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VIOLÊNCIA
Crime organizado continua atuando em áreas beneficiadas por programa social da Prefeitura do Rio de Janeiro
Tráfico desafia governo e fica em favelas
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
O Favela Bairro, que a Prefeitura
do Rio de Janeiro anuncia como o
maior projeto social do mundo,
não eliminou a presença das quadrilhas de traficantes. O projeto é
recomendado pelo BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) para aplicação em áreas
carentes de países do Terceiro
Mundo.
O banco financiou a primeira
fase do Favela Bairro e, no último
mês de março, fechou contrato
com a prefeitura para uma nova
etapa de obras. A implantação do
Favela Bairro consumiu cerca de
US$ 300 milhões, em iniciativas
que afetaram 76 mil pessoas.
Outras obras, que estão em mais
46 favelas, devem ser inauguradas
até o final do ano pelo prefeito
Luiz Paulo Conde, que tenta a reeleição. Esse pacote inclui áreas onde moram 221 mil pessoas.
A Folha constatou a ação do tráfico, inclusive com a permanência
de grupos altamente armados, em
pelo menos 20 das 27 favelas onde
a prefeitura informa ter finalizado
as obras.
Nas favelas onde não há tráfico
(Quinta do Caju, Floresta da Barra da Tijuca, Canal das Taxas, Parque Conquista, Praia da Rosa,
Inácio Dias e Agrícola), essa era
uma situação já existente antes do
projeto.
O Favela Bairro, que tem o objetivo de integrar as favelas à cidade
por meio de ações urbanísticas e
sociais, é visto como "um instrumento sério, forte, decisivo" para
o controle do tráfico, segundo o
prefeito Luiz Paulo Conde.
Ele afirma que melhores resultados no combate às quadrilhas
de traficantes dependem da integração de várias ações e principalmente de um investimento maior
no policiamento.
Nas 27 favelas onde o projeto
terminou, ainda são restritas as
ações para geração de emprego,
outro dos objetivos do programa.
De nove cooperativas organizadas pela Secretaria Municipal do
Trabalho, só duas estão nessas favelas. De 27 salas para cursos de
informática, 12 estão nelas. As demais cooperativas e salas estão em
outras favelas, nas quais as obras
ainda continuam.
Onde o projeto terminou, a prefeitura privilegiou as ações urbanísticas, ou seja, obras de saneamento, rede de água, iluminação
pública, contenção de encostas,
reflorestamento, calçamento e
construção de ruas, praças, áreas
de lazer e práticas esportivas.
As mudanças urbanísticas, que
a prefeitura considera como indutoras das transformações socioeconômicas nas favelas, são
elogiadas por moradores de áreas
como o Parque Royal, onde os
efeitos que causaram são visíveis.
Mas também sofrem críticas em
favelas, como o Borel, por problemas de execução e pela qualidade
do material empregado.
Traficantes
Por coincidência ou não, o Borel, na Tijuca (zona norte), é uma
das favelas onde os traficantes
mantêm presença ostensiva, agindo como força paramilitar. Já no
Parque Royal, na Ilha do Governador, na zona norte, a ação dos
traficantes passou a ser discreta.
A avaliação de que a presença
das quadrilhas de traficantes ainda é forte nas áreas do Favela Bairro é compartilhada pelo comandante da Guarda Municipal, Paulo Cesar Amendola, responsável
pela estratégia de segurança do
projeto. Mas ele enfatiza que o
projeto deu resultados "fantásticos" onde a ação dos traficantes
deixou de ser ostensiva.
Amendola diz que determinou
uma investigação por meio de
agentes da Guarda Municipal sobre o poderio das quadrilhas.
A investigação, ainda não concluída, foi iniciada depois que a
Folha noticiou, em abril, que a
Polícia Militar montou uma operação para garantir a continuidade das obras do projeto na Chácara Del Castilho (zona oeste).
Na ocasião, operários estavam
sendo ameaçados pelos traficantes locais, que queriam impedir a
construção de uma nova rua.
No início deste mês, tiroteios
entre traficantes paralisaram as
obras do Favela Bairro no morro
dos Prazeres, em Santa Teresa (região central). Engenheiros e arquitetos relataram que já haviam
sido ameaçados em pelo menos
três ocasiões anteriores.
O grupo que tentou invadir o
morro dos Prazeres tinha entre
seus membros traficantes que vieram da favela da Serrinha, em
Madureira (zona norte).
A Serrinha é um dos lugares onde foi iniciado um programa de
geração de renda, com uma cooperativa de costureiras, mas a experiência não teve continuidade.
Para Alba Zaluar, uma das principais estudiosas das favelas e comunidades pobres do Rio, o tráfico permanece porque falta uma
ação conjunta dos vários níveis de
governo e da sociedade. "O Favela
Bairro é muito bom, tem que ser
feito, mas é insuficiente", afirma.
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