São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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NARCOTRÁFICO

Segundo Exército colombiano, traficante procurado desde 97 estava em avião de contrabandista que foi interceptado

Colômbia anuncia captura de Beira-Mar

PEDRO DANTAS
ISABEL CLEMENTE

DA SUCURSAL DO RIO
O Exército da Colômbia anunciou ontem a prisão de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, considerado o maior traficante de drogas da América do Sul por autoridades brasileiras e colombianas.
Segundo o governo da Colômbia, Beira-Mar foi preso nas selvas da região do Estado de Vichada, cerca de 100 quilômetros da fronteira com a Venezuela.
O chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Getúlio Bezerra, confirmou que os colombianos informaram a prisão do traficante.
Condenado a 30 anos de prisão pela Justiça brasileira, Beira-Mar estava foragido desde 1997 quando escapou de uma prisão em Belo Horizonte (MG).
Luiz Fernando da Costa, 33, começou a atuar no tráfico na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, no Rio) em 1990. Em pouco tempo se tornou o maior fornecedor de cocaína no atacado, suprindo as bocas-de-fumo da cidade e exportando drogas para outros Estados.
O traficante se tornou conhecido nacionalmente após denunciar extorsões de policiais federais na Comissão Parlamentar de Inquérito do Narcotráfico, em 1999. O governo do Rio chegou a oferecer R$ 100 mil por informações que levassem a sua prisão.
Beira-Mar estava na Colômbia desde o ano passado quando se associou ao comandante da Frente 16 das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Tomas Medina Caracas, o Negro Acácio, apontado pelo Exército daquele país como a "caixa registradora" do grupo guerrilheiro.
Segundo autoridades colombianas, o brasileiro fornecia armas contrabandeadas do Paraguai para a guerrilha em droga de cocaína produzida nos Estados de Vichada, Guaianía e Guaviare.
Desde fevereiro, 5.000 soldados da 4ª Divisão do Exército da Colômbia procuravam Beira-Mar e Negro Acácio na operação intitulada Gato Negro.
Em março, o traficante teria sido ferido com três tiros em uma operação do Exército que destruiu três laboratórios de refino de cocaína nas selvas colombianas, na região de Barrancominas.

A prisão
De acordo com o porta-voz do Exército colombiano, capitão Fernando Ávila, a operação Gato Negro derrubou na última quinta-feira um avião, matando cinco tripulantes, e teria obrigado outro a fazer pouso forçado na selva.
Ferido, o piloto da aeronave que pousou se identificou como capitão Benavides e afirmou que os demais tripulantes tinham fugido para o interior da selva. Ele disse ainda que estava pilotando a aeronave sob ameaça de morte.
No entanto, o Exército afirma que o piloto já era um conhecido contrabandista na região que, no ano passado, teve seu avião confiscado após a polícia ter encontrado dentro da aeronave 30 milhões de pesos supostamente pertencentes ao narcotráfico.
Desde então, 350 soldados de contraguerrilha da operação Gato Negro estavam perseguindo os quatro passageiros do avião.
"O cerco aos tripulantes durou cerca de 48 horas. Fernandinho não apresentou resistência quando foi capturado, mas apresentou várias cédulas falsas de identidade. Ele não estava ferido, mas não possui três dedos da mão esquerda, que perdeu no tiroteio em março passado", disse o comandante da 4ª Divisão do Exército da Colômbia, Arcesio Barrero.
No último dia 17, a Polícia Antinarcóticos daquele país fez a primeira prisão de um integrante das Farc baseada em informações obtidas a partir da prisão de membros da quadrilha de Beira-Mar, que estavam em território colombiano desde o ano passado.
Luís Garcia, o Franklin Cabezón, foi preso em Bogotá após o rastreamento das chamadas telefônicas de Elizete Silva Lira, uma das mulheres que acompanhavam Beira-Mar na Colômbia, presa no último dia 22 de março, em Bogotá, capital do país vizinho.


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