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Aluno rico inflam nota de particulares no Enem
Escola técnica pública sobe de posto quando nível socioeconômico é considerado
Conclusão é de especialista que criou indicador para verificar o quanto escolas de ensino médio agregam de conhecimento a alunos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os colégios privados, que
sempre se destacam no ranking
do Enem nas primeiras colocações, perdem a liderança para
escolas técnicas públicas quando se considera o nível socioeconômico de seus alunos.
A conclusão é de um estudo
inédito do especialista em avaliação Francisco Soares, da
UFMG. Ele construiu um indicador do nível socioeconômico
dos alunos de cada escola a partir de informações como escolaridade, ocupação, renda e
acesso a bens de consumo por
parte das famílias.
Os dados constam de um
questionário respondido por
alunos que fazem o Enem.
A partir deste indicador, Soares calculou quantos pontos,
além do que era esperado pelas
características do seu alunado,
cada escola teve.
O trabalho permite identificar escolas que, mesmo não
tendo alunos de alto nível socioeconômico, conseguem fazer mais por seus estudantes do
que se esperaria delas.
Sabe-se, a partir de evidências empíricas de inúmeros estudos, que a variável que mais
influencia o desempenho do
aluno é seu nível socioeconômico. Escolas particulares de
elite, portanto, têm uma vantagem em relação às demais não
necessariamente por suas boas
práticas pedagógicas, mas por
atender uma clientela rica.
Sem nenhum ajuste pelas características dos alunos, as particulares ocupam 85 das 100
primeiras posições e apenas
uma das 100 últimas no ranking do Enem. Fazendo esse
controle, o quadro muda radicalmente: elas passam a representar 35 das 100 melhores escolas, e 91 das 100 piores.
O bom resultado das escolas
públicas no ranking, no entanto, é praticamente restrito a escolas técnicas, especialmente
as estaduais de São Paulo, ou
colégios de aplicação vinculados a universidades. Em todos
esses casos, são instituições
que realizam vestibulinhos.
"As escolas técnicas têm bom
resultado pois dão oportunidades excelentes para alunos de
nível socioeconômico mediano. Isto mostra um problema
sério da escola pública brasileira. Só temos bom resultado onde há seleção", afirma Soares.
Das 20 melhores escolas no
ranking ajustado, 11 são técnicas estaduais paulistas vinculadas ao Centro Paula Souza- a
escola Professor Armando Bayeux da Silva, de Rio Claro, é a
primeira colocada da lista.
A diretora-superintendente
do Paula Souza, Laura Laganá,
reconhece que qualquer comparação com escolas públicas
tradicionais é injusta. "Temos
80% de alunos de escolas municipais ou estaduais, e 70% deles
têm renda média familiar inferior a cinco salários mínimos.
Como fazemos processo seletivo com relação de seis candidatos por vaga, recebemos os melhores alunos da rede pública."
Sobre o desempenho das particulares, José Augusto Lourenço, presidente da Federação
Nacional das Escolas Particulares, diz que também há diversidade na rede privada.
Ele diz ainda não considerar
adequado comparar escolas pelo Enem. Até 2008, o exame
não era usado pelas principais
universidades, o que diminuía
sua atratividade para jovens de
escolas particulares.
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