São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2001

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ACIDENTE

Prateleiras do Extra de São Caetano do Sul impediram que desastre fosse maior; duas crianças estão entre os feridos

Teto de hipermercado cai e fere 47 pessoas

DA REPORTAGEM LOCAL

Parte do telhado do hipermercado Extra desabou ontem sobre clientes e funcionários, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo), ferindo 47 pessoas. A estrutura que caiu tem o tamanho da metade de um campo de futebol.
Houve tumulto e correria no momento em que a cobertura metálica começou ceder, por volta das 16h30. A chuva forte que caía na hora do acidente pode ser a causa do desabamento.
Ontem à noite, dez pessoas permaneciam internadas em observação. As demais, com ferimentos leves, haviam sido liberadas.
Na lista de feridos estão duas crianças, uma adolescente e uma mulher grávida de 7 meses.
O estrago não foi maior porque as prateleiras e os caixas impediram que o teto tocasse direito o chão. Além disso, a cobertura cedeu aos poucos, em menos de um minuto, e não de uma única vez.
""Estava no caixa, quando ouvi um barulho forte, parecido com o de um raio, e o teto caiu", afirma a estudante Daniela Cristine Cunha, 17, que teve ferimentos nos braços. Ela ficou prensada entre os caixas, com as ferragens por cima, e acabou socorrida por funcionários do Extra.
Os bombeiros calcularam que 4.000 m2 de estrutura metálica, dos 26 mil m2 do telhado, caíram. Mais de 200 pessoas estariam dentro do prédio.
""Estava na entrada. Vi o teto caindo e senti uma pancada na cabeça. Não me lembro de mais nada", diz a auxiliar de limpeza Francinete Florencia de Souza Silva, 31, contratada pelo Extra há um mês. Ela desmaiou, foi retirada pelos bombeiros e acordou no pronto-socorro da cidade.
Cerca de 190 homens da polícia, bombeiros e Defesa Civil participaram da operação de resgate, em meio à enchente. As ruas ao redor do hipermercado se transformaram em um rio.
Helicópteros da Polícia Militar foram usados no transporte dos feridos. Eles pousaram no estacionamento do Extra.
Às 17h44, mais de uma hora após o acidente, o Corpo de Bombeiros anunciou que não existiam mais feridos embaixo dos escombros. Por três vezes, 80 bombeiros vasculharam o que sobrou do teto em busca de feridos.
Do lado de fora, uma multidão de parentes, amigos e curiosos se aglomerou para ter notícias. A dona-de-casa Maria Aparecida Parente, 65, desmaiou ao avistar a filha Rosane Parente, 38, funcionária do hipermercado, que julgava estar sob os escombros. Rosane disse à Folha que sua mãe havia recebido um telefonema dizendo que ela estaria morta.

Causas
"Uma sobrecarga na estrutura, por causa da chuva, pode ter causado a queda do telhado", afirma o coronel Wagner Ferrari, comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
Choveu granizo durante o forte temporal que atingiu São Caetano do Sul e parte da zona sul de São Paulo, segundo o serviço de meteorologia do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Peritos do Instituto de Criminalística estiveram no local à noite e devem retornar hoje. São eles que vão preparar o laudo sobre as causas do desabamento.
O que chamou a atenção dos bombeiros foi o tipo de material que cedeu. ""Se fosse madeira, como ocorreu com o templo da Universal (na capital, em 99), poderíamos dizer que houve desgaste. Estrutura metálica é muito difícil de ceder assim", diz o coronel.
Segundo a assessoria de comunicação do Grupo Pão de Açúcar, a área mais atingida foi a parte da frente do hipermercado, que começou a funcionar em 97, após uma reforma e ampliação de um antigo galpão de fábrica, construído na década de 70. O próprio Abílio Diniz, presidente do grupo, esteve no local ontem e disse que o desabamento aconteceu na área nova da estrutura.
Em nota divulgada ontem à noite, o Grupo Pão de Açúcar informou que realizaria ""rigorosa apuração para descobrir as causas do acidente". A empresa tem um grupo de engenheiros responsável pelas reformas e ampliações.
Segundo a Prefeitura de São Caetano do Sul, a documentação do prédio estava em ordem e as vistorias de rotina haviam sido realizadas. A licença foi expedida em dezembro de 97.
Peritos do Instituto de Criminalística irão analisar a documentação da prefeitura. (ALESSANDRO SILVA, ALENCAR IZIDORO, ARMANDO ANTENORE E MELISSA DINIZ)


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