São Paulo, sábado, 22 de maio de 2010

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PM suspeito de chefiar extermínios é preso

No mesmo dia, corregedor-geral da PM é afastado; substituto terá de pôr "freio" nos casos de violência envolvendo PMs

Suspeita é que o policial preso tenha comandado ação de PMs em 11 mortes; comando da corporação não se manifesta sobre a prisão

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, no mesmo dia em que a Polícia Civil de São Paulo prendeu um policial militar suspeito de chefiar um grupo de extermínio, o Comando-Geral da PM trocou a chefia da corregedoria (órgão fiscalizador) da corporação por suposta falta de uma ação mais efetiva.
Oficialmente, comando da PM e Secretaria da Segurança Pública sustentam que a saída do coronel David Rosolen servirá para "dar novo direcionamento à corregedoria". Hoje, uma série de remanejamentos (cerca de cem, envolvendo patentes que vão de tenentes a coronéis) dentro da PM serão publicadas no "Diário Oficial".
Rosolen será substituído pelo também coronel Admir Gervásio Moreira, ex-chefe do Comando de Policiamento Metropolitano. Rosolen não foi localizado ontem pela Folha.
A ordem do Comando da PM para Moreira é para que ele coloque "freio" nos casos de violência envolvendo PMs.
A saída de Rosolen foi impulsionada pela morte dos motoboys Alexandre Santos, 25, e Eduardo Luís dos Santos, 30, e também do camelô Roberto Marcel Ramiro dos Santos, 22.
Alexandre foi estrangulado por quatro PMs da zona sul de SP; Eduardo foi torturado dentro de um quartel da PM na zona norte; e Roberto foi morto com mais de dez tiros.
Dezenove dias antes de Roberto ser morto, ele e sua mãe, Janete Rodrigues, foram ameaçados de morte pelo PM Valdez Gonçalves dos Santos, 36, do 21º Batalhão, na zona leste.
Na manhã de ontem, por ordem do juiz Daniel Ovalle da Silva Souza, do 1º Tribunal do Júri, o PM Valdez foi preso temporariamente -por 30 dias. O pedido de prisão partiu do DHPP (departamento de homicídios), da Polícia Civil. Até então, a Corregedoria da PM não tinha feito quase nada contra o PM Valdez.

Grupo de extermínio
As investigações do DHPP apontam que o PM Valdez e outros cinco policiais da Força Tática (espécie de tropa de elite) do 21º Batalhão são suspeitos de participar da morte de ao menos 11 pessoas em sete bairros da zona leste. O caso foi revelado no domingo pela Folha.
A suspeita é que PMs se uniram para fazer uma "limpeza" nos bairros -o alvo do grupo seriam os usuários de drogas. A hipótese é que as mortes tenham sido cometidas para que o grupo assuma o comando da venda de drogas da região.
Também pesou na troca do comando da Corregedoria da PM o fato de o DHPP ter descoberto fortes indícios da participação de PMs em cerca de 40 homicídios ocorridos na zona norte. Dois delegados que investigavam esses casos foram ameaçados de morte.
A reportagem não localizou o advogado de defesa do PM Valdez. O Comando da PM não se manifestou sobre sua prisão.
Na terça-feira, ao falar sobre as mortes na zona leste, o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, afirmou ser "maldade" dizer que há um grupo de extermínio formado por policiais militares.


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