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E O OSCAR VAI...
Torcida dos antigos participantes de grupos de esquerda ainda está dividida; viúva é contra o prêmio
Torcida pelo filme divide opiniões
da Reportagem Local
Os protagonistas da guerrilha da
vida real se dividem na torcida pelos guerrilheiros vividos na ficção
por Pedro Cardoso, Fernanda
Torres e Cláudia Abreu. Na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, "O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, ainda
causa a mesma polêmica de quando foi lançado.
Membro do grupo que participou do sequestro do embaixador
norte-americano Charles Elbrick,
o economista Paulo de Tarso Venceslau está na torcida a favor do
Oscar para o filme de Barreto.
"Eu vou torcer porque, apesar
das minhas divergências historiográficas, a vitória de um filme brasileiro é a vitória do Brasil, e isso é
muito mais importante que as
partes mal cuidadas", diz. Venceslau era um dos quatro sequestradores que estavam no carro com
Elbrick durante a ação. "Éramos
todos homens. No filme, são três,
e um deles é mulher. Acho que eu
sou a Fernanda Torres", brinca.
"Como filme em si, é bom. Cria
tensão, é tecnicamente bem-feito.
Mas eles usaram o Jonas (Virgílio
Gomes da Silva) e o Toledo (Joaquim Câmara Ferreira) com os codinomes verdadeiros e os distorceram completamente. Jonas era
muito firme, mas nunca um assassino frio e maquiavélico. Esta é a
parte mais pesada para mim".
Suzana Lisboa, membro da Comissão de Familiares dos Desaparecidos Políticos disse que irá assistir à cerimônia como faz todos
os anos. "Mas não torço pelo filme
porque ele não conta a verdadeira
história. Eles deveriam é usar o dinheiro da bilheteria para ajudar a
encontrar o corpo de Jonas, desaparecido desde 1969", disse Suzana, que é viúva de Luiz Eurico Tejera Lisboa, o primeiro desaparecido cujo corpo foi encontrado.
Iara Xavier Pereira, que atuou na
ALN (Aliança Libertadora Nacional) durante o regime militar entre
1969 e 1973 e ficou exilada cinco
anos em Cuba, se diz contra a "patrulha" ideológica que se formou
em torno do filme na ocasião em
que foi lançado, no ano passado.
"Nós da ALN lamentamos a distorção da figura do Jonas, que foi
descaracterizado e vítima de preconceito social por parte de Bruno
Barreto porque era o único operário na ação", diz. "Mas torço para
que o filme seja premiado porque
vai favorecer a que outros sobre o
tema sejam feitos. Há vários episódios que merecem ser filmados. Só
a indicação já foi válida".
Indeciso
O professor de Sociologia da
Unesp Marcelo Ridenti, que não
participou da guerrilha mas escreveu um dos textos publicados no
livro "Versos e Ficções - O Sequestro da História" criticando o filme,
ainda não se decidiu. "Por um lado dá vontade de torcer, porque aí
o filme vai ser assistido por mais
gente, e este assunto que estava
quase esquecido volta à tona. Por
outro, vai passar uma visão de suposta neutralidade do diretor, o
que não é verdade", diz.
O deputado federal José Genoíno (PT-SP) disse apenas que irá
assistir à entrega do Oscar em casa. "Vou participar de uma plenária para discutir meu mandato e
depois vou para casa, em São Paulo, assistir à entrega do Oscar."
Militante do PC do B durante o regime militar, Genoíno foi membro
do grupo que preparou a guerrilha
do Araguaia na década de 70.
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