São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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E O OSCAR VAI...
Torcida dos antigos participantes de grupos de esquerda ainda está dividida; viúva é contra o prêmio
Torcida pelo filme divide opiniões

da Reportagem Local

Os protagonistas da guerrilha da vida real se dividem na torcida pelos guerrilheiros vividos na ficção por Pedro Cardoso, Fernanda Torres e Cláudia Abreu. Na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, "O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, ainda causa a mesma polêmica de quando foi lançado.
Membro do grupo que participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, o economista Paulo de Tarso Venceslau está na torcida a favor do Oscar para o filme de Barreto.
"Eu vou torcer porque, apesar das minhas divergências historiográficas, a vitória de um filme brasileiro é a vitória do Brasil, e isso é muito mais importante que as partes mal cuidadas", diz. Venceslau era um dos quatro sequestradores que estavam no carro com Elbrick durante a ação. "Éramos todos homens. No filme, são três, e um deles é mulher. Acho que eu sou a Fernanda Torres", brinca.
"Como filme em si, é bom. Cria tensão, é tecnicamente bem-feito. Mas eles usaram o Jonas (Virgílio Gomes da Silva) e o Toledo (Joaquim Câmara Ferreira) com os codinomes verdadeiros e os distorceram completamente. Jonas era muito firme, mas nunca um assassino frio e maquiavélico. Esta é a parte mais pesada para mim".
Suzana Lisboa, membro da Comissão de Familiares dos Desaparecidos Políticos disse que irá assistir à cerimônia como faz todos os anos. "Mas não torço pelo filme porque ele não conta a verdadeira história. Eles deveriam é usar o dinheiro da bilheteria para ajudar a encontrar o corpo de Jonas, desaparecido desde 1969", disse Suzana, que é viúva de Luiz Eurico Tejera Lisboa, o primeiro desaparecido cujo corpo foi encontrado.
Iara Xavier Pereira, que atuou na ALN (Aliança Libertadora Nacional) durante o regime militar entre 1969 e 1973 e ficou exilada cinco anos em Cuba, se diz contra a "patrulha" ideológica que se formou em torno do filme na ocasião em que foi lançado, no ano passado.
"Nós da ALN lamentamos a distorção da figura do Jonas, que foi descaracterizado e vítima de preconceito social por parte de Bruno Barreto porque era o único operário na ação", diz. "Mas torço para que o filme seja premiado porque vai favorecer a que outros sobre o tema sejam feitos. Há vários episódios que merecem ser filmados. Só a indicação já foi válida".

Indeciso
O professor de Sociologia da Unesp Marcelo Ridenti, que não participou da guerrilha mas escreveu um dos textos publicados no livro "Versos e Ficções - O Sequestro da História" criticando o filme, ainda não se decidiu. "Por um lado dá vontade de torcer, porque aí o filme vai ser assistido por mais gente, e este assunto que estava quase esquecido volta à tona. Por outro, vai passar uma visão de suposta neutralidade do diretor, o que não é verdade", diz.
O deputado federal José Genoíno (PT-SP) disse apenas que irá assistir à entrega do Oscar em casa. "Vou participar de uma plenária para discutir meu mandato e depois vou para casa, em São Paulo, assistir à entrega do Oscar." Militante do PC do B durante o regime militar, Genoíno foi membro do grupo que preparou a guerrilha do Araguaia na década de 70.



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