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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Força-tarefa vai investigar empresários que usam terceiros para escapar de ações na Justiça; mais um sindicalista foi preso

PF fará devassa em viações de "laranjas"

PALOMA COTES
ALENCAR IZIDORO

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal fará a partir de hoje uma devassa em empresas de ônibus de São Paulo que estariam em nome de "laranjas".
Depoimentos de ex-sindicalistas e denúncias de trabalhadores de viações que operam na cidade já envolvem seis delas no esquema, que visaria proteger os verdadeiros proprietários de dívidas e ações criminais. Com as investigações de hoje, a PF diz acreditar que novos casos surgirão.
A identidade dos denunciantes -que costumam depor durante a madrugada- e os nomes das viações são mantidos sob sigilo.
"Essas empresas pertencentes a funcionários fantasmas compõem mais de 90% das que estão na cidade. Faremos um levantamento, a checagem e a identificação de todas", afirmou Nivaldo Bernardi, delegado da PF que cuida do inquérito com denúncias sobre as relações de diretores do sindicato dos motoristas e cobradores com empresários do setor.
Uma das denúncias sobre as empresas "laranjas" chegou ontem à PF. Um motorista descobriu que a viação onde trabalhava está registrada no nome dele.
"São inúmeras as informações que estão chegando. O que mais impressiona, além desse esquema, é a realização de greves em conluio com os empresários", afirmou Bernardi. Na próxima semana, empresários envolvidos e denunciados serão chamados para depor. "Daremos uma atenção especial ao Transurb [sindicato patronal, que voltou a informar ontem que não se manifestaria]."
O empresário de ônibus Leonardo Lassi Capuano é um dos que serão investigados. Conforme já publicou a Folha, ele "vendeu" suas três viações paulistanas a "laranjas" em novembro de 2002. A Cidade Tiradentes foi vendida a um estelionatário e a um eletricista que já havia morrido. A Ibirapuera e a Santo Amaro foram repassadas a um ex-funcionário dele que morava em Carapicuíba (Grande SP) em uma rua sem asfalto e com esgoto a céu aberto.
A Folha também já revelou a história de uma cobradora de ônibus que descobriu que não tinha direito ao FGTS porque seu nome constava como diretora da empresa onde trabalhava.

Denúncia
Ontem, a PF disponibilizou um disque-denúncia para receber informações sobre esquemas de propinas ligado ao transporte. O telefone (0/xx/11) 3616-5211 vai funcionar das 8h às 18h.
Os delegados envolvidos no caso também pediram um reforço à PF de Brasília por causa da quantidade de informações. Bernardi requisitou a vinda de seis agentes, dois delegados e dois escrivães e disse que, em razão do excesso de trabalho, "não é fácil pedir a prisão preventiva para todos".
"Não estamos dando conta. É muita coisa. Esperamos encerrar o inquérito em 90 dias", disse. Até o final da semana, deverão ser pedidas as prisões temporárias dos sindicalistas presos.
Mais um diretor do sindicato, com prisão decretada, entregou-se ontem. Paulo Cesar Barbosa, o Paulão, disse "com ironia", segundo Bernardi, que desconhece qualquer esquema de propina entre empresários e sindicalistas. Ontem, a PF também começou a ouvir os depoimentos formais dos 14 sindicalistas presos nesta semana, entre eles o presidente, Edivaldo Santiago.
Durante toda a tarde, o sindicalista e secretário de Finanças do sindicato, Gerson da Silva Machado, o Fubá, prestou depoimento. Na terça, quando se entregou, ele confirmou a existência de um esquema de repasse de dinheiro dos planos de saúde -pagos pelas viações- ao sindicato.
Dois sindicalistas, no entanto, continuam foragidos: José Valdevan de Jesus (Noventa) e José Domingos da Silva (Dominguinhos). O 17º da lista que havia sido divulgada no começo da semana pela PF é Severino Teotônio do Nascimento, o Titonho. Mas ele já está preso em Guarulhos desde julho de 2002. É acusado de três homicídios, um deles de Maurício Alves Cordeiro, presidente do sindicato dos condutores do município.
Segundo a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, Titonho listou Edivaldo Santiago entre os autorizados para visitas. Santiago foi citado como "primo" de Titonho, mas nunca o visitou. Anteontem, a polícia apresentou uma carta que mostraria uma relação de amizade entre o sindicalista e o preso. Para os delegados da PF, existe a possibilidade de Santiago estar envolvido nesse e em outros homicídios.


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