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ATENTADO 2
Índios da aldeia rezarão e cantarão em círculo, em volta do caixão e de todas as armas que possuem
Enterro será marcado por ritual de protesto
da Agência Folha, em Pau Brasil
Um ritual de protesto marca hoje
em Pau Brasil (BA) a chegada do
corpo e o enterro do índio pataxó
Galdino Jesus dos Santos, 45.
Chamado pelos índios de ``dança do protesto'', o ritual deve reunir os 1.723 membros da tribo pataxó hã-hã-hãe, onde Santos morava.
Santos morreu na madrugada de
ontem, no Hospital Regional da
Asa Norte, em Brasília, depois de
ter o corpo incendiado por adolescentes de classe média.
O corpo do índio deve chegar às
12h ao aeroporto de Ilhéus (BA), a
157 km da aldeia.
Ele virá de Brasília em avião fretado pela Funai (Fundação Nacional do Índio), segundo o cacique
Wilson de Jesus Souza, 32.
De Ilhéus à aldeia o caixão será
transportado em um carro do Corpo de Bombeiros.
O enterro está previsto para a
tarde de hoje, mas, a pedido dos
parentes, pode ser realizado amanhã.
Armas
Quando o corpo chegar à aldeia,
será iniciado o ritual de protesto. O
caixão será colocado no centro de
um círculo desenhado no chão de
terra ao lado de todas as armas dos
índios da aldeia.
Em seguida, de mãos dadas, os
índios ficarão dando voltas em
torno do círculo, cantando e fazendo orações.
Durante os 15 minutos de duração do ritual, os índios cantam:
``Na minha aldeia tem beleza sem
plantar, eu tenho arco, tenho a flecha, tenho a raiz para curar. Viva
Jesus, eu quero a sua luz''. Uma
salva de palmas encerra o ritual.
Esse ritual somente acontece em
caso de morte violenta.
A última vez que os índios da aldeia hã-hã-hãe o realizaram foi em
1988, quando João Cravinho, irmão de Santos, foi morto em uma
emboscada dentro da área indígena com golpes de facão.
O ritual já foi realizado ontem
por duas vezes, pela manhã e à tarde. É o que os índios fazem quando
o corpo está ausente.
Luto
Com 1.079 hectares, a reserva
Caramuru-Catarina-Paraguassu é
habitada por 1.723 índios, que reivindicam uma área de 36 mil hectares há 15 anos na Justiça. A área
foi originalmente demarcada para
os índios pataxós pelo antigo Ministério da Guerra, em 1926.
Ontem a aldeia amanheceu de
luto. Os índios suspenderam todas
as suas atividades e se reuniram na
casa da mãe do índio assassinado,
Minervina Maria de Jesus, 58, para
lhe dar os pêsames e rezar.
Chorando muito, o cacique Wilson de Jesus Souza, neto de Minervina, disse que a morte de Galdino
``não vai enfraquecer'' a luta da aldeia pela terra.
``O sofrimento de Galdino vai
dar mais força para a tribo lutar
pelos seus direitos.''
Galdino era um dos dez integrantes do conselho que dirige a
aldeia.
Os índios pataxós, no sul da Bahia, estão em contato com o homem branco há exatos 497 anos,
ou seja, desde o descobrimento do
Brasil.
Na aldeia hã-hã-hãe, todos falam
português, têm escola até a 4¦ série, energia elétrica e televisão.
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