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Padre desaparece em vôo com balões de festa
Suspenso por mil bexigas com gás hélio, Adelir Antônio de Carli, 42, tentava bater recorde mundial de balonismo caseiro
Mesmo com céu nublado e chuvoso, ele partiu de Paranaguá (PR) e, em seu último contato, disse que iria cair no litoral de SC
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Suspenso por cerca de mil
balões de festa cheios de gás hélio, um padre de 42 anos desapareceu na noite de anteontem
no litoral de Santa Catarina.
Praticante do balonismo caseiro, também conhecido como
navegação em balões de festa, o
padre Adelir Antônio de Carli,
42, tentava bater um recorde
mundial da categoria -queria
ficar 20 horas no ar.
Segundo a equipe de apoio do
padre, o recorde pertence a
dois norte-americanos que ficaram 19 horas no ar.
Além do recorde, o padre dizia ainda que iria divulgar a
Pastoral Rodoviária, de apoio a
caminhoneiros.
Carli partiu de Paranaguá (96
km de Curitiba) às 13h de domingo. Seu destino era Ponta
Grossa (113 km de Curitiba), a
180 km do local da decolagem.
Mesmo com o céu nublado e
pancadas de chuva, o padre
manteve o vôo. Segundo o empresário José Agnaldo de Morais, da equipe de apoio, Carli
chegou a ser aconselhado a
adiar a viagem, mas se recusou.
"Ele sempre tomou a última
decisão sobre o que fazer."
Nesse tipo de navegação, o
balão depende da direção do
vento e é apenas controlado pelo piloto nos momentos de subida ou descida. A suspeita é
que o balão do religioso tenha
sido atingido por uma corrente
de vento. Por causa disso, ele foi
levado para o mar, em sentido
oposto ao de Ponta Grossa, seu
destino original. Ele chegou a
atingir 5.500 m de altura, segundo a equipe de apoio.
Por celular via satélite, o padre entrou em contato com os
bombeiros de Guaratuba (PR) e
disse que precisava que alguém
o ensinasse a operar o aparelho
de GPS (sistema de posicionamento global) que portava. Disse ainda que a bateria do seu telefone estava acabando.
Carli fez o último contato do
balão com bombeiros de São
Francisco do Sul, no litoral norte de Santa Catarina, às 20h45
de anteontem. Informou que
perdia altura e que precisava de
resgate, pois iria cair no mar.
O padre dizia estar a 20 km
da costa, entre as cidades de
São Francisco do Sul e Barra do
Sul. Pela costa, o local fica a 90
km do ponto da decolagem.
Resgate
As buscas começaram na tarde de anteontem e se estenderam até as 18h30 de ontem.
Embarcações civis, um avião da
FAB (Força Aérea Brasileira),
outro do governo do Paraná,
um helicóptero da Polícia Militar e dois barcos da Marinha
participaram dos trabalhos.
Pela manhã, foram encontrados, em Penha (120 km de Florianópolis), destroços dos equipamentos -balões e cordas-
usados pelo religioso.
Para o bombeiro Johnny
Coelho, há 70% de chances de o
padre estar vivo. "Temos informação de que ele tem curso de
mergulho, alpinismo, sobrevivência em selva e salvamento
aquático. Levava água e pode,
sim, estar vivo." "A esperança é
que ele seja encontrado com vida", fez coro Morais, da equipe
de apoio. Segundo ele, o padre
informou a base da Aeronáutica em Curitiba sobre o vôo.
Carli levava barras de cereais
e água no vôo. De acordo com
Morais, o padre poderia boiar
no mar, pois carregava oito bolsas impermeáveis com água,
que servem de lastro para ganhar ou perder altura.
Para evitar congelamento em
alturas de até 5.000 metros,
Carli usava capacete, botas e
um macacão de pára-quedismo
de tecido grosso de algodão.
Por baixo, portava ainda um
traje conhecido como "manta
de alumínio", usado por praticantes de balonismo e pára-quedistas para evitar o congelamento a grandes alturas.
O padre havia feito um teste
com um balão semelhante há
cerca de um mês, em Ampére
(510 km de Curitiba). Chegou a
5.300 metros de altura e voou
cem quilômetros, por quatro
horas, até atingir o município
argentino de San Antonio.
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