São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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ABASTECIMENTO
Barragem de Tapacurá, que fornece 50% da água consumida na cidade, está com 3,5% da capacidade
Recife adota racionamento de nove dias

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

O racionamento de água em Recife (PE) vai ser ampliado na próxima semana. A partir de segunda-feira, 41 bairros da cidade só serão abastecidos 24 horas a cada dez dias -o equivalente a apenas três dias por mês.
A medida vai afetar pelo menos 200 mil pessoas da zona oeste e parte da zona sul da capital pernambucana -incluindo áreas nobres como o bairro de Boa Viagem.
Segundo a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), o número de consumidores prejudicados só não será três vezes maior devido à existência de 2.400 poços particulares perfurados em prédios e condomínios.
No restante da região metropolitana, composta por 13 municípios onde moram 3 milhões de pessoas, o esquema não será modificado. A água continuará a ser fornecida 20 horas a cada cinco dias.
A decisão de alterar o calendário de racionamento foi tomada devido à continuidade da estiagem e à ameaça de colapso total na região.
A barragem de Tapacurá, que fornece 50% da água consumida em Recife, está com apenas 3,5% de sua capacidade de armazenamento, que é de 94 milhões de metros cúbicos. Cada metro cúbico equivale a mil litros.
Segundo o presidente da Compesa, Gustavo Sampaio, o novo esquema afasta o risco de desabastecimento completo por cerca de 40 dias. Novos ajustes só serão feitos caso não chova nesse período.
De acordo com Sampaio, 36 carros-pipa da companhia vão reforçar o abastecimento em hospitais, escolas e creches situadas nas áreas mais críticas da cidade.
No interior do Estado, a crise provocada pela estiagem é ainda maior. Em 32 dos 185 municípios pernambucanos o sistema de abastecimento entrou em colapso.
Os cerca de 1 milhão de moradores dessas localidades dependem de carros-pipa para receber água. Além da Compesa, o Exército e a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) estão distribuindo água.
Trens com vagões-tanque trazem para Recife água de dois poços da Petrobrás perfurados no município de Cabo de Santo Agostinho, a 33 km da capital.
Navios que atracam no porto da cidade também estão colaborando e doando água que buscam em outros Estados -normalmente 100 mil litros por viagem.
Sampaio calcula em R$ 2,5 bilhões o valor dos investimentos que deveriam ser realizados no Estado para normalizar o fornecimento e acabar com o racionamento em Pernambuco.
"A situação na região metropolitana, hoje, é resultado da falta de obras nos últimos 13 anos", disse. A última grande obra realizada foi a barragem de Botafogo, em 86.
Com a falta de investimento, o atual sistema de distribuição da Compesa é capaz de fornecer, no máximo, 10 mil litros por segundo ao Grande Recife. A necessidade, no entanto, é de 14 mil litros.
Como medida de emergência, o governo do Estado pretende inaugurar nos próximos quatro meses três obras que, segundo Sampaio, deverão aumentar em cerca de 2.000 litros por segundo o fornecimento para a região.


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