São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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ANÁLISE

Projetos devem ser democráticos e expressar a nossa época

FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cidade é uma construção coletiva e espelha nas obras públicas e privadas os anseios da sociedade. Imaginando que seria desejável construir um ambiente urbano democrático, é interessante que a arquitetura expresse nossa época.
Não se trata de alardear um único estilo, que não reflita a diversidade. Diferente do período moderno, cuja arquitetura tinha códigos linguísticos precisos, o pensamento arquitetônico atual permite a convivência de correntes variadas.
Porém, não se admite no saber arquitetônico erudito a adoção sem critério do vocabulário de línguas mortas.
Fazendo um paralelo com a polêmica em voga, tal como a cartilha que reza que a língua falada pode desobedecer a norma culta, ninguém vai preso por construir, projetar ou morar em prédios sem compromisso com a construção coletiva; mas não é difícil imaginar por que dinheiro e poder às vezes são associados à ignorância arquitetônica (um lembrete: o prédio onde está o apartamento de R$ 6,5 milhões do ministro tem estilo neoclássico).
A mudança que está ocorrendo no mercado imobiliário paulistano é apenas um bom indício: na maioria das vezes, os novos prédios trocaram a roupagem neoclássica para linhas retas (muitas vezes feitas pelos mesmos "estilistas").
Arquitetura não é moda.
Não é juízo de valor: a questão é a permanência. Afinal de contas, enquanto calças boca de sino vão para o brechó, prédios permanecem décadas visíveis.
Por isso, arquitetura com qualidade é mais do que uma fachada reta: deve ter o compromisso com a construção do bem comum.
Mas como podemos identificar um projeto assim? Por exemplo, naqueles com gentilezas urbanas (que aumentam as calçadas, por exemplo) e que investem em tecnologia (desenvolvem a indústria do país).
O ápice serão os casos de vanguarda, que avançam na pesquisa de expressões e colaboram com a formação da identidade cultural do país.
Alguns poucos empreendedores -de pequeno e grande porte- perceberam essa diferença: além de ganhar dinheiro e pensar nos lucros estão contribuindo na construção de uma cidade melhor.
E, ao que parece, parte dos clientes também.

FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito"


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