São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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Bicicletas alugadas são mais para lazer, diz ONG

Organização Parada Vital, responsável pelo projeto UseBike nas estações de SP, oferece alternativa ao trânsito

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

A cena contrastou com o caos vivido na metrópole, na última terça. Atendentes de um bicicletário instalado à porta da estação Paraíso do metrô (zona sul de SP), uma das mais movimentadas, observavam a rua com olhos de tédio profundo. Esperavam por alguém que retirasse uma das oito bicicletas brancas e azuis do projeto UseBike, que começou a funcionar há seis meses. O empréstimo é grátis na primeira hora e custa R$ 2 a cada hora seguinte.
Nas estações Vila Mariana, Marechal Deodoro, Santa Cecília, Sé, Vila Madalena, Santana e Barra Funda, visitadas pela Folha durante toda a semana, o baixo movimento se repetiu, com chuva ou com sol. "Dia de semana é assim, pacato", explicou uma atendente, que preferiu o anonimato.
A ideia é oferecer alternativa de transporte leve integrado à rede de metrô, para facilitar viagens pelos arredores das estações. Nada muito ambicioso, se comparado ao projeto Vélib, de Paris, referência mundial, que começou com 20 mil bicicletas em 2007. O similar paulistano deu pontapé inicial com 40 unidades em quatro pontos da Linha Vermelha do Metrô e chega hoje a 202 espalhadas por 22 bicicletários.
Mas os paulistanos ainda não despertaram para o objetivo central do projeto. A expansão do sistema de empréstimo de bikes, módica para uma cidade de 11 milhões de habitantes, só foi garantida pelo sucesso que conquistou nos fins de semana. "As bicicletas estão sendo usadas mais para lazer", diz Ismael Caetano, presidente da ONG Parada Vital, responsável pela implementação do sistema.
No sábado e no domingo passados, foram feitas 410 locações nos dois dias, somadas as de todas as estações. Para efeito de comparação, na segunda-feira, esse número foi de 120 saídas em toda a capital, o que representou uma queda de 41,5%.
Ainda assim, quem sacou que o UseBike pode ser uma boa opção de transporte público está se dando bem. O analista de controladoria Fábio Buso, 36, quebrou um vazio de quase uma hora em horário de pico na estação Sé. Fim de expediente, os sapatos e a calça guardados em uma bolsa, ele pegou uma bike às 18h30 de segunda, para fazer o trajeto até a Vila Guilhermina pela Radial Leste. "Vou feliz, vendo as pessoas presas no trânsito, outras espremidas no trem", disse.
Quem está acostumado com o serviço de bikes mundo afora não poupa elogios ao sistema paulistano. O americano Holmes Wilson, 29, o definiu em bom português: "Muito bom". Com seu olhar de turista, ele avalia outros benefícios. "De bike, consigo conhecer a cidade fora de rotas turísticas, entrar pelos bairros. Fui até o Minhocão e achei maravilhoso", disse. Para estrangeiros, há instruções de uso em inglês em todos os pontos do projeto.
Nesses seis meses, seis bicicletas foram furtadas, o que explica o excesso de segurança e a vigilância de funcionários. Sem cartão de crédito, não há como fazer a retirada, modelo que segue o Vélib de Paris. Até o final deste ano, mais 28 bicicletários devem ser implantados, com 300 novas bicicletas.

Ciclovias só no papel
O projeto UseBike precisa de estrutura urbana. São Paulo possui apenas 16 km de ciclovias fora de parques, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, contra 17 mil km de ruas e avenidas destinadas aos automóveis. Também faltam campanhas de educação no trânsito. Dos 12,2 km da Radial Leste previstos para serem entregues até o fim do governo anterior de Kassab, por exemplo, só 6 km saíram do papel.


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