São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Advogado de brasileiro acusado de matar estudante nos EUA diz que seu cliente vai se declarar inocente

Defesa nega confissão de assassinato

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A estudante norte-americana de 13 anos assassinada na última sexta nos EUA morreu estrangulada enquanto fazia sexo com o brasileiro Saul dos Reis Jr., 25, afirmou ontem a polícia de Danbury (Estado de Connecticut). Os dois estavam no carro dele no estacionamento de um shopping.
Segundo o promotor-geral que cuida do caso, John Danaher, Reis teria confessado o estrangulamento acidental à polícia e deve ser acusado de assassinato nos próximos dias. O advogado do brasileiro, Harold Pickerstein, disse que seu cliente vai se declarar inocente das acusações.
"Danaher teria agido muito melhor se tivesse ficado calado", disse Pickerstein, que foi apontado para a defesa por um juiz federal. "É inapropriado discutir evidências num caso em que nem sequer houve indiciamento até agora." De acordo com o advogado, o brasileiro não confessou o crime.
Segundo relatório do comissário Robert Paquette, da polícia local, a estudante Christina Long teria trocado e-mails "pornográficos" e se encontrado pelo menos uma vez antes de sexta com Reis e havia feito o mesmo com outros homens maiores de idade, que corriam o risco de serem presos até a conclusão desta edição.
Na noite do último domingo, o brasileiro foi detido na cidade de Greenwich, onde morava, acusado de usar a Internet para tentar seduzir sexualmente uma menor, um crime federal. Durante interrogatório, sempre de acordo com Danaher, teria confessado o assassinato e levado o FBI ao corpo.
Saul dos Reis está preso em Bridgeport (Connecticut) e terá audiência para definir sua fiança nesta sexta-feira. O Consulado Brasileiro em Nova York disse ter destacado um funcionário para acompanhar o caso.
De acordo com os investigadores do caso, Christina vivia uma "vida dupla". Estudava no colégio católico St. Peter's, era líder de torcida e ajudava na celebração das missas matinais. Fora da escola, mantinha um site em que assinava "sxyme4utosee" e marcava encontros com homens que várias vezes terminavam em sexo.
"Ela era esperta", disse sua ex-professora de inglês, Andrea Cappiello. "Mas tinha um lado ingênuo também." Loira, de olhos azuis, 1,60m e 56 quilos, Christina não declarava a idade na página. A menina morava com a tia havia dois anos, depois de ter sido retirada pela Justiça da custódia dos pais, ambos com problemas com álcool e drogas.
A polícia chegou a Saul dos Reis após ter recebido a queixa da tia na sexta à noite de que sua sobrinha não tinha voltado de um passeio no shopping local. No computador da estudante havia mensagens sobre o encontro.
O brasileiro usaria o apelido "Hot es300", modelo de um carro, e sua conta no servidor AOL estava em nome da mãe, Silviani Arruda. Preso, Reis teria confessado que fez sexo com a menina mais de uma vez e que se correspondia com ela. Depois, deu informações que levaram a polícia até o terreno onde o corpo foi encontrado, na periferia de Greenwich.
O brasileiro está nos EUA há 9 anos, para onde veio com um visto de turista hoje já vencido. Sem antecedentes criminais, formou-se em 1997 no equivalente do segundo grau e estava casado há dois anos com Tatiana, também brasileira, que se recupera de um câncer. Os dois não têm filhos.
Reis trabalhava como garçom no restaurante Café Brasil, do sogro, na periferia de Nova York. O apartamento do casal fica numa rua calma de Greenwich. Na porta estão os dizeres "Deus abençoe a América".
O caso, revelado ontem no Brasil pela Folha, ganhou a primeira página do "The New York Post" e de seu concorrente, o "Daily News", os dois principais jornais tablóides nova-iorquinos. Reaqueceu também nas emissoras de TVs o debate sobre o assédio sexual que menores sofrem quando estão navegando na Internet e apressou até aprovação de lei no Congresso dos EUA.



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