São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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SAIA JUSTA
Mulher pede ao marido "strip' doméstico
Rodney Suguita/Folha Imagem
O comerciante Paulo Fernandes, que frequentou aulas de strip-teasesó para fazer uma surpresa para a mulher, diz que não ficou contente com a própria performance


Eduardo Gonçalves, que fez striptease ao som de trilha de filme





PAULO SAMPAIO
da Reportagem Local

O cinema levou os homens a uma "saia justa": depois do filme "Ou Tudo Ou Nada" (leia texto ao lado), em que a personagem Jean incentiva o marido barrigudo e fora de forma a fazer striptease, muitas mulheres da vida real resolveram pedir o mesmo em casa.
"Adoraria que ele fizesse um "strip' só para mim", disse a fonoaudióloga Sílvia Lemos, 33, depois de assistir ao filme na quinta-feira com o marido, o arquiteto Marcos Cardoso, 38.
"Nem por dinheiro", diz Cardoso. Ele se recusa sequer a imaginar a possibilidade de fazer o striptease, mas cai na provocação. "Eu? Vergonha do físico? Eu estou muito melhor do que aqueles caras do filme", diz.
Pessoas que assistiram à mesma sessão que o casal, a das 20h20, no Cinearte 1, em São Paulo, disseram à Folha que o filme despertou curiosidades.
"Não acho que as mulheres levam essa história de striptease a sério como os homens", diz a socióloga Mariza Barroso. "Por isso mesmo, se o cara fizer com bom humor, pode ser muito divertido."
O marido de Mariza, o empresário Celso Alvarez, 38, diz que só faria o striptease se estivesse "alto". "Bebendo um pouco, acho que o show sai", brinca.
As amigas Claudia Ferri, 31, Mônica Picci, 29, e Tereza Frota, 35, que foram juntas ao cinema, têm opiniões divergentes. "Acho que não sentiria nada se o meu namorado fizesse striptease para mim. Só vontade de rir", diz Cláudia.
"Isso é porque nunca fizeram um "strip' legal para você", diz Mônica, que não precisou pedir a um ex-namorado "malhadão" que tirasse a roupa só para ela.
"Fiquei de boca aberta com a performance dele", lembra ela, que terminou o namoro em pouco tempo. "Não sei aonde o cara aprendeu aquilo, mas deve ter sido em um lugar onde não se ensinava a transar. Ele se achava lindo, mas era péssimo de cama."
"Para mim, ele era meio gayzão", diz Tereza, que não consegue explicar de outro jeito a vontade de alguns homens de fazer striptease. "Esses caras muito exibidos, não sei não..."
Sunguinha cavada
A receptividade das mulheres varia. "Encarei como uma homenagem a mim", diz a esteticista Amélia Veiga, 37, cujo marido fez aulas de striptease só para fazer a surpresa para ela.
"Eu sempre pedia para ele fazer o "strip', mas não achava que um dia ele tomaria coragem", conta.
Embora não tenha ficado satisfeito com a própria performance, o marido de Amélia, o comerciante Paulo Fernandes, 25, conta que se esmerou. "Estava com uma sunguinha bem mais cavada do que a cueca que eu costumo usar", diz Fernandes. "Mas não acho que tenha conseguido me soltar."
Ele teve aula com Nelma Penteado, a professora de Amélia. "Minha mulher tinha tido aula com a Nelma e comentou que a professora estava fazendo teste com uma turma masculina. Eu me inscrevi sem contar nada", diz.
Nelma resolveu dar aulas para homens, atendendo a pedidos de suas alunas mulheres. "A maior parte delas diz que gostaria de assistir a um striptease do marido", explica ela, que agora abriu inscrições para cursos masculinos. "Já há quase 80 inscritos", diz.
Para o empresário Eduardo Gonçalves, 27, que participou da aula experimental por sugestão da mulher, o curso foi "bastante educativo". "Eu sou extrovertido, mas estou barrigudo. O curso me ajudou a relaxar com relação a isso."
Como a maioria dos alunos que participaram desse curso experimental, Gonçalves teve receio do constrangimento durante a aula.
"Imagine uma turma cheia de homens aprendendo a fazer striptease com uma mulher. É complicado", diz ele, que, na hora de aplicar o que aprendeu, espantou o medo do ridículo com a trilha sonora do filme "Quatro Casamentos e Um Funeral" (leia depoimento ao lado).
Entre outros truques, a professora Nelma ensina o barrigudo a "segurar a parceira pelo olhar". "O poder de sedução está nos olhos", acredita. Ela ensina ainda que, para a mulher, não é importante que o homem esteja excitado quando retira a última peça (cueca).
"O importante é a beleza que vem de dentro", aprendeu a gerente de vendas Sandra Roque, 37. Diz que tudo é uma questão de energia. "Se você se sente atraente, a energia passa para o cara."



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