São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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VIOLÊNCIA
Alunos dizem usar armas para "impor respeito"
Gangues ameaçam escolas em Ribeirão

ALESSANDRO BRAGHETO
ALESSANDRO SILVA
da Folha Ribeirão

Gangues de jovens, com idades entre 13 e 19 anos, dominam as escolas da zona norte de Ribeirão, a região mais violenta da cidade. No lugar de livros e cadernos, levam drogas e armas para as salas de aulas, ameaçando a segurança de alunos, professores e diretores.
Anteontem à noite, um dia depois de um aluno ter sido assassinado dentro de uma unidade de ensino, a Folha esteve em cinco das seis escolas que funcionam à noite na zona norte e encontrou esse cenário. Uma unidade da zona oeste também foi visitada.
Segundo as autoridades, os traficantes são os principais responsáveis por essa estrutura paralela ao controle dos professores, infiltrando drogas e até pistolas entre alunos de escolas da periferia.
Para a antropóloga Alba Zaluar, da Uerj (Universidade do Rio de Janeiro), as turmas de ruas têm se transformado em quadrilhas, não só pela facilidade de se obter armas, mas também pela busca do que consideram viril.
O adolescente Jair Galasso Filho, 17, foi a última vítima dessa violência. Morreu, executado a tiros por outro adolescente, de 13 anos, na quadra de esportes do colégio Rafael Leme Franco, no Jardim Antártica, zona oeste, na segunda.
"Entrei armado com uma pistola. Fiz isso para impor respeito", disse à Folha L.C., 16, que estuda na 5ª série da escola estadual João Palma Guião.
A adolescente C.A.C., 16, diz que resolveu ingressar em uma turma porque não suportava mais "a banca que os outros colocam sobre os mais fracos".
"Tive um amigo que teve de se armar depois de uma briga", afirma a garota, aluna de uma escola no bairro Quintino Facci. O garoto acabou denunciado e detido.
Segundo estudantes, nos corredores dos colégios, já é possível comprar de droga a arma.
A insegurança chega aos diretores, que são obrigados a tomarem atitudes extremas, como Sueli Aparecida Bocardo, vice-diretora da escola Walter Paiva. Ela pediu licença de seu cargo por estar sendo ameaçada de morte.
"O maior problema nas escolas não é somente caso de polícia, mas da sociedade", afirma o major Otávio Ferreira Pedroso Filho, coordenador da Polícia Militar em Ribeirão Preto.


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