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CIRURGIA FISCAL
Com dívida acumulada de R$ 50 milhões, o pronto-socorro reduziu pela metade o número de atendimentos
Crise esvazia o maior hospital da zona leste
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cadeiras vazias na entrada do
pronto-socorro do hospital filantrópico Santa Marcelina, o maior
da zona leste de São Paulo, mostram os efeitos da crise pela qual
passa a entidade. O setor, que recebia cerca de 24 mil pessoas por
mês, reduziu o número pela metade após restringir o atendimento, em dezembro do ano passado,
devido à falta de verbas.
Com um déficit mensal de R$
1,5 milhão e uma dívida acumulada de R$ 50 milhões, o hospital é a
unidade filantrópica (sem fins lucrativos) em situação financeira
mais grave no Estado. Cartazes
espalhados pelo local explicam a
mudança aos pacientes. "O Hospital Santa Marcelina só atenderá
em caso de urgência/emergência
por falta de recursos", diz o aviso.
Na ortopedia, as mais de 50 cadeiras da recepção, que antes não
comportavam a demanda do setor, eram mais que suficientes para abrigar a meia dúzia de pessoas
que aguardavam atendimento na
manhã da última sexta-feira.
No mês passado, com o agravamento da crise, o hospital desativou o serviço de fisioterapia, pois
custava cinco vezes mais que a receita gerada. O serviço atendia
cerca de 2.500 pessoas mensalmente. A estrutura de dez salas
agora vai abrigar um setor de ortopedia para pacientes que têm
planos de saúde.
A crise financeira que atinge os
2.100 hospitais filantrópicos e
Santas Casas no Brasil terá mais
um capítulo nesta semana quando representantes do Ministério
da Saúde se reúnem com membros da Confederação das Santas
Casas de Misericórdia, Hospitais
e Entidades Filantrópicas e representantes das entidades para discutir o financiamento do sistema.
O ministério quer investir na
contratualização, mecanismo no
qual são fixadas metas qualitativas e quantitativas que os hospitais se comprometem a atingir e
recebem um valor fixo mensal
por isso. Para a confederação, o
sistema é interessante.
No último encontro, em abril, a
confederação propôs ao ministério um reajuste emergencial no
Integrasus (programa de incentivo a hospitais filantrópicos) e nos
valores fixados em tabelas pelos
procedimentos, concessão de financiamento pelo BNDES com
taxas subsidiadas de até 6% ao
ano e renegociação dos débitos
previdenciários dos hospitais.
Sem reajuste
De acordo com o presidente da
confederação, Antônio Brito, há
seis anos a tabela não sofre um
reajuste que acompanhe o crescimento da inflação. Alguns valores
estão tão defasados que mesmo
um aumento de 100% seria insuficiente. Um exemplo é o valor pago pelo SUS para a realização de
uma parto normal, R$ 291,15. Segundo a confederação, o procedimento custa R$ 724,20, e os convênios pagam R$ 1.800.
Para o presidente da Federação
das Santas Casas de Misericórdia,
Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado de São Paulo, José
Reinaldo Nogueira Júnior, a falta
de reajuste contradiz a Constituição Federal. "A Constituição garante o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos." Segundo
ele, a federação pensa em ir à Justiça, caso não haja avanço na negociação com o ministério.
Para sair do vermelho e continuar funcionando, o Santa Marcelina pretende destinar 30% de
sua capacidade a pacientes particulares e de convênio. Hoje, eles
representam 15% dos atendimentos. No entanto, para a diretora
técnica do hospital, irmã Giuseppina Raineri, a solução do problema é outra. "A chave do problema
é a remuneração justa do serviço
que se faz", declarou.
Para ser classificado como hospital filantrópico, a unidade deve
destinar 60% de seus atendimento a pacientes do SUS. Segundo
Brito, nem todos os hospitais conseguiriam atrair pacientes de convênios médicos para completar o
restante do atendimento. "Em
56% dos municípios brasileiros,
as Santas Casas e hospitais filantrópicos são o único serviço de
atendimento pelo SUS".
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