|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PMs são mortos mais em folga que em serviço
Para corregedoria e associação de policiais, maioria das mortes ocorre durante "bico"
De 2005 a 2007, 173 policiais foram assassinados fora do horário de trabalho no Estado de São Paulo, contra 79 durante o expediente
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatórios da Corregedoria
da Polícia Militar de São Paulo
revelam que o risco de um dos
93 mil PMs do Estado ser morto no período de folga é mais
que o dobro do que quando ele
está no policiamento ostensivo.
Tanto para o órgão quanto para
a Associação de Cabos e Soldados, a maioria das mortes ocorre durante o chamado "bico".
De acordo com a corregedoria, responsável por investigar
os crimes nos quais PMs estão
envolvidos como autores ou vítimas, 252 policiais foram mortos no Estado nos anos de 2005,
2006 e 2007. Desse total, 173
estavam "fora de serviço" -o
número representa 68,65% do
total de mortos. Os mortos "em
serviço" foram 79 (31,35%).
A PM só considera que o policial está em serviço quando está escalado para o policiamento
ostensivo; quando se desloca
para ir ou voltar do trabalho; e
quando, por exemplo, vizinhos
o acionam para agir porque sabem de sua profissão.
O alto índice de letalidade fora do horário de serviço foi
constatado pela Folha a partir
da análise dos relatórios (de 36
meses) publicados mensalmente pela corregedoria no
"Diário Oficial" do Estado.
Neste ano, em janeiro e fevereiro, foram oito PMs mortos
em serviço e 11 na folga.
A Polícia Militar considera o
número de mortos fora do horário de serviço alto e afirma
que adota medidas técnicas e
operacionais para evitá-las
(leia texto nesta página).
Por lei, a Secretaria da Segurança Pública revela trimestralmente em seu site
(www.ssp.sp.gov.br/
estatisticas) apenas o número
de PMs mortos em serviço.
Por esses dados, entre os
anos de 2005 e 2007, a PM
paulista perdeu 79 integrantes
em serviço. Mas há os outros
173 mortos quando estavam de
folga, só revelados pelos balanços mensais da corregedoria.
Na folga, o "bico"
Corregedoria da PM e Associação de Cabos e Soldados, que
representa cerca de 74 mil dos
93 mil integrantes da PM hoje,
têm a convicção de que a maior
incidência de assassinatos
ocorre quando os policiais estão no "bico" -segurança privada prestada pelo PM fora de
seu horário de serviço.
"Com certeza, 99% dos que
morrem no trabalho ou fora dele são cabos ou soldados, até
porque são eles os que estão na
linha de frente", disse Wilson
de Oliveira Morais, presidente
da associação.
Segundo a legislação, PMs só
podem desenvolver duas atividades fora da corporação: educacional e difusão artística.
A segurança privada para
pessoas ou estabelecimentos,
segundo a lei, é considerada falta grave. Com a justificativa de
que soldados e cabos precisam
reforçar os salários com o "bico", Morais acredita que 80%
deles descumprem a lei.
Um cabo ganha, em média,
R$ 1.800; um soldado, cerca de
R$ 1.450. Com o "bico", o PM
consegue cerca de R$ 1.500.
De 2005 a 2007, sete PMs foram processados administrativamente pela corregedoria por
fazer "bico". Três foram demitidos, três foram punidos administrativamente e um pediu para sair da corporação antes do
resultado do processo.
Apenas parentes dos que
morreram em serviço têm o direito de receber o seguro, de
cerca de R$ 100 mil.
Texto Anterior: Chuva provoca 5 mortes e deixa 24 famílias desalojadas na Paraíba Próximo Texto: Assassinatos são estudados durante cursos, diz corregedor Índice
|