São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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Especialistas criticam idéia higienista

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

"É interessante observar como a idéia de higiene (ou sua falta) alicerça os argumentos dos defensores da internação do senhor Manoel. Eles ecoam e atualizam a noção higienista que esteve na base da criação dos primeiros hospitais psiquiátricos brasileiros, em meados do século 19", afirma Elisabeth Arouca, 45, diretora do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo e ativista da ONG antimanicomial SOS Saúde Mental, Ecologia e Cultura.
Segundo a psicóloga, limpar as ruas dos mendigos, das prostitutas, dos negros, mais do que cuidar da saúde, foi a atribuição principal de hospícios como o Sanatório Pinel de Pirituba, criado por Antonio Pacheco e Silva em 1929 para eliminar os "detritos da civilização", em mais uma definição de matriz higienista.
"Essa história do senhor Manoel mostra como o discurso da profilaxia do meio urbano ainda é atual", diz Elisabeth. Acaba justificando o seqüestro de um cidadão que mora nas ruas, seguido pela internação contra sua vontade, algo que, já se viu em muitas oportunidades, pode transformar-se em uma espécie de prisão perpétua decidida por médicos que se arvoram em juízes, sem a presença de advogados ou testemunhas.
Na opinião de Elisabeth, Manoel Menezes da Silva é o bode expiatório que comprova a violência interna que preside a existência de um paraíso artificial como o da praça Pereira Coutinho. "Como manter afastada a pobreza, sem o recurso à violência?"

Difícil conquista
O psiquiatra Pedro Carneiro critica também a forma de abordagem escolhida pela Secretaria do Desenvolvimento Social, no caso de Manoel Menezes da Silva: "Se há a suspeita de que ele sofra de algum transtorno psíquico, abordá-lo com a polícia não poderia ser mais danoso. Primeiro, é abuso de poder. A rua é pública, as pessoas não podem ser cerceadas em seu trânsito livre. Segundo, para um morador de rua, cada centímetro de chão que ele ocupa é duramente conquistado. Retirá-lo do espaço que ele considera seu, sua moradia, pode agudizar o problema." (LC e MB)


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