mais graves, o álcool foi a busca
de coragem para enfrentar situações difíceis. "Muitos desses adolescentes sofrem violência dentro
da família ou convivem com familiares que também usam drogas", afirmou Denise.
Além da influência da família, a
idéia de que a bebida tem a ver
com o prazer e a de que a festa é
construída pela propaganda. Um
outdoor da Smirnoff Ice, espalhado pela cidade, vem chamando a
atenção pela imagem de um jovem tomando a bebida no gargalo. O Ice é uma mistura de vodka
com limonada, com teor alcoólico
equivalente ao da cerveja. Pela legislação em vigor, a campanha está dentro da lei. Para os especialistas, ela é prejudicial. "A Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera fundamental a proibição da propaganda do álcool para
a redução dos danos do alcoolismo", disse o especialista Ronaldo
Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.
A OMS também considera importante um aumento no preço
das bebidas. "No Brasil, compra-se uma garrafa de cachaça por R$
1,50", disse Laranjeira. Segundo
ele, a fusão das cervejarias trará
uma provável redução no preço,
"com mais consumo e reflexos diretos na saúde pública".
Outro ponto defendido pela
OMS é uma legislação que puna o
álcool no volante e controle o número de pontos-de-venda. No
Brasil, 50% das internações psiquiátricas masculinas são por alcoolismo. Cerca de 15% dos adultos têm problemas com a bebida.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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