São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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PÂNICO NO AR

Uma hora após deixar SP, piloto de Boeing com 160 passageiros é obrigado a retornar devido a problema em turbina

Avião sofre pane e faz pouso de emergência

Aloísio Maurício/Folha Imagem
Boeing 767-300 da United Airlines no aeroporto de Guarulhos (SP) logo após o pouso de emergência, na madrugada de ontem


PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Boeing 767-300 da United Airlines, prefixo N649, com 160 passageiros e 13 tripulantes, fez um pouso de emergência à 0h48 de ontem, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, de onde havia saído uma hora e 11 minutos antes.
Com problemas na turbina direita da aeronave, o comandante Don Mccrary saiu de sua rota e foi para Santos, litoral sul de São Paulo, onde despejou parte do combustível em alto-mar, numa estratégia para diminuir o peso do avião e dar mais segurança na hora da aterrissagem.
Temendo que o avião fizesse um pouso forçado nas rodovias Presidente Dutra e Ayrton Senna, a Polícia Rodoviária Federal chegou a ficar em alerta para fechar as duas estradas.
No final da operação, o avião pousou sob aplauso dos passageiros. Para muitos, o comandante foi um herói (leia na pág. C3).
A assessoria da United Airlines informou que o pouso forçado foi feito depois de constatada a ruptura de um selo que impede o vazamento de óleo no motor.
O rompimento do selo fez com que óleo quente vazasse para o motor, segundos depois da decolagem do avião, às 23h37. O contato do óleo quente com o motor provocou uma faísca que assustou os passageiros da aeronave, que chegaram a pensar que o avião iria pegar fogo. A turbina direita foi desligada automaticamente e o avião voou apenas com a turbina esquerda ligada.
Mas essa foi, na realidade, a terceira falha mecânica registrada no mesmo vôo. Segundo técnicos, elas não estavam relacionadas.
Com capacidade para 277 passageiros, o vôo 988 saiu do Rio de Janeiro com destino a Nova York e escala em São Paulo. Já no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, depois de uma inspeção, foi detectado um problema no sistema de comunicação via satélite da aeronave.
Após o conserto, o vôo, que deveria decolar às 18h35, saiu às 19h07. Ao chegar a São Paulo, às 20h20, foi feita uma nova inspeção de rotina, constatando um problema no sistema hidráulico central da aeronave. Os passageiros tiveram de descer e esperaram mais de duas horas pelo conserto.
Após decolar de São Paulo, os passageiros puderam ver, pelas janelas, o clarão provocado pela faísca. Houve pânico. Alguns dos 160 passageiros gritaram. Um grupo de 42 judeus que ía a um encontro religioso nos EUA começou a rezar em hebraico.
"O pavor que tomou conta de nós foi muito grande. Nem contamos o tempo que ficamos voando. Só queríamos descer logo", afirmou Paulo Simon, 48, que fazia parte da comitiva.
Durante o pouso de emergência nenhum dos passageiros ficou ferido, mas duas mulheres, bastante abaladas, receberam atendimento médico. Todos foram encaminhados a hotéis próximos ao aeroporto de Guarulhos.
Cinquenta e um passageiros embarcaram ontem, pela manhã, no vôo 8420 da TAM, que saiu às 10h45. Outros 80, segundo a United Airlines, iriam viajar, pela companhia, em um avião que sairia às 21h15, com destino a Nova York. Os desistentes podem pedir ressarcimento da passagem.
Segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), a operação para o pouso do Boeing da United Airlines, em Guarulhos, não afetou as operações do aeroporto.
Decolagens e pousos foram feitos normalmente, e o acidente não provocou atrasos nos vôos das outras companhias.
Segundo a assessoria de imprensa da United Airlines, os técnicos da companhia não se pronunciariam sobre o caso por estarem ocupados no conserto da aeronave e na manutenção de uma outra, que faria a mesma rota São Paulo-Nova York ontem à noite.
Para um técnico que trabalhava na hora do acidente no aeroporto e que não quis se identificar, o problema mais grave ocorreu no sistema hidráulico central, que controla o trem de pouso e superfícies de comando das asas.
Esse sistema possibilita as subidas, descidas e curvas. Segundo esse técnico, a perícia do piloto evitou uma tragédia. Se ele retornasse a Guarulhos logo após o incidente, sem jogar fora parte do combustível, o trem de pouso e outras estruturas da aeronave poderiam ter sido danificados.


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