São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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PMs são mortos mais em folga que em serviço

Para corregedoria e associação de policiais, maioria das mortes ocorre durante "bico"

De 2005 a 2007, 173 policiais foram assassinados fora do horário de trabalho no Estado de São Paulo, contra 79 durante o expediente

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Relatórios da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo revelam que o risco de um dos 93 mil PMs do Estado ser morto no período de folga é mais que o dobro do que quando ele está no policiamento ostensivo. Tanto para o órgão quanto para a Associação de Cabos e Soldados, a maioria das mortes ocorre durante o chamado "bico".
De acordo com a corregedoria, responsável por investigar os crimes nos quais PMs estão envolvidos como autores ou vítimas, 252 policiais foram mortos no Estado nos anos de 2005, 2006 e 2007. Desse total, 173 estavam "fora de serviço" -o número representa 68,65% do total de mortos. Os mortos "em serviço" foram 79 (31,35%).
A PM só considera que o policial está em serviço quando está escalado para o policiamento ostensivo; quando se desloca para ir ou voltar do trabalho; e quando, por exemplo, vizinhos o acionam para agir porque sabem de sua profissão.
O alto índice de letalidade fora do horário de serviço foi constatado pela Folha a partir da análise dos relatórios (de 36 meses) publicados mensalmente pela corregedoria no "Diário Oficial" do Estado. Neste ano, em janeiro e fevereiro, foram oito PMs mortos em serviço e 11 na folga.
A Polícia Militar considera o número de mortos fora do horário de serviço alto e afirma que adota medidas técnicas e operacionais para evitá-las (leia texto nesta página).
Por lei, a Secretaria da Segurança Pública revela trimestralmente em seu site (www.ssp.sp.gov.br/ estatisticas) apenas o número de PMs mortos em serviço.
Por esses dados, entre os anos de 2005 e 2007, a PM paulista perdeu 79 integrantes em serviço. Mas há os outros 173 mortos quando estavam de folga, só revelados pelos balanços mensais da corregedoria.

Na folga, o "bico"
Corregedoria da PM e Associação de Cabos e Soldados, que representa cerca de 74 mil dos 93 mil integrantes da PM hoje, têm a convicção de que a maior incidência de assassinatos ocorre quando os policiais estão no "bico" -segurança privada prestada pelo PM fora de seu horário de serviço.
"Com certeza, 99% dos que morrem no trabalho ou fora dele são cabos ou soldados, até porque são eles os que estão na linha de frente", disse Wilson de Oliveira Morais, presidente da associação.
Segundo a legislação, PMs só podem desenvolver duas atividades fora da corporação: educacional e difusão artística.
A segurança privada para pessoas ou estabelecimentos, segundo a lei, é considerada falta grave. Com a justificativa de que soldados e cabos precisam reforçar os salários com o "bico", Morais acredita que 80% deles descumprem a lei.
Um cabo ganha, em média, R$ 1.800; um soldado, cerca de R$ 1.450. Com o "bico", o PM consegue cerca de R$ 1.500.
De 2005 a 2007, sete PMs foram processados administrativamente pela corregedoria por fazer "bico". Três foram demitidos, três foram punidos administrativamente e um pediu para sair da corporação antes do resultado do processo.
Apenas parentes dos que morreram em serviço têm o direito de receber o seguro, de cerca de R$ 100 mil.


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