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Especialistas criticam idéia higienista
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
"É interessante observar como
a idéia de higiene (ou sua falta)
alicerça os argumentos dos defensores da internação do senhor
Manoel. Eles ecoam e atualizam a
noção higienista que esteve na base da criação dos primeiros hospitais psiquiátricos brasileiros, em
meados do século 19", afirma Elisabeth Arouca, 45, diretora do
Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo e ativista da ONG
antimanicomial SOS Saúde Mental, Ecologia e Cultura.
Segundo a psicóloga, limpar as
ruas dos mendigos, das prostitutas, dos negros, mais do que cuidar da saúde, foi a atribuição
principal de hospícios como o Sanatório Pinel de Pirituba, criado
por Antonio Pacheco e Silva em
1929 para eliminar os "detritos da
civilização", em mais uma definição de matriz higienista.
"Essa história do senhor Manoel mostra como o discurso da
profilaxia do meio urbano ainda é
atual", diz Elisabeth. Acaba justificando o seqüestro de um
cidadão que mora nas ruas, seguido pela internação contra sua
vontade, algo que, já se viu em
muitas oportunidades, pode
transformar-se em uma espécie
de prisão perpétua decidida por
médicos que se arvoram em juízes, sem a presença de advogados
ou testemunhas.
Na opinião de Elisabeth, Manoel Menezes da Silva é o bode expiatório que comprova a violência interna que preside a existência de um paraíso artificial como o
da praça Pereira Coutinho. "Como manter afastada a pobreza,
sem o recurso à violência?"
Difícil conquista
O psiquiatra Pedro Carneiro critica também a forma de abordagem escolhida pela Secretaria do
Desenvolvimento Social, no caso
de Manoel Menezes da Silva: "Se
há a suspeita de que ele sofra de
algum transtorno psíquico, abordá-lo com a polícia não poderia
ser mais danoso. Primeiro, é abuso de poder. A rua é pública, as
pessoas não podem ser cerceadas
em seu trânsito livre. Segundo,
para um morador de rua, cada
centímetro de chão que ele ocupa
é duramente conquistado. Retirá-lo do espaço que ele considera
seu, sua moradia, pode agudizar o
problema."
(LC e MB)
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