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Professor sem preparo trava uso de computador em escola
Colégios também sofrem com falta de estrutura para abrigar equipamentos
Laboratórios de informática são subutilizados por falta de conhecimento técnico dos professores para
aplicá-los no ensino
ELVIRA LOBATO
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A implantação de laboratórios de informática em todas as
escolas públicas do país até o
fim de 2010, prometida pelo governo Lula, esbarra no despreparo dos professores para usar
o computador e na falta de manutenção dos equipamentos e
das instalações, responsabilidade de Estados e municípios.
É o caso de Almenara (MG),
onde os 15 computadores da escola estadual Angelina Nascimento são usados apenas por
cerca de 15 horas ao mês. Motivo: os professores temem quebrar as máquinas.
Desde 1997, o ProInfo (programa de informatização das
escolas, do Ministério da Educação) já investiu R$ 726 milhões. Os gastos crescem anualmente. Só no ano passado, eles
chegaram a R$ 317 milhões (1%
do orçamento do MEC).
O percentual de escolas públicas com laboratório de informática também cresceu. De
1999 a 2006, passou de 46% para 63% no ensino médio e de
8% para 19% no fundamental.
A falta de qualificação dos
professores, porém, coloca em
risco o investimento feito, diz
Flávio de Araújo Barbosa, presidente para a Região Nordeste
da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação.
Em São Gonçalo do Amarante (CE), onde Barbosa é secretário de Educação, só 3 dos 479
professores da rede municipal
receberam treinamento. Segundo ele, a situação é mais
grave no Norte e no Nordeste.
Por duas semanas, a Folha
entrevistou diretores de escolas em nove Estados para avaliar a utilização dos laboratórios. A maioria das escolas relata subutilização de equipamentos, seja por falta de conhecimento técnico do professor para orientar alunos, seja porque
as máquinas estão danificadas
ou são insuficientes. Até professores com pós-graduação se
dizem despreparados para usar
a informática no ensino.
Grande parte dos professores não tem computador em
casa, o que os distancia ainda
mais da tecnologia. Essa pouca
familiaridade com o computador é relatada por Maria Aparecida Silvestre, diretora da escola estadual Maria Socorro
Aragão, de Monteiro (PB).
Sua escola recebeu do governo federal um laboratório com
20 computadores no ano passado, mas eles estão sem uso
porque não chegou a antena
para a conexão à internet.
""Várias escolas têm computadores novinhos e praticamente sem uso porque os professores não sabem usá-los como ferramentas de ensino. Sou
professora, com pós-graduação
em língua portuguesa, e enfrento essa dificuldade. O pouco que sei, aprendi de curiosa,
de ficar mexendo na internet",
diz Dilma Santos, presidente
do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação da região de Almenara (MG).
A segunda causa da baixa utilização é a falta de manutenção
das máquinas ou de adaptação
dos imóveis para abrigar os
equipamentos. Até escolas feitas para servirem de modelo
sofrem com o problema.
Em Irecê, no sertão baiano, o
Colégio Modelo Luiz Eduardo
Magalhães, com 1.400 alunos,
recebeu 21 computadores em
1999. A diretora, Gilma Flávia,
afirma que os professores fizeram capacitação, mas isso pouco adiantou porque ""os computadores viraram dinossauros".
O laboratório está fechado desde o final do ano passado.
Em Dias D'Avila, município a
50 km de Salvador, o laboratório da escola estadual Edilson
Souto Freire está fechado porque a rede elétrica não suportaria o uso. ""De 2007 para cá, não
fez diferença ter ou não o laboratório, porque ele fica permanentemente fechado", afirma o
vice-diretor Dênis Barros.
A manutenção é falha também nas regiões ricas, como em
Valinhos (SP), onde os 15 computadores da escola municipal
Franco Montoro -doados por
uma multinacional- estão
quebrados. O secretário de
Educação, Zeno Ruedel, admite que a manutenção não chega
com a velocidade necessária, e
que os cursos para capacitação
dos professores existem ""em
grau muito pequeno".
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